Na Terra dos Mortos que Vivem III
UM
VÔO DE ALMA
-
Não, aqui não há ambulâncias sargento, mas eu o levarei
onde você poderá tratar de seu ferimento.
-
Jimmie virou-se para ver quem havia falado e ficou um pouco surpreso
ao ver o Irmão Maior de pé, calmo, com o leve indício de um
sorriso em seus lábios.
-
Por favor, venham comigo, vocês dois.
Ambos
seguiram-no. Jamais ocorrera a eles questionar aquela voz amável
que, apesar de toda a gentileza, parecia encerrar uma nota decisiva e
plena de autoridade.
-
Pegue a mão dele, Jimmie - disse o Irmão Maior, ao mesmo tempo que
segurava o sargento pelo outro braço. Jimmie obedeceu e ficou
impressionado ao ver como estava viajando depressa. Em poucos minutos
eles "desceram", como ele depois descreveu, e sentiu que
estavam em um campo plano, a algumas centenas de metros de uma enorme
construção em estilo grego com enormes colunas simétricas, que
terminavam em capitéis coríntios, e com uma iridiscência ou brilho
estranho cercando toda a estrutura. Jimmie não sabia, a princípio,
se realmente estava vendo isto ou não. Na verdade, ele não via isto
de uma forma contínua e o Sargento Strew, que parecia estar
acordando de um sonho, aparentemente não viu mesmo nada.
De
mãos dadas atravessaram o gramado e subiram por uma série de
degraus que circundavam a construção e que abriam caminho por entre
o que pareciam fileiras intermináveis de colunas, até que o Irmão
Maior abriu uma porta e os conduziu para dentro de uma sala,
seguindo-os.
Tendo
fechado a porta, virou-se para o Sargento Strew que estava
aparentemente desmaiando devido a perda de sangue.
-
Agora, sargento, deve desculpar-me por tê-lo feito esperar tanto
antes de tratar do seu ferimento.
Ele
abriu um pequeno armário e retirou de uma das prateleiras um
minúsculo frasco cheio de uma substância escura, quase da mesma
consistência da vaselina.
-
Agora, sargento, deste lado do véu, nós podemos obter resultados
com maior rapidez do que do lado que você acabou de sair, e vai ver
que se fizer como eu peço, seu ferimento estará totalmente curado
sem deixar nenhuma cicatriz.
Colocou-se
em frente do sargento, lambuzou seu dedo com um pouco da substância
escura e disse:
-
Por favor, sargento, fique bem imóvel e concentre sua mente na forma
que sua testa era antes de ser ferida. Pense assim e imagine que este
ferimento nunca aconteceu.
Ele
tocou a testa do sargento levemente com o dedo que ele havia
lambuzado com a substância escura. O sargento cerrou seus olhos,
contorceu seu rosto em uma expressão que para ele, era a forma
correta de quem estivesse em concentração.
O
Irmão Maior retirou sua mão e, para surpresa de Jimmie, a testa do
sargento estava tão limpa e lisa quanto a de uma criancinha. Lisa,
isto é, exceto pelas rugas produzidas por suas fantásticas
contorções faciais ao tentar obedecer o comando do Irmão Maior de
"concentrar-se".
-
Bem! Bem! - disse Jimmie.
O
Sargento Strew abriu seus olhos.
-
Seu ferimento desapareceu como se nunca tivesse existido.
-
É mesmo? - Ele tocou sua testa com cuidado e de modo inquiridor.
-
Doutor, eu tenho que cumprimentá-lo pelo trabalho. Faria uma fortuna
nos Estados Unidos. Você deve ser um mágico.
O
Irmão Maior sorriu.
-
Você é que fez isto, meu amigo. Foi sua imaginação e sua força
de vontade, não minha habilidade que o curou.
O
Sargento Strew não pareceu convencido e, furtivamente, tocou sua
testa como se em dúvida quanto a alguma mudança forjada por sua
própria imaginação, mas o ferimento estava cicatrizado e ele deu
um suspiro de alívio.
-
Ufa! - ele disse - se eu tivesse sabido como fazer isto antes! -
Virou-se para o Irmão Maior - você realmente disse que eu me curei
sozinho?
-
Exatamente. Curou-se e aquilo que eu passei em sua testa foi
simplesmente para ajudá-lo a concentrar-se. Se um dos seus braços
tivesse sido arrancado e você tivesse chegado aqui com um braço só
poderia tê-lo readquirido, tão facilmente como você foi capaz de
curar este ferimento. A matéria, deste lado do véu é
maravilhosamente sensível ao poder da vontade, e a tarefa à qual
quero introduzi-lo imediatamente é de ir ao encontro dos seus
companheiros quando morrem, acalmá-los, mostrando-lhes como curar
seus ferimentos e também como retirá-los das linhas de batalha.
Para
aqueles que morrem, a batalha está terminada e é seu dever, assim
como seu privilégio, ajudar não mais lutando, mas fazendo com que
os outros parem de lutar e comecem a mudar seus pensamentos do plano
terreno em direção ao grande futuro e às tarefas e deveres que
esta mudança encerra.
-
Mas, suponhamos que o inimigo faça um "ataque"? O que devo
fazer? Como posso ajudar a lutar?
-
Simplesmente recusando-se a lutar. Você não está mais no plano
físico onde podia ser compelido a lutar. Os alemães não podem
machucá-lo, mesmo que façam um "ataque" e o cerquem. Tudo
o que tem a fazer é cumprir ordens; ignore os alemães, a menos que
saiba falar alemão. Neste caso é seu dever ajudá-los a parar de
lutar e curar seus ferimentos, do mesmo modo que é seu dever ajudar
seus companheiros.
E
lembre-se que enquanto estiver fazendo este trabalho, estará
executando o trabalho do Mestre, e o poder e a força do Mestre estão
com você de maneira que nada pode ferí-lo. No entanto, se
desobedecer estas ordens e deixar sua raiva aparecer tentando
machucar alguém - somente assim poderá ser ferido. Em resumo -
obedeça às ordens e estará perfeitamente seguro mesmo que seu
trabalho o leve para o centro do exército alemão. Desobedeça ou
deixe suas paixões levarem-no para o ódio e a raiva, e perderá a
segurança, mesmo que esteja sozinho em uma ilha no Oceano Pacífico.
Compreendeu?
O
Irmão Maior indireitou-se como se fosse um soldado em posição de
"sentido". O sargento ficou muito impressionado e bateu
seus saltos com uma saudação, dizendo:
-
Suas ordens serão cumpridas, senhor.
-
Um momento, sargento.
O
Irmão Maior ficou parado por um momento, aparentemente pensando. Ele
estava nesta atitude há cerca de um minuto quando a porta se abriu e
um homem vestindo um uniforme de soldado canadense entrou.
-
O senhor chamou?
-
Sim. Por favor, vá com o Sargento Strew e mostre a ele como fazemos
nosso trabalho. Você não vai ser chamado para o serviço ativo
logo, sargento.
O
Irmão Maior continuou, dirigindo-se ao nosso amigo.
-
Mas os alemães estão para começar outro ataque e muitos, de ambos
os lados morrerão; e precisaremos de todos os nossos auxiliares e
muitos mais. Tenho certeza que você vai fazer o possível para
ajudá-los, influenciando-os a parar de lutar e a mudar sua atenção
para outras coisas, agora que eles estão deste lado do véu.
O
Sargento Strew e o canadense fizeram continência e saíram.
O
que aconteceu com o sargento e a maneira como foi introduzido ao
trabalho do grande grupo de auxiliares invisíveis que se empenham
com toda força para evitar um grande desastre para o mundo, Jimmie
soube depois. Sentia-se repleto de aventuras e de muitas coisas
terríveis, mas também algumas coisas quase cômicas. Mas isto não
faz parte desta narrativa.
O
Irmão Maior ficou por um momento absorto em pensamentos depois da
partida do Sargento Strew, e Jimmie ficou a observá-Io, esperando-o
falar. Depois de alguns minutos Jimmie quebrou o silêncio.
-
O senhor disse que eu tinha certos deveres, também?
-
Sim. Mas os seus são diferentes daqueles do sargento. Precisa
aprender o máximo possível, porque o seu campo de ação não será
aqui. Você vai voltar.
-
Voltar?
-
Sim. Você não foi morto, só ficou atordoado e quando chegar o
momento certo você voltará para trabalhar novamente no seu próprio
corpo no plano físico. Lá, será seu grande e elevado privilégio
contar, dentro de suas possibilidades, as coisas maravilhosas que
serão mostradas e ensinadas a você, aqui.
-
Mas, se eu não estou morto, então isto tudo não é um sonho?
Marjorie disse que eu estava morto. Será que eu só imaginei que vi
Marjorie?
-
Não. Você realmente viu Marjorie e falou com ela. Além disso, você
está aqui agora, porque não é necessário morrer para vir a este
lugar. Marjorie estava equivocada e é muito natural que assim tenha
acontecido. Na realidade, por algum tempo não tínhamos a certeza se
seria possível reintegrar seu corpo etérico com suficiente rapidez.
Mas seu trabalho é necessário na terra. Você conquistou essa
oportunidade em suas vidas anteriores e, como há muita necessidade,
foi-lhe dada ajuda especial. Nem você nem Marjorie pararam para
refletir que você não tem nenhum ferirnento.
-
É verdade - Jimmie disse - pensando bem, eu não tenho nenhum
ferimento. Não havia parado para pensar nisso antes. Mas, eu me
lembro de ter visto muitos homens mortos nos campos de batalha sem
terem qualquer ferimento.
-
Isso é verdade. Eles morreram pelo choque da explosão e isto foi
quase o que poderia tê-lo matado, isto é, expulsando seu corpo
vital do seu corpo físico, quase a ponto de romper o cordão
prateado.
Mas,
pelo fato de você ser necessário, é que recebeu uma ajuda extra,
senão estaria realmente e absolutamente morto, como você chamaria
isto. Sem dúvida, estaria deste lado do véu sem nenhuma chance de
voltar. Mas, porque em suas vidas passadas iniciou-se no Caminho, fez
o voto de servir e pelo seu trabalho ganhou a oportunidade de mais
serviço, aconteceu que, quando seu corpo etérico saiu, com a
explosão da granada, as partículas de seu corpo vital foram
preservadas de desagregação; e quando chegar o momento de você
regressar ao corpo físico, que está ainda estendido em um hospital
na linha de batalha, você será ajudado a reter na memória tudo o
que você viu e ouviu aqui, de modo que poderá trabalhar para obter
melhores resultados. Em seus sonhos, você tem fisicamente visto e
falado com Marjorie, e em muitas dessas viagens "deslizou"
com ela. Mas, desta vez foi bem diferente, e não é milagre que ela
se tivesse enganado.
-
Mas eu nunca sonhei com ela, senhor, este tem sido um dos maiores
ressentimentos de minha vida.
-
Sim! Embora nunca tenha sonhado com ela, vocês encontraram-se muitas
vezes e fizeram muitas viagens juntos, pois durante o sono geralmente
ficamos longe de nossos corpos no País do Sonho, embora poucos sejam
capazes de lembrar de suas visitas a esta terra dos mortos vivos e,
aqueles que estão começando a fazê-lo, levam, freqüentemente,
memórias distorcidas e confusas. Uma das coisas que eu espero que
aprenda logo a fazer quando voltar, é levar sua consciência com
você.
-
Quer dizer que isso pode ser feito?
-
Sim, sem dúvida. É muito mais fácil do que pode parecer e
especialmente para almas que estão bem evoluídas. Na verdade, é
uma constante indagação minha por que mais pessoas não são
capazes de fazê-lo. Você ganhou o privilégio de fazer isto durante
suas duas ou três vidas anteriores, e não será uma tarefa muito
difícil adquirir essa habilidade.
-
Minhas duas ou três vidas? O que quer dizer com isso? Quer dizer que
eu já vivi antes?
-
Exatamente.
-
Onde?
-
Na terra. E sua última vida foi passada não muito longe de onde
estamos agora, isto é, foi no sul da Europa.
-
Mas, eu sempre achei que quando morremos, morremos, e que ou vamos
para o céu ou para - o outro lugar.
-
Não! O esquema da evolução humana é muito maior e mais
maravilhoso do que isto. E porque é muito mais complexo, devido à
grande quantidade de trabalho a ser feito e ao fato de você poder
ser muito útil, é que será ajudado a voltar. Mas, primeiro, quero
que faça uma pequena viagem comigo.
Ele
fez um sinal para Jimmie segui-lo, que segurou sua mão em sinal de
obediência. Empreenderam uma rápida viagem, durante a qual Jimmie
só pôde olhar de relance as partes da terra sobre as quais
sobrevoaram e, antes que um minuto se passasse, eles encontravam-se
em uma sala pouco mobiliada, onde uma mulher estava sentada,
costurando perto de uma mesa pequena, enquanto duas crianças estavam
brincando no chão, ao seu lado. Ao costurar, lágrimas rolaram
lentamente por sua face, ela não emitia nenhum som, só
ocasionalmente olhava para a mesa onde estava uma carta aberta.
O
Irmão Maior permaneceu de pé, quieto, em um canto. Sua face grave
mostrava a compaixão que sentia, enquanto Jimmie encaminhou-se até
a mesa e examinou a carta. Era um anúncio seco, formal do governo,
informando que Henry L. E. tinha sido mortalmente ferido em combate.
Instintivamente
ele recuou em respeito à tão grande dor. Ao fazer isto, um homem em
uniforme entrou pela porta fechada e ficou lá, suas mãos esticadas
em direção à mulher, que não lhe deu nenhuma atenção. Em sua
túnica, exatamente sobre o coração, havia um pequeno buraco
redondo, e a túnica estava manchada de sangue.
-
Oh, Emma - o recém-chegado quebrou o silêncio - Emma! - ele gritou,
com um soluço em sua voz.
A
mulher não respondeu, mas pareceu um pouco agitada e ergueu sua
cabeça como se tivesse escutado um som aguardado com ansiedade. A
criança mais nova engatinhou em direção ao homem de uniforme,
balbuciando algo parecido com boas-vindas que, com alguns meses mais
de prática, poderia converter-se no familiar "Papai".
Com
um soluço a mulher pegou a criança.
-
Não, não, querido! Papai ainda não voltou. Ele ainda não voltou.
-
O bebê pode vê-lo - disse o Irmão Maior para Jimmie - mas a mulher
não, e talvez até seja melhor. Quando ela for dormir hoje à noite
- ele disse virando-se para o homem de uniforme e tocando-o no braço
- quando ela for dormir hoje à noite, ela deixará seu corpo e
ficará com você até acordar de manhã. Você vai lembrar-se, mas
ela não. Todas as noites você será capaz de se encontrar com ela e
de falar-lhe e assim vai poder ajudá-la a carregar esta provação.
Por enquanto, lembre-se que sua separação é só temporária, que
irá vê-la e estar com ela e com as crianças todas as noites quando
eles forem dormir. Afinal, sinta que sua ausência é só temporária.
Ela tem um fardo muito mais pesado para carregar.
O
homem de uniforme abaixou suas mãos.
-
Obrigado, senhor, tirou um grande peso de minha consciência.
O
Irmão Maior dirigiu-se a Jimmie e juntos saíram no agora já
familiar deslizamento, passando pela parede como se ela não
existisse.
Do
lado de fora, eles estavam nos arredores de uma grande cidade e o
Irmão Maior escolheu uma rua lateral, sombreada e passou por ela
devagar, quase andando. Não havia muitas pessoas na rua, e aqueles
que encontravam não lhes davam atenção, evidentemente porque não
os viam. No início, era difícil para Jimmie, desviar-se dos
pedestres que passavam naturalmente pela calçada. O Irmão Maior,
porém, não prestava maior atenção às pessoas, nem elas nele, e
caminhava despreocupadamente sem se importar, como se elas fossem
meras sombras. Jimmie observou-o, depois tentou e descobriu, para seu
alívio, que não lhe causava nenhum inconveniente passar através de
uma pessoa na rua e que esse era o único procedimento razoável a
seguir.
-
Mostrei-lhe um pouco do sofrimento causado pela guerra - disse o
Irmão Maior lentamente - não que você não tenha conhecimento
disso, mas simplesmente para fazê-lo perceber que a maior parte da
agonia causada pelo conflito surge da idéia de que a morte significa
uma separação completa e, provavelmente, permanente. Apesar de
muitas pessoas dizerem, se fossem inqueridas, que acreditam
firmemente em uma vida futura, o fato é que poucas crêem nisso ao
ponto de aceitá-la totalmente.
Podem
ver a morte e pensam que a compreendem, mas quanto a vida no além,
ficam muito inseguras. Se pudessem saber, não como teoria mas como
um fato, que são espíritos, filhos do grande Pai no Céu, e como
tais não podem mais morrer, assim como Ele não pode, e se ao menos
pudessem perceber que esta vida não é a única na terra, mas que a
humanidade vive muitas outras vezes em corpos e ambiente cada vez
mais aprimorados, e também que seu progresso é sempre para a frente
e para o alto, trabalhando com a Grande Lei, isto poderia ser muito
mais acelerado e elas evitariam muito sofrimento. Se pudessem ao
menos perceber que elas próprias é que são responsáveis por seus
problemas e que os infortúnios que carregam não advêm da vontade
de divindades caprichosas, mas do resultado de sua própria
desobediência à Sua Vontade (como é mostrado através de Suas
grandes e justas leis) tanto na sua vida presente quanto nas
passadas. Mais, na medida em que obedecerem Sua lei moral e
praticarem a conduta que Cristo o Grande Mestre, estabeleceu,
evitarão o sofrimento e estarão prontas para serem auxiliares no
grande trabalho de elevar seus companheiros.
Ele
parou de falar, sua face brilhando com luz, e quando Jimmie percebeu
um halo de luz ou nuvem de iridescente beleza e de cores levemente
faiscantes envolvendo-o, surgiu em sua mente um antigo verso que ele
havia ouvido quando menino:
Como
é resplandecente o brilho desses espíritos gloriosos.
-
Já está quase na hora de você voltar - continuou o Irmão Maior -
e eu não posso falar e permanecer muito mais aqui, portanto, vou
manter minha promessa e deixá-lo ficar um pouco com Marjorie. Mas
antes de nos separarmos quero deixar gravado que quando estiver bem
recuperado e for capaz de andar, quero que vá me ver em Paris.
Mencionou-se
uma rua e um número.
-
Mas eu pensei... eu pensei que você tivesse... eu pensei que você
vivesse aqui.
O
Irmão Maior riu.
-
Não na verdade. Ainda estou na carne, e quando você estiver bem,
encontrar-nos-emos em Paris e isto será uma das provas para você de
que tudo isto não é um sonho mas uma realidade.
Começou
a andar mais rapidamente e Jimmie, seguindo-o, em obediência a um
gesto de comando, logo encontrou-se na mesma suave campina onde havia
primeiro recuperado sua consciência.
-
Marjorie logo estará aqui e eu o deixarei com ela que lhe explicará
algumas coisas, mas você não deve considerar este nosso encontro
como o último, nem como a única introdução à Terra dos Mortos
que Vivem. Sua iniciação às coisas espirituais veio de uma maneira
diferente da usual, mas isto não é um presente, pois você o
mereceu, e será seu dever trabalhar dez vezes mais de agora em
diante.
-
Ele vai fazer isto, não é verdade, Jimmie?
Marjorie,
que apareceu sem ser notada, estava parada, sorrindo, em frente
deles. Jimmie pegou suas mãos e sorriu também.
-
Sim, certamente, eu o farei, senhor.
-
Então, até logo, por enquanto.
Jimmie
olhou para Marjorie preparando-se para dizer adeus ao Irmão Maior
mas, para sua surpresa, eles estavam sozinhos.
-
Soube que você vai voltar, e eu estou muito feliz porque isto quer
dizer que será capaz de trabalhar simultaneamente nos dois lados do
véu. Oh, Jimmie, como invejo suas chances de trabalhar!
O
resto da conversa de Jimmie com Marjorie, embora de muito interesse
para ambos, não diz respeito à nossa história, e seria um abuso
dos privilégios de nossa clarividência reproduzí-la. Jimmie falou
de sua decepção por não terem sido mostradas as grandes visões
que lhe haviam prometido, nem dada nenhuma instrução sobre o
"trabalho" que deveria fazer.
Marjorie
tranqüilizou-o, e tão absoluta era sua fé na sabedoria do Irmão
Maior e tão positivas suas afirmações, que as dúvidas de Jimmie
desapareceram.
Seus
olhos estavam ficando cada vez mais pesados e uma sonolência
incontrolável apoderou-de dele, pela qual tentou desculpar-se, mas
Marjorie sorriu-lhe. Sua última lembrança foi vê-la ali, com um
brilho tênue circundando-a e um sorriso em sua face, disse-lhe:
-
Você está regressando!
Então,
a escuridão pareceu cobrir por completo a Terra dos Mortos que
Vivem.