Wicca, a religião da Grande Mãe e do Deus Cornífero
Wicca,
a religião da Grande Mãe e do Deus Cornífero
Entender
a origem da bruxaria é retornar aos primórdios da humanidade,
quando os seres humanos começaram a despertar a sua percepção para
o microcosmo e macrocosmo. As primeiras manifestações de devoção
registradas pelo homem remontam à pré-história, às Madonas
Negras. Elas representavam o aspecto feminino do poder da natureza,
eram a personificação da Grande Mãe. Quando, na lua crescente, a
mulher iniciava a sua ovulação, chegando ao máximo na lua cheia e,
por fim, menstruando, essa sintonia trouxe, então, a associação da
lua como uma nova face para a Deusa. Enfim, a Grande Mãe dava
alimento (plantações, frutas, ervas etc), calor e proteção no
verão, no outono e na primavera, mas, e no inverno, quando o frio
acabava com tudo, quem os protegia? Surgiu, então, o papel do homem,
do caçador da tribo, do líder. Quem caçava melhor recebia as
presas e os chifres da caça como símbolo de poder e honra.
Associou-se, então, um aspecto masculino à Grande Mãe, que
buscaria assim o equilíbrio. Criou-se o Deus Cornífero (perceberam
a fácil associação com o diabo?). Entre os povos que dependiam da
caça, o culto ao Deus dos animais e da fertilidade, também
conhecido como Deus de Chifres ou Cornífero, foi marcante.
Princípio
Feminino ou Grande Mãe
Grande
Mãe representa a Energia Universal Geradora, o Útero de Toda
Criação. Na wicca, a Deusa se mostra com três faces: a Virgem (lua
crescente), a Mãe (lua cheia) e a Velha Sábia (lua minguante),
sendo que esta última ficou mais relacionada a bruxa na imaginação
popular. A Deusa Tríplice mostra os mistérios mais profundos da
energia feminina, o poder da menstruação na mulher, e é também a
contraparte feminina presente em todos os homens, tão reprimida pela
cultura patriarcal!
Princípio
Masculino ou Deus Cornífero
Da
mesma forma que toda luz nasce da escuridão, o Deus, símbolo solar
da energia masculina, nasceu da Deusa, sendo seu complemento,
trazendo em si os atributos da coragem, pensamento lógico,
fertilidade, saúde e alegria. Da mesma forma que o sol nasce e se
põe todos os dias, o Deus nos mostra os mistérios da morte e do
renascimento. Na wicca, o Deus nasce da Grande Mãe, cresce, se torna
adulto, apaixona-se pela Deusa Virgem, fazem amor; a Deusa fica
grávida, o Deus morre no inverno (no fim dele) e renasce novamente,
fechando o ciclo do renascimento, que coincide com os ciclos da
natureza e mostra os ciclos da nossa própria vida.
Os
wiccas praticam os seus rituais sozinhos (bruxos solitários) ou em
pequenos grupos de pessoas chamado de coven. Um coven possui 13
membros (na maioria das tradições existentes admite-se 14 membros,
sendo o décimo-quarto o mais novo do grupo, responsável por
preparar os incensos, acender o fogo, colher ervas e outras pequenas
tarefas). O coven é dirigido por uma Alta Sacerdotisa e/ou um Alto
Sacerdote que gerenciam os trabalhos de adoração à Deusa, os
trabalhos mágicos e cerimônias como os sabás e esbás. Uma
explicação para que o coven seja formado por treze pessoas, é que
cada uma representaria um mês do ano, pois nas sociedades
matriarcais o ano segue o calendário lunar de 13 meses de 28 dias,
mais um dia, no total 365 dias. Daí vem a expressão "um ano e
um dia", pois, quando é iniciada, a pessoa estuda durante esse
período para depois confirmar seus votos. Isto em algumas Tradições.
O
coven reúne-se basicamente para a celebração de um sabá ou para
um esbá. Esbá é uma reunião mensal que se realiza treze vezes ao
ano durante a lua cheia, que recebe o nome de esbá. Geralmente no
esbá trocam-se idéias, realizam-se rituais especiais, agradecem-se
a Deusa e ao Deus, realizam-se trabalhos de cura e proteção.
Os
wiccas celebram oito sabás anuais, destacando as transições entre
as estações. Os quatro grandes sabás são Candlemas, Beltane,
Lammas e Samhain, e os menores são Equinócio da Primavera e
Equinócio do Outono, e Solstício de Verão e Solstício de Inverno.
A
Roda do Ano
Representada
pelos oito sabás, tem por objetivo sincronizar a nossa energia com
as estações do ano, ou seja, com os ciclos do planeta Terra e do
Universo. Para algumas tradições da wicca, o ano se inicia no
solstício de inverno. Outras consideram a noite de 31 de outubro
como o início do ano. Esta data é conhecida como Halloween ou Dia
das Bruxas, mas seu nome tradicional é Samhain, que significa "sem
sol", referindo-se ao tempo de inverno. Esta época também é
correspondente ao ano-novo judaico
No
solstício de inverno ocorre o nascimento/renasci-mento do Deus; nos
sabás da primavera, do verão e do outono, ele tem o Seu
crescimento, puberdade e maturidade; e Sua morte no sabá de Samhain.
Após a morte ele retorna ao ventre da Deusa Mãe até o solstício
do inverno seguinte, quando renasce. Este é o ciclo mítico do
nascimento-morte-renascimento que se repete em todos nós todos os
anos. E a Deusa, em Seus aspectos, é adorada durante todo o ano.
Outras tradições preferem adorar a Deusa durante os sabás da
primavera e verão, e o Deus durante os sabás do outono e do
inverno.
Sabás
wiccas
Yule
- Solstício de Inverno (21 de Dezembro)
É
a noite mais longa do ano, marcando a época em que os dias começam
a crescer, e as horas de escuridão a diminuir. É desta data antiga
que se originou o Natal cristão. Nesta época, a Deusa dá à Luz a
Deus, que é reverenciado como criança prometida. Em Yule, é tempo
de reencontrarmos nossas esperanças, pedindo para que os deuses
rejuvenesçam nossos corações e nos dêem forças para nos
libertarmos das coisas antigas e desgastadas. É hora de descobrirmos
a criança dentro de nós e renascermos com sua pureza e alegria.
Esta é a noite mais longa do ano, onde a Deusa é reverenciada como
a Mãe da Criança Prometida ou do Deus Sol, que nasceu para trazer
Luz ao mundo. Um exemplo das raízes pagãs das festas de Natal está
na moderna personificação do espírito de Natal, o Santa Claus, que
foi para os escandinavos como o Cristo na Roda, um antigo título
nórdico para o Deus Sol, que renascia na época do Solstício de
Inverno.
Candlemas
(Imbolc, Oimelc) - Festa do Fogo ou Noite de Brigit (2 de fevereiro)
Festival
do fogo que celebra a chegada da primavera. O aspecto invocado da
Deusa nesse sabá é o de Brigit, Senhora da Poesia, da Inspiração,
da Cura, da Escrita, da Metalurgia, das Artes Marciais e do Fogo.
Nesta noite, as bruxas colocam velas cor de laranja ao redor do
círculo, e uma vela acesa dentro do caldeirão. Se o ritual é feito
ao ar livre, pode-se fazer tochas e girar ao redor do círculo com
elas. A bruxa mais jovem da assembléia pode representar Brigit,
entrando por último no círculo para acender, com sua tocha, a vela
do caldeirão, ou a fogueira, se o ritual for ao ar livre, o que
representaria a inspiração sendo trazida para o círculo pela
Deusa.
Os
membros do coven devem fazer poesias, ou cantar em homenagem a
Brigit. Pedidos, agradecimentos ou poesias devem ser queimados na
fogueira ou no caldeirão em oferenda, no fim do ritual. O Deus está
crescendo e se tornando mais forte para trazer a Luz de volta ao
mundo. É hora de pedirmos proteção para todos os jovens, em
especial da nossa família do coven. É neste sabá que a Alta
Sacerdotisa do coven usa uma brilhante coroa de 13 velas no topo de
sua cabeça. A versão cristianizada da procissão de Candlemas honra
a Virgem Maria, e, no México, ela corresponde ao ano-novo asteca.
Equinócio
de Primavera - Ostara (21 de março)
Ostara
é o festival em homenagem à Deusa Oster, Senhora da Fertilidade,
cujo símbolo é o coelho. Foi desse antigo festival que teve origem
a Páscoa. Os membros do coven usam grinaldas, e o altar deve ser
enfeitado com flores da época. É um costume muito antigo colocar
ovos pintados no altar. Eles simbolizam a fecundidade e a renovação.
Os ovos podem ser pintados crus e depois enterrados, ou cozidos e
comidos enquanto mentalizamos nossos desejos. Antes de comê-los, os
membros do coven devem girar de mãos dadas em volta do altar para
energizar os pedidos. Os ovos devem ser decorados com símbolos
mágicos, ou de acordo com a criatividade. Os pedidos devem ser
voltados à fertilidade em todas as áreas.
Beltane
(Rudemasd, Walpurgisnacht) - A Fogueira de Belenos, Festa da
Primavera (1º de maio)
Beltane
é o mais alegre e festivo de todos os sabás. O Deus, que agora é
um jovem no auge da sua fertilidade, se apaixona pela Deusa, que em
Beltane se apresenta como a Virgem e é chamada Rainha de Maio. Em
Beltane se comemora esse amor que deu origem a todas as coisas do
Universo. Beleno é a face radiante do Sol, que voltou ao mundo na
primavera. Em Beltane se acendem duas fogueiras, pois é costume
passar entre elas para se livrar de todas as doenças e energias
negativas. Daí veio o costume de "pular a fogueira" nas
festas juninas. Se não houver espaço, duas tochas ou mesmo duas
velas podem ter a mesma função. Uma das mais belas tradições de
Beltane é o meypole, ou mastro de fitas. Trata-se de um mastro
enfeitado com fitas coloridas. Durante um ritual, cada membro escolhe
uma fita de sua cor preferida ou ligada a um desejo. Todos devem
girar trançando as fitas, como se estivessem tecendo seu próprio
destino, colocando-nos sob a proteção dos deuses. É costume em
wicca jamais se casar em maio, pois esse mês é dedicado ao
casamento do Deus e da Deusa.
Litha
- Solstício de Verão (21 de junho)
Nesse
dia o sol atingiu a sua plenitude. É o dia mais longo do ano. O deus
chega ao ponto máximo de seu poder. Este é o único sabá em que,
às vezes, se fazem feitiços, pois o seu poder mágico é muito
grande. É hora de pedirmos coragem, energia e saúde. Mas não
devemos nos esquecer que, embora o Deus esteja em sua plenitude, é
nessa hora que ele começa a declinar. Logo Ele dará o último beijo
em sua amada, a Deusa, e partirá no Barco da Morte, em busca da
Terra do Verão. Da mesma forma, devemos ser humildes para não
ficarmos cegos com o brilho do sucesso e do poder. Tudo no Universo é
cíclico, devemos não só nos ligarmos à plenitude, mas também
aceitar o declínio e a morte. Nesse dia costuma-se fazer um círculo
de pedras ou de velas vermelhas. Queimam-se flores vermelhas ou ervas
solares (como a camomila) juntamente com os pedidos no caldeirão.
Lamas
- Lughnasad ou Festa da Colheita (1º de Agosto)
Lughnasad
era tipicamente uma festa agrícola, onde se agradecia pela primeira
colheita do ano. Lugh é o Deus Sol. Na mitologia celta, ele é o
maior dos guerreiros, que derrotou os Gigantes que exigiam
sacrifícios humanos do povo. A Tradição pede que sejam feitos
bonecos com espigas de milho ou ramos de trigo representando os
deuses, que nesse festival são chamados Senhor e Senhora do Milho.
Nessa data deve-se agradecer tudo o que colhemos durante o ano, sejam
coisas boas ou más, pois até mesmo os problemas são veículos para
a nossa evolução.
O
outro nome do sabá é Lammas, que significa A Massa de Lugh. Isso se
deve ao costume de se colher os primeiros grãos e fazer um pão que
era dividido entre todos. Os membros do coven devem fazer um pão
comunitário, que deverá ser consagrado junto com o vinho e
repartido dentro do círculo. O primeiro gole de vinho e o primeiro
pedaço de pão devem ser jogados dentro do caldeirão, para serem
queimados juntamente com papéis, onde serão escritos os
agradecimentos, e grãos de cereais. O boneco representando o Deus do
Milho também é queimado, para nos lembrar de que devemos nos livrar
de tudo o que é antigo e desgastado, para que possamos colher uma
nova vida. O altar é enfeitado com sementes, ramos de trigo, espigas
de milho e frutas da época.
Mabon
- Equinócio de Outono (21 de setembro)
No
panteão celta, Mabon, também conhecido como Angus, era o Deus do
Amor. Nessa noite devemos pedir harmonia no amor e proteção para as
pessoas que amamos. Esta é a segunda colheita do ano. O altar deve
ser enfeitado com as sementes que renascerão na primavera. O chão
deve ser forrado com folhas secas. O Deus está agonizando e logo
morrerá. Este é o festival em que devemos pedir pelos que estão
doentes e pelas pessoas mais velhas que precisam de nossa ajuda e
conforto. Também é neste festival que homenageamos as nossas
antepassadas femininas, queimando papéis com seus nomes no caldeirão
e lhes dirigindo palavras de gratidão e bênçãos.
Samhain
- Halloween ou Dia das Bruxas (31 de outubro)
Este
é o mais importante de todos os festivais, pois, dentro do círculo,
marca tanto o fim quanto o início de um novo ano. Nessa noite, o véu
entre o nosso mundo e o mundo dos mortos se torna mais tênue, sendo
o tempo ideal para nos comunicarmos com os que já partiram. As
bruxas não fazem rituais para receber mensagens dos mortos e muito
menos para incorporar espíritos. O sentido do Halloween é nos
sintonizarmos com os que já partiram para lhes enviar mensagens de
amor e harmonia. A noite do Samhain (pronuncia-se souen) é uma noite
de alegria e festa, pois marca o início de um novo período em
nossas vidas, sendo comemorado com muito ponche, bolos e doces.
A
cor do sabá é o negro, sendo o altar adornado com maçã, o símbolo
da vida eterna. O vinho é substituído pela sidra ou pelo suco de
maçã. deve-se fazer muita brincadeiras com dança e música. Os
nomes das pessoas que já se foram são queimados no caldeirão, mas
nunca com uma conotação de tristeza!
No
altar e nos quadrantes não devem faltar as tradicionais máscaras de
abóbora com velas dentro. Antigamente, as pessoas colocavam essas
abóboras na janela para espantar os maus espíritos e os duendes que
vagavam pelas noites do Samhain. Essa palavra significa "sem
luz", pois, nessa noite, o Deus morreu e o mundo mergulha na
escuridão. A Deusa vai ao Mundo das Sombras em busca do seu amado,
que está esperando para nascer. Eles se amam, e, desse amor, a
semente da luz espera no Útero da Mãe para renascer no próximo
Solstício de Inverno como a Criança da Promessa.
Os
Candlemas, Beltane, Lammas e Samhain são grandes sabás, enquanto os
solstícios e equinócios são pequenos sabás. As datas fornecidas
acima são do hemisfério norte. Muitas pessoas preferem adaptá-las
ao nosso hemisfério, mudando a ordem dos sabás. Outras já acham
que se deve manter a Tradição e seguir as datas da Europa. Isto
depende do gosto de cada um, mas, no Brasil, não existem quatro
estações, sendo que muitas regiões têm um verão permanente ou
uma estação chuvosa, o que torna bem difícil adaptar os sabás aos
aspectos da natureza.