Prana (Raja Yoga)
Prana (Raja Yoga)
Pranayama,
não concerne, como muitos pensam, somente à respiração; esta, na
verdade, tem muito pouco a ver com ele. A respiração é um dos
muitos exercícios, pelos quais chegamos ao pranayama real. Pranayama
significa: controle de prana. De acordo com os filósofos da Índia,
o universo está constituído de dois princípios, a um dos quais
chamam akasa e ao outro, prana. Akasa é a existência onipenetrante.
Tudo o que possui forma, tudo que é o resultado de combinação,
provém de akasa. É akasa que Se torna o ar, os líquidos, os
sólidos; que se torna o sol, a terra, a lua, as estrelas, os
cometas, é akasa que se torna o corpo humano, o corpo animal, as
plantas, cada forma que vemos, tudo que pode ser sentido, tudo que
existe. Não pode ser percebido; é tão sutil que está além de
toda percepção ordinária; somente é visto quando se torna denso e
toma uma forma. No início da criação há somente akasa; ao fim de
um ciclo, os sólidos, líquidos e todos os gases, fundem- se em
akasa outra vez, e a próxima criação, similarmente, procede de
akasa.
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Por
qual poder, deste akasa é manufaturado o universo? Pelo poder de
prima. Da mesma forma que akasa é a substância infinita,
onipresente, deste universo, também prana é o poder manifestante,
infinito, onipresente. No início, e ao fim de um ciclo, todos os
objetos tangíveis resolvem-se em akasa, e todas as forças do
universo, em prana. No ciclo seguinte, desse prana procede tudo o que
chamamos energia, tudo que chamamos força. É prana que se está
manifestando como movimento; é prana que se manifesta como
gravitação e magnetismo. É prana que se manifesta como as ações
do corpo, as correntes nervosas, como pensamento-força. Do
pensamento à força física, tudo é somente manifestação de
prima. A soma total de todas as forças do universo, mentais ou
físicas, quando resolvidas em seu estado original, é chamada prana.
“Quando o nada era nada, quando a escuridão envolvia as trevas, o
que existia? Aquele akasa existia sem movimento”, O movimento
físico de prana parou, mas prana continuava a existir. Ao fim de um
ciclo, as energias espalhadas pelo universo acalmam-se e se tornam
potenciais. Ao começar o ciclo seguinte, elas se levantam de novo,
lançam-se sobre akasa, e deste surgem as várias formas; e à medida
que akasa se transforma, prana também se transforma em todas essas
manifestações de energia. Pranayama é, em realidade, o
conhecimento e o controle de prana.
É
essa a chave que nos abre as portas de poder quase infinito,
Suponhamos, por exemplo, que um homem tenha compreendido prana
perfeitamente e o possa controlar; que poder, nesta terra, não seria
o seu? Seria capaz de deslocar o sol e os astros, controlar tudo no
universo, desde os átomos aos maiores sóis. Eis a meta e o objetivo
de pranayama. Quando o yogui se torna perfeito, nada na natureza
escapará a seu domínio. Se ordenar aos deuses ou às almas dos
mortos que apareçam, eles obedecerão seu chamado. Todas as forças
da natureza serão suas escravas. O ignorante, ao ver esses poderes
do yogui, chama-os milagres.
Uma
peculiaridade da mente Hindu é buscar sempre a mais elevada
generalização, deixando os detalhes para serem elaborados mais
tarde. A pergunta é lançada, nos Vedas: “O que é aquilo que,
sendo conhecido, conheceremos tudo?” Portanto, escreveram- se todos
os livros e todas as filosofias com o propósito de demonstrar
aquilo, por cujo conhecimento todo o mais é conhecido. Quem desejar
conhecer o universo inteiro, deve conhecer cada grãozinho de areia,
o que requer um tempo infinito; não poderá fazê-lo. Então como
obteremos qualquer conhecimento? Como poderemos conhecer tudo, pelo
conhecimento do particular? Os yoguis dizem que cada manifestação
particular esconde uma generalização. Atrás das idéias
particulares levanta-se um princípio abstrato, generalizado.
Agarremo-lo e tudo teremos em nossas mãos. Como, nos Vedas, este
universo inteiro foi generalizado em uma Existência Absoluta única,
e aquele que consegue aprender essa Existência, compreenderá o
universo inteiro, da mesma forma, todas as forças foram
generalizadas em prana, quem governar o prana, terá sob controle
todas as forças do universo, mentais e físicas. Quem dominou o
prana dominou sua própria mente e todas as mentes que existem.
Aquele que controlou o prana, controlou seu corpo e todos os corpos
que existem. Porque o prana é a fonte de toda energia.
Controlar
o prana, eis o único fim de pranayama. Todo treinamento e exercícios
a respeito, são feitos exclusivamente com esse propósito. Cada qual
deve começar onde se encontra, e aprender a controlar aquilo que
está mais próximo. Este corpo está mais próximo de nós que
qualquer outra coisa do universo exterior; e mais perto que o corpo,
está a mente. Mas, o prana que está atuando nesta mente e neste
corpo, é o mais próximo. É uma parte do prana que movimenta o
universo. No oceano infinito de prana, esta pequena onda de prana,
que representa nossas próprias energias, mentais é físicas, está
o mais perto de nós. Se conseguirmos controlar essa diminuta onda,
só então poderemos esperar controlar todo o prana. O yogui que
assim fez, atinge a perfeição; não mais está submetido a poder
nenhum. Torna-se quase todo-poderoso, quase onisapiente.
Em
todos os países há seitas que tentaram o controle do prana. Neste
país há curandeiros pela mente, curandeiros pela fé,
espiritualistas, Cientistas Cristãos, hipnotizadores, etc.. Se
examinarmos essas seitas, encontraremos, como suporte de cada uma, o
controle do prana, tenham ou não consciência desse fato. Se
ferverdes todas suas teorias, o resíduo será esse. É a mesma e
única força que estão manipulando, sabendo ou não. Tropeçaram na
descoberta de uma força e utilizam..na inconscientemente, sem lhe
conhecer a natureza; mas é a mesma que o yogui utiliza, e vem de
prana.
A
força vital em todos os seres é prana. O pensamento é a mais sutil
e a mais elevada manifestação de prana. O pensamento consciente tal
como o vemos, não constitui todo o pensamento. Há também o que
chamamos instinto, ou pensamento inconsciente, o plano mais baixo de
pensamento. Se me pica um mosquito, minha mão procurará abatê-lo
automaticamente, instintivamente. E’ urna expressão de pensamento.
Todas as ações reflexas do corpo pertencem a este piano de
pensamento. Há, também, outro plano de pensamento, o consciente:
raciocino, julgo, penso, analiso os prós e os contras de certas
coisas. Não é tudo, porém. A razão é limitada, vai apenas até
um certo limite; além, não pode avançar. O círculo, dentro do
qual opera, é muito restrito, na verdade. Entretanto, ao mesmo
tempo, encontramos que fatos penetram nesse círculo, como cometas na
órbita da terra. Vêm de fora, ainda que essa razão não possa ir
além. As causas desses fenômenos que se intrometem dentro desse
pequeno circulo, estão fora dele. Os yoguis dizem que também esse
não pode ser o limite do conhecimento; a mente pode funcionar num
plano ainda mais elevado, o supraconsciente. Quando a mente alcança
esse estado, chamado samadhi – concentração perfeita – vai além
dos limites da razão e cega face a face com fatos que nenhum
instinto ou razão poderá jamais conhecer. Todas as manipulações
das forças sutis do corpo, diferentes manifestações de prana,
empurram a mente, ajudam-na a ir cada vez mais alto e tornar-se
supraconsciente, de onde ela atua.
Neste
universo há uma substância continua em cada plano de existência.
Fisicamente, o universo é uno: não existe diferença entre nós e o
sol. O cientista diz que sustentar o contrário não faz sentido. Não
há diferença real entre esta mesa e eu: a mesa é um ponto na massa
de matéria, eu, outro. Cada forma representa, por assim dizer, um
turbilhão no oceano infinito de matéria. Os redemoinhos estão
sempre em mudança. Num curso dágua há milhões de redemoinhos, a
água em cada um deles é, cada momento, diferente, girando e girando
por alguns segundos, afastando-se depois, substituída por nova
quantidade; da mesma forma, o universo inteiro é uma massa de
matéria transformando-se continuamente, na qual todas as formas de
existência são outros tantos redemoinhos. Uma massa de matéria
entra num deles, digamos, um corpo humano, aí permanece por certo
tempo, transforma-se, vai para outro, um corpo animal desta vez, do
qual, após alguns anos, entra num outro redemoinho, quiçá um
pedaço de mineral. Há constante mudança. Nenhum corpo permanece o
mesmo. Não há tal coisa como meu corpo ou vosso corpo, exceto em
palavras. D massa enorme de matéria, um ponto é chamado a lua,
outro, o sol, outro, homem, outro, a terra, outro, uma planta, outro,
um mineral. Nada é permanente, tudo se transforma, a matéria
eternamente se formando e desintegrando-se.
Verifica-se
o mesmo no mundo interior. A matéria é representada pelo éter;
quando a ação de prana é mais sutil, esse éter, em estado mais
fino de vibração, representará a mente, e ainda ai continua
existindo uma massa uniforme. Se pudermos criar em nós mesmos essa
vibração sutil, veremos e sentiremos que o universo inteiro é
constituído de vibrações sutis. As vezes, algumas drogas têm o
poder de nos transportar a um estado supra-sensório onde podemos
sentir tais vibrações. Muitos de vós vos lembrareis da célebre
experiência de Sir Humphrey Davy, quando o gás hilariante se
apoderou dele. Durante a conferência, ele permaneceu imóvel,
atônito, e em seguida, declarou que o universo inteiro era
constituído de idéias. Naquele momento, as vibrações grosseiras
haviam cessado e sàmente as sutis, que ele chamou idéias,
permaneceram presentes. Ele conseguia ver apenas as vibrações
sutis, ao seu redor; tudo se tornara pensamento; o universo inteiro
era um oceano de pensamento. Ele próprio e todos haviam se tornado
pequenos redemoinhos de pensamento.
Portanto,
até no universo do pensamento encontramos unidade; e por fim, ao
chegarmos ao EU Superior, saberemos que esse EU só pode ser um. Além
das vibrações da matéria, em suas formas grosseira e sutil, além
do movimento, há somente um. Mesmo no, movimento manifestado existe
somente unidade. Estes fatos não mais podem ser negados. A física
moderna demonstrou que a soma total das energias do universo é a
mesma, por toda a parte. Ficou também provado que essa soma total de
energia existe em duas formas. potencial, imanifestada, e depois se
manifesta como essas várias forças; novamente volta ao estado de
repouso e outra vez se manifesta. Assim continua evoluindo e
involuindo, por toda a eternidade. O controle deste prana, como já
vimos, é o que se chama pranayama.
Pranayama
tem muito pouco que ver com a respiração. Mas o controle do alento
é um meio para a prática efetiva de pranayama. A manifestação
mais tangível de prana, no corpo humano, é o movimento dos pulmões.
Se cessa esse movimento, regra geral cessam todas as outras
manifestações de força do corpo. Mas há seres que treinam de tal
forma que o corpo continua a viver, embora tenha cessado aquele
movimento. Há pessoas que podem ficar enterradas por dias e todavia
vivem sem respirar. Para alcançar o sutil devemos servir-nos do
grosseiro e caminhar vagarosamente para o mais sutil, até
conseguirmos nosso objetivo.
Pranayama,
realmente, significa controlar o movimento dos pulmões, movimento
associado ao alento. Não que a respiração o produza; ao contrário,
ele produz a respiração. Esse movimento puxa o ar para dentro, como
se fosse uma bomba, O prana move os pulmões; o movimento dos pulmões
bombeia o ar para dentro. Portanto, pranayama não é respiração,
mas controle do poder muscular que move os pulmões. Esse poder,
transmitido através dos nervos aos músculos e destes aos pulmões,
fazendo-os mover de uma certa maneira, é o prana, que buscamos
controlar através de pranayama. Quando esse prana for controlado,
constatamos imediatamente que poderemos controlar todas as outras
ações de prana no corpo. Vi, pessoalmente, homens que controlaram
quase todos os músculos do corpo – e por que não? Se posso
controlar alguns músculos, por que não todos os músculos e nervos
do corpo? O que há de impossível nisso? Hoje em dia, perdemos o
controle e o movimento tornou-se automático. Não podemos mover as
orelhas, à vontade, mas sabemos que os animais o fazem. Não temos
esse poder porque não o exercitamos.
Também
sabemos que movimentos que se tornaram latentes podem manifestar-se.
Pelo trabalho árduo e prática, certos movimentos corporais que
estão fora de nosso controle podem ser perfeitamente dominados.
Assim raciocinando, encontramos que não é de todo impossível, mas
ao contrário, muito provável, que cada parte do corpo pode ser
mantida sob perfeito controle, o que o yogui consegue através de
pranayama.
Talvez
alguns de vós lestes que no pranayama, durante a inspiração,
deveis encher vosso corpo inteiro com prana. Naturalmente, desejareis
saber como isso pode ser feito. Ai existe uma falha, ao traduzir-se a
palavra prana por alento. Cada parte do corpo pode ser enchida com
prana, a força vital; quando formos capazes de fazê-lo, poderemos
controlar o corpo inteiro. Toda enfermidade e debilidade do corpo
serão inteiramente vencidas. Não apenas isso. Seremos capazes
também de controlar o corpo dos outros. Tudo é contagioso neste
mundo – bom ou mau. Se vosso corpo estiver em certo estado de
tensão, terá tendência a motivar a mesma tensão em outros. Se
sois fortes e saudáveis, aqueles que vivem perto de vós também
terão tendência a se tornar fortes e saudáveis; porém, se vós
estiverdes doentes e fracos, aqueles que vos cercam terão tendência
a absorver o mesmo estado. Quando uma pessoa tenta curar outra, o
primeiro passo é simplesmente procurar transferir-lhe sua própria
saúde. E’ a forma primitiva da arte de curar. Consciente ou
inconscientemente, a saúde pode ser transmitida. Um homem muito
forte, vivendo com um fraco, fará este último sentir-se um pouco
mais forte, sabendo-o ou não. Quando feita conscientemente esta ação
se torna mais rápida e mais eficaz. Há também os casos em que uma
pessoa, ainda que não muito saudável, pode, entretanto, transmitir
saúde a outra. É porque a primeira tem um pouco mais de controle
sobre seu prana, e, temporàriamente o estimula a um determinado
estado de vibração, transmitindo-o à outra.
Conhecem-se
casos onde este processo foi executado à distância. Mas na
realidade, não há distância que admita interrupção. Onde está a
distância com tais interrupções? Há algum vazio entre vós e o
sol? O que há é uma massa contínua de matéria, o sol sendo uma
parte e vós, outra. Existe alguma lacuna entre uma parte de um rio e
outra? Se não há, por que não se pode transmitir qualquer força?
Não há razão para não poder. Os casos de cura á distância são
perfeitamente verdadeiros. O prana pode ser transmitido a uma
distância muito grande; mas para cada caso genuíno, há uma centena
de fraudes. Este processo de cura não é tão fácil como parece.
Nos casos mais comuns, os curadores, simplesmente, tiram vantagem do
estado naturalmente saudável do corpo humano. O alopata vem, trata
os enfermos de cólera e lhes dá seus medicamentos; o homeopata
também prescreve seus remédios e talvez cure mais que o alopata,
porque o homeopata não perturba seus pacientes, mas permite à
natureza lidar com eles. O curador pela fé cura ainda mais, porque
traz a força de sua mente sobre o paciente e nele desperta, pela fé,
o prana adormecido.
Os
curadores pela fé cometem, sempre, o erro de pensar que é a fé que
cura diretamente. Porém, a fé, sozinha, não cura. Há doenças em
que o pior sintoma é o paciente não pensar que está doente. Essa
fé tremenda do paciente é, em si mesma, um sintoma da doença e,
geralmente, indica que ele vai morrer em breve. Em tal caso, o
principio de que a fé cura, não se aplica. Se somente a fé
curasse, tais pacientes também seriam curados. E’ o prana que,
realmente, faz a cura, O homem de alma pura, que controlou o prana,
tem o poder de levá-lo a um determinado estado de vibração
transmissível a outros, provocando neles vibração similar. Vemos
isso em nossas ações diárias. Estou falando convosco. O que
procuro fazer? Em realidade, estou trazendo minha mente a um certo
estado de vibração, e quanto mais conseguir fazê-lo, tanto mais
sereis afetados pelo que eu digo. Todos sabeis que quando sinto mais
entusiasmo, gozais da conferência muito mais, e quando estou menos
entusiasmado, sentis falta de interesse.
Os
líderes da Humanidade, dotados de gigantesco poder de vontade,
impulsionam seu prana a um altíssimo estado de vibração; e esse
prana é tão forte e poderoso que afeta outros num momento, milhares
são atraídos para eles, e metade do mundo pensa como eles. Os
grandes profetas do mundo tinham o mais maravilhoso controle do prana
e tremenda força de vontade; haviam trazido seu prana ao mais
elevado estado de vibração, o que lhes dava o poder de sacudir o
mundo. Toda manifestação de poder procede desse controle. Os homens
podem desconhecer o segredo, mas é esta a explicação.
Às
vezes, em nosso próprio corpo, o suprimento de prana gravita mais ou
menos em torno de determinada parte; o equilíbrio de prana se rompe.
Manifesta-se, então, o que chamamos doença. Eliminar o prana
supérfluo ou suprir o que falta, é curar a doença. Perceber quando
há mais ou menos prana num ponto do corpo, faz também parte de
pranayama. A capacidade de percepção da mente se tornará tão
intensa, que sentirá que há menos prana no artelho ou no dedo, do
que devia haver, e possuirá o poder de suprir o prana que falta.
Estas são algumas das várias funções de pranayama. Devem ser
aprendidas vagarosa e gradualmente; como vedes, o grande objetivo de
Raja-Yoga é, realmente, ensinar a controlar e a dirigir o prana, de
diferentes maneiras. Quando um homem concentra suas energias, domina
o prana que está em seu corpo. Quando se medita, também se exerce
controle de prana.
Num
oceano há enormes ondas, como montanhas, também ondas menores e
ainda menores, até borbulhas; mas atrás de todas está o oceano
infinito. O oceano conecta-se com a borbulha, de um lado, e com a
enorme vaga do outro. Um homem pode ser uma onda gigantesca, e outro,
uma pequena borbulha, porém cada qual está conectado com o infinito
oceano de energia, herança comum de toda criatura. Onde haja vida, o
celeiro de energia infinita está por detrás, Começando como
simples fungo, diminuto, borbulha microscópica, e por todo tempo
suprindo-se daquela infinita fonte de energia, uma forma se
transforma vagarosa, porém firmemente, até que, com o correr do
tempo, torna-se uma planta, depois um animal, um homem, e por fim
Deus. Isso é atingido através de milhões de eons. Mas que é o
tempo? Um aumento de velocidade, um aumento de luta, podem cobrir o
abismo do tempo. O que naturalmente leva muito tempo para ser
realizado, pode-se encurtar pela intensidade da ação, diz o yogui.
Uma pessoa pode continuar vagarosamente a extrair esta energia da
massa infinita que existe no universo, entretanto levará centenas de
milhares de anos para se tornar um deva, e então, talvez cinco
centos de milhares para elevar-se ainda mais alto, e quiçá cinco
milhões de anos para se tornar perfeito. O tempo se encurtará se
houver crescimento rápido. Por que não é possível, com esforço
bastante, alcançar esta perfeição em seis anos ou seis meses? Não
existe limite, mostra-o a razão. Se uma locomotiva, com certa
quantidade de carvão, desenvolve duas milhas por hora, percorrerá a
mesma distância em menos tempo com maior suprimento de carvão. De
igual modo, por que a alma, intensificando sua ação, não alcança
a perfeição nesta mesma vida? Todos os seres atingirão, por fim,
aquela meta, nós o sabemos. Mas, por que esperar tantos milhões de
eons? Por que não atingi-la imediatamente, ainda neste corpo, com
esta forma humana? Por que não realizar esse ilimitado conhecimento,
esse poder infinito, agora?
O
ideal do yogui, toda a ciência de Yoga, são dirigidos a ensinar a
Humanidade como, intensificando o poder de assimilação, encurtar o
tempo para realizar a perfeição, ao invés de avançar
vagarosamente, de etapa em etapa, aguardando que toda a raça humana
se tenha tornado perfeita. Todos os grandes profetas, santos e
videntes do mundo – o que fizeram? Durante uma existência humana,
viveram a vida inteira da Humanidade, atravessaram todo o imenso
período de tempo necessário para que o homem comum chegue à
perfeição. Em apenas urna vida tornaram- se perfeitos; não
pensavam outra coisa, não viveram um momento que fosse para outra
idéia, e assim o caminho encurtou-se, para eles. É este o
significado de concentração: intensificar o poder de assimilação,
encurtando o tempo. A Raja-Yoga é a ciência que nos ensina corno
alcançar o poder de concentração.
O
que pranayama tem a ver com o espiritismo? O espiritismo é também
uma manifestação de pranayama. Se é verdade que os espíritos dos
mortos continuam a existir e que apenas não podemos vê-los, é mui
provável que haja centenas e milhões deles ao nosso redor, que não
conseguimos ver, sentir ou tocar. Podemos estar continuamente
passando e repassando através de seus corpos, e eles não nos vêm
ou sentem. É plano dentro de plano, universo dentro de universo.
Temos cinco sentidos e representamos prana em um certo estado de
vibração. Todos os seres em idêntico estado de vibração vêm-se
uns aos outros; mas os seres que representam prana num estado
vibratório superior, não serão vistos. Aumentando a intensidade de
uma fonte luminosa, deixaremos de vê-la, mas existem seres com olhos
tão poderosos que a poderão ver. Se as vibrações forem muito
baixas, também não veremos a luz, porém há animais, como os gatos
e as corujas, que poderão vê-la. Nossa capacidade visual é apenas
um plano das vibrações do prana Tomemos a atmosfera, por exemplo:
acha-se constituída de camada sobre camada: as camadas mais próximas
da terra são mais densas que as mais afastadas, e conforme se vai
mais para cima, a atmosfera se torna mais e mais fina. Ou tomemos o
oceano: quanto mais fundo, mais aumenta a pressão da água, e os
animais que vivem no fundo do mar nunca sobem à tona, porque se
despedaçariam.
Pensemos
no universo inteiro como um oceano de éter, vibrando sob a ação de
prana e consistindo de plano após plano em vários graus de
vibração. Nos mais externos, as vibrações são mais vagarosas, e
nos mais próximos do centro, são mais rápidas. Pensemos numa coisa
inteira, como um círculo, centro do qual é a perfeição. Quanto
mais longe estivermos do centro, mais vagarosas são as vibrações.
A matéria é o plano mais externo; a seguir vem a mente; e o
Espírito é o centro. Agora, torna-se claro que aqueles que vivem
num certo plano de vibração terão o poder de reconhecer-se uns aos
outros, mas não conhecerão os que estão acima ou abaixo. Todavia,
da mesma forma que com o microscópio e o telescópio podemos
aumentar o campo de nossa visão, similarmente, pela yoga, podemos
transportar-nos ao estado de vibração de outro plano e saber o que
se passa ali.
Suponhamos
que esta sala esteja cheia de seres que não vemos. Eles representam
prana num, certo estado vibratório, enquanto nós representamos
outro. Suponhamos que eles representem um estado mais rápido e nós,
um mais lento. Prana é o material do qual eles se compõem, o mesmo
que nós. Somos todos partes do mesmo oceano de prana, diferindo
apenas na intensidade de vibração. Se eu puder atingir um estado
vibratório mais intenso, este plano mudará imediatamente para mim.
Não mais vos verei; eles aparecerão. Alguns de vós, talvez saibam
que isso é exato. Todo este trazer a mente a um estado superior de
vibração está incluído num só vocábulo, em Yoga: samadhi. Todos
esses estados de vibração superior, vibrações supraconscientes da
mente, são indicados por essa única palavra: samadhi; e os estados
inferiores de samadhi nos dão visões desses seres sobrenaturais. Na
espécie superior de samadhi vemos a coisa real, vemos a substância
de que se compõem todas as espécies de seres. Conhecido um pedaço
de argila, conheceremos todos os objetos feitos de argila, no
universo.
Vemos
assim que pranayama inclui tudo o que é verdadeiro, até no
espiritismo. Similarmente, descobrireis que onde alguma seita ou
grupo de pessoas, estejam tentando descobrir algo oculto, misterioso,
escondido, na realidade praticam alguma espécie de yoga, buscando
controlar o prana. Descobrireis, também, que onde houver qualquer
exibição extraordinária de poder, é manifestação de prana.
Mesmo todas as ciências físicas podem ser incluídas em pranayama O
que move a locomotiva a vapor? O prana, agindo através do vapor, O
que são todos os fenômenos de eletricidade, senão prana? O que é
a ciência física? A ciência de pranayama, por meios externos. O
prana, manifestando-se como poder mental, só pode ser controlado por
meios mentais. A parte de pranayama que procura controlar as
manifestações físicas do prana por meios físicos é denominada
ciência física, e a parte que se propõe o controle das
manifestações do prana como força mental, por meios mentais,
chama-se Raja-Yoga.