Fenomenos Psiquicos
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Técnicas de Projeção Astral e Exercicíos para a Espiritualidade
600.Introdução
ao estudo dos fenômenos psíquicos. Os fenômenos psíquicos são
representados pelas manifestações primeiras da psique e ainda pelas
propriedades que oferecem, sem incluir a causa substancial que
eventualmente tenham.
Portanto,
no seu primeiro momento, o estudo dos fenômenos psíquicos não
inclui ainda a questão da alma, ou outro fundamento, que se queira
dar como princípio dos mesmos.
Ocorre
aqui um paralelismo com a filosofia natural ao estudar aos corpos. A
respeito destes também se pergunta primeiramente pelos seus
fenômenos e propriedades, antes que se indague de sua natureza
substancial.
Redivide-se
o estudo dos fenômenos psíquicos em artigos significativos:
-
natureza psíquica do conhecimento (vd 602);
-
natureza dos impulsos sensíveis e da vontade (vd 631).
-
em especial sobre o subconsciente e os fenômenos parapsicológicos
(vd 668).
ART.
1-o. NATUREZA PSÍQUICA DO CONHECIMENTO. 2211y602.
603.
Do conhecimento há a considerar aspectos como:
-
intencionalidade, mimese e faculdades de conhecimento (vd 605);
-
conhecimento sensível (vd 618);
-
conhecimento intelectivo (vd 624).
§1.
INTENCIONALIDADE, MIMESE, FACULDADES DE CONHECIMENTO.
606.
Conhecimento e intencionalidade. O conhecer é a ação de atender a
objetos. Este atender se denomina intencionalidade (de intenção,
equivalente a atenção). É o grande acontecimento que sempre está
presente nos fenômenos psíquicos.
Importa
destacar que o conhecimento não é apenas um fenômeno psíquico,
mas também lógico (vd 26) e gnosiológico (vd 781), porque também
se refere ao objeto conhecido.
Descreve-se
também ao conhecimento como uma maneira sui generis de possuir um
objeto, pela posse intencional. Este sentido de posse está contido
em certas terminologias como em apreensão (do latim aprehensio),
percepção (de per-capere), conceber e conceito (de cumcapere).
Com
referência à posse sui generis do objeto, consiste ela numa posse
não potencial (ou não subjetiva), porém objetiva, isto é, como
objeto conhecido. A posse potencial é a que completa ou aumenta a
entidade de quem a recebe. A posse objetiva é a que mantém o outro
como outro, portanto como distinto. É a posse do outro como outro,
isto é, do outro enquanto outro objeto, colhido apenas
intencionalmente.
O
que mais caracteriza a intencionalidade é um certo caminhar da ação
cognoscitiva, que se move do sujeito para o objeto.
Mas
este caminhar é intencional não um caminhar de ordem entitativa
como sucede no deslocamento de uma posição para outra. Como o
atender intencional tem um ponto de partida e um de chegada, o de
partida se denomina sujeito e o de chegada objeto. O sujeito, ao
atender para fora de si, é como que é transposto (intencionalmente)
para o objeto.
O
sentido do sujeito é o de estar essencialmente virado para fora de
si mesmo. Nesta condição o sujeito é um ser para... O sujeito é,
por conseguinte, um ser excêntrico, isto é, com um centro de
atenção fora de si mesmo.
Para
frisar o caráter intencionalístico do conhecimento se pode dizer, -
em paralelo com a palavra atenção, - cognição e intelecção.
Estas palavras, ainda que não se refiram diretamente à
intencionalidade, a expressam pelo menos pelo contexto em que são
usadas. Lembram algo de ativo e peculiar, que se ocupa com objetos.
Finalmente
falta anotar que a ação cognoscitiva é imanente. Isto quer dizer
que permanece em quem a exerce e o aperfeiçoa ao modo de qualidade.
Assim, obter conhecimentos é alcançar perfeição.
Enquanto
inseparável, a capacidade de conhecer se diz uma propriedade do
espírito.
607.
Noção de intencionalismo. Chama-se intencionalismo aquela doutrina
que conceitua o conhecimento como relação intencional, em contraste
com o seu aspecto meramente psicologístico.
Psicologismo
se diz da interpretação que trata o conhecimento como coisa, ainda
que de natureza superior. Esquece-se de que o conhecimento é
intencionalidade e que nesta condição é um ente sui generis e não
ao modo dos entes concretos.
O
intencionalismo sempre foi doutrina vigente nas filosofias
tradicionais, como de Aristóteles e da escolástica, mais nunca
expressamente desenvolvida. Foi surgir com insistência no final do
século 19, sob influência escolástica e neokantiana, como reação
ao psicologismo.
Franz
Brentano (Psicologia do ponto de vista empírico, 1874), Edmund
Husserl (Investigações lógicas, 1900) são notáveis
intencionalistas. Os psicólogos da escola de Würzburg (Marbe,
Külpe, Messer) enquanto combatem o associacionismo contribuíram
para o intencionalismo.
Também
os existencialistas
Heidegger
e Sartre foram insistentemente
anti-psicologistas.
O
psicologismo, com este nome, se desenvolveu no século 19, com a
tendência de tudo explicar pela psicologia. Escrevia então Theodor
Lipps que a "lógica é a física do pensamento ou não é coisa
alguma" (Lipps, O tema da Teoria do Conhecimento, em
Philosophische Monatshefte, vol. 16, 1880, citado por Husserl, em
Investigações lógicas).
A
mentalidade do psicologismo já se encontra presente no empirismo
associacionista inglês, notadamente em Hume (1711-1776). Observa-se
ainda no associacionismo de Wundt e Tichner.
608.
Como decidir entre intencionalismo e psicologismo? A prova deverá
resultar da simples observação.
Ou
o conhecer é apenas um ente, como um ente entre outros entes da
mesma natureza.
Ou
o conhecer é um sujeito a mover-se de modo peculiar em direção a
objetos, aos quais atende pela via meramente intencional do atender.
Efetivamente,
o que nós observamos é um proceder intencionalistico. Pense-se em
que se quiser e se pergunte quanto se puder, sempre está presente um
objeto.
Uma
idéia é compreendida
em
função ao objeto contido.
Uma
imagem é indicativa da imagem de algo.
Num
juízo, o predicado se atribui como objeto ao sujeito, ou dele é
separado, o que tudo revela a intencionalidade, e não é apenas um
fenômeno psíquico.
Num
raciocínio, composto sempre de juízos, acontece o mesmo caminhar
intencionalístico, agora mais complicadamente, revelando-se melhor
ainda um enredo intencionalístico.
As
propriedades do conhecimento, - evidência, verdade, certeza, -
apresentam feições intencionalísticas: a evidência é a evidência
de algo; a verdade é a verdade de algo; finalmente, a certeza é a
certeza de algo.
Até
mesmo a teoria da mimese, de que adiante se tratará, somente tem
sentido em uma situação intencionalística.
A
consciência, - ou a dupla intencionalidade de que também se passará
a tratar, - é uma prova da doutrina intencionalística.
609.
Consciência, ou dupla intencionalidade. O pensamento se desenvolve
com dupla intencionalidade, - a direta e a reflexa.
O
primeiro instante do conhecimento se denomina intenção direta ( =
recta intentio), ou primeira intenção (= prima intentio); equivale
a dizer atenção direta, ou primeira intenção, ou simplesmente
primeiro conhecimento.
O
outro instante, além de se denominar, por paralelismo, de segunda
intenção, ou ainda intenção reflexa, tem o nome de consciência,
ou mesmo reduplicativamente consciência reflexa.
A
consciência éuma auto-observação.
Não
saberíamos, que conhecemos,
se
não pudéssemos, ao mesmo tempo que
exercemos
conhecimento,
conhecer
que conhecemos.
Consciência
é palavra de acepções oscilantes. O seu significado básico se
prende ao de dupla intencionalidade, e portanto ao de conhecimento
reflexo, que o espírito tem de seus próprios atos e estados
afetivos. Um outro sentido, como ocorre em Kant, reúne sob este
vocábulo os conhecimentos imediatos; este é o sentido que tem em
expressões como em "dados imediatos da consciência".
Reduz-se
a esta última modalidade a expressão "consciência moral".
Esta não é senão o conhecimento da lei ao ser aplicada em um caso
particular (Cf. Ética, c. 1). A rigor, toda a consciência é
consciência psicológica. Ao se atender ao conteúdo da consciência,
opõe-se consciência moral (indicativa de conteúdo) à consciência
psicológica.
610.
Psicologia de auto-observação e psicologia do comportamento. A
existência de uma consciência reflexa alarga o campo da psicologia,
para espaços novos e distintos dos limites da observação exterior
(ou objetiva).
A
auto-observação e a observação exterior cabem ambas na psicologia
filosófica e na psicologia experimental. Todavia a psicologia
filosófica tem trânsito fácil na observação interior, e a
psicologia experimental melhor trabalha com a observação exterior
(ou objetiva), onde os conceitos são operacionais (vd 214).
Note-se
que o conceito operacional enuncia relações extrínsecas entre o
definido e um outro objeto, sendo este ordinariamente experimental,
podendo mesmo organizar-se como uma técnica.
O
comprimento em definição operacional se indica por meio de medidas.
O calor se conceitua operacionalmente como algo que dilata ou, como
algo que move a coluna do mercúrio de um termômetro. O termo se
define em função do movimento.
Em
psicologia se conceitua também operacionalmente. Assim se pode
definir operacionalmente a inteligência, como sendo a capacidade de
resolver problemas ou questões que se ofereçam, como teste, de onde
se extrai o quociente intelectual (Q.I.). A psicologia experimental é
operacional porque estuda o psiquismo em função à efeitos
exteriores.
Em
consequência, a psicologia pode desenvolver-se em dois planos. Na
faixa da experiência interior, aberta pela auto-observação, e na
da observação do comportamento exterior dos seres que exercem vida
psíquica.
Ambas
as modalidades de observação sofrem limitações.
A
introspecção está sujeita à relatividade, porque os estados
psicológicos não são homogêneos. Cada pessoa tem o seu tipo de
pensamento. Divergem ainda os tipos nas diferentes idades do mesmo
indivíduo.
Tais
diferenças somente poderão ser estudadas por métodos objetivos,
como já se adiantou, ao modo das ciências experimentais (vd 214).
De
outra parte, a consideração objetiva dos fenômenos revela
inadequadamente o fenômeno psíquico em si mesmo. Apenas a
introspecção nos pode oferecer à vivência precisa do psíquico.
A
escola da psicologia do comportamento, ou do Behaviorismo (de
behaviorism = comportamento), se limita ao estudo do comportamento ou
das reações. Sistematizada por John Broadus Watson (1878-1958),
desenvolveu-se com variantes, todas geralmente com conclusões
deterministas.
Atenda-se,
porém, que Watson pretendia definir uma psicologia experimental.
Supunha que uma psicologia introspectiva derivava necessariamente
para a psicologia dedutiva e portanto racional.
611.
A mimese, teoria explicativa do conhecimento. Que há nos seres para
que possam exercer conhecimento? E que falta, quando não o exercem?
Aqui
nos encontramos frente a uma pergunta típica de psicologia racional,
porque solicita uma explicação meramente raciocinativa. Busca saber
de que modo a propriedade de conhecer brota, por efeito formal, de
uma natureza que lhe dá origem, sem a qual não surgiria.
A
teoria da mimese, do grego mímesis (= semelhança, imitação) parte
do princípio de que o semelhante acusa o assemelhado. Ora se o
semelhante acusa o assemelhado, esta semelhança impressa na mente,
faz conhecer os objetos assemelhados.
A
semelhança impressa na mente é chamada de "species impressa"
(= face impressa), no tecnicismo clássico. Diz-se também
simplesmente "impressão", na suposição de que a
impressão use ser semelhante ao objeto que a imprimiu.
Ter
tais impressões, que produzem a intencionalidade cognoscitiva, eis o
que se denomina "faculdade de conhecimento". A faculdade de
conhecimento não é mesmo conhecimento, mas a impressão capaz de o
exercer. Mais exatamente é a capacidade de assumir impressões.
612.
Impressão e expressão. A mimese se dá em tempos sucessivos.
Primeiramente ocorre a base física, da impressão. Como a estátua,
que, antes de ser semelhante e geradora da representação da pessoa,
é matéria, assim também a impressão é uma forma psíquica de
ordem entitativa, antes de tudo.
Na
mente, a coisa física é uma qualidade real que ali se imprime e que
por isso se chama impressão. Também na sensação ocorre uma
impressão, de que alguns aspectos fisiológicos são observáveis
experimentalmente, ao incidir a luz sobre o nervo ótico, o som sobre
o ouvido, o calor sobre o tato.
A
impressão é pois um nome comum a várias faculdades de
conhecimento, porque em todas ocorre o mesmo processo entitativo
inicial. Por isso há a distinguir entre impressão sensível e
impressão mental, esta última do pensamento.
Num
segundo tempo, esta qualidade impressa deverá exercer-se como
semelhança. Em decorrência passa a denominar-se "semelhança
impressa", do latim species impressa (= face impressa) ou ainda
forma impressa e figura impressa.
As
coisas se distinguem entre si, exatamente por causa da qualidade;
enquanto se distinguem, também conferem em algo. E assim, enquanto
se aproximam, se assemelham. Enquanto se diferenciam, não se
assemelham.
Em
conseqüência o que houver na mente, pode assemelhar-se a alguns
objetos do mundo exterior, a outros não.
Em
terceiro lugar, da relação de semelhança brota uma conseqüência
formal, a de acusar intencionalisticamente os seus assemelhados.
Desta sorte, o conhecimento nasce como uma conseqüência
necessitante do fato mesmo da semelhança, a qual se conscientiza de
si mesma. Da impressão resulta a expressão (da species impressa a
species expressa).
No
caso da estátua, nasce da figura semelhante a noção da pessoa
figurada. Neste último caso a noção requer uma interpretação por
parte de quem aprecia a estátua. Ela mesma, a estátua, não se se
lhe descem as condições faltantes chegaria a isto.
Na
mente todas as condições se dão consequentemente, a própria mente
é capaz de exercício de conhecimento.
Conforme
em seu lugar se esclarece (vd), a arte se funda na teoria da mimese.
Enquanto imita seus objetos, - sejam naturais, sejam abstratos, sejam
totalmente criados pelo atista, - a obra material expressa aos
mesmos.
613.
Teoria das faculdades de conhecimento. As semelhanças, para que
sejam impressas no ser conhecedor, supõem que este algo seja possa
facultar em si esta marca. Eis o que é a faculdade.
Como
a cera, para receber a impressão do anel, importa em ser previamente
capaz de a poder receber, a mente possui previamente a capacidade do
exercício de conhecer. A capacidade prévia de receber a impressão
dos objetos e reconhecê-los como tais, é a faculdade de
conhecimento, como uma qualidade natural.
Sistematizando
ainda mais, pode-se dizer que a faculdade é uma qualidade permanente
enquanto permanecerem as atuais circunstâncias do sistema psíquico.
Em
última instância se trata de um psiquismo que todos os seres são
capazes de desenvolver, na suposição de que seja válida a
interpretação monista da natureza (vd 584) e que já as unidades
elementares tenham a tendência de agir umas sobre as outras,
equilibrando-se.
Supõe-se
que a faculdade do conhecimento possa ter estados iniciais de nenhum
exercício efetivo de conhecimento, como nos estágios iniciais da
vida e no sono, mas que efetivamente elas sempre existam
potencialmente.
Aristóteles
defendeu que não há conhecimentos inatos, todos têm origem em
alguma percepção.
Platão
e Descartes defenderam o inatismo das idéias universais. As
percepções singulares, apenas seriam de origem eventual.
O
idealismo apriorista da teoria do conhecimento de Kant (vd) defendeu
ainda que ocorrem formas a priori anteriores às impressões
sensíveis e ainda formas a priori anteriores aos conceitos .
614.
Fundamento da diversificação das faculdades de conhecimento. Querem
uns que as faculdades de conhecimento se diversificam, enquanto
outros negam a sua multiplicidade.
Tradicionalmente
se distinguem faculdades específicas, para os diversos escalões do
conhecimento. Diversificar-se-iam as faculdades por objetos formais
distintos.
Aristóteles
estabeleceu cinco faculdades de conhecimento sensitivo externo
(visão, ouvido, tato, gosto, olfato), duas faculdades sensíveis
internas (imaginação e memória) e uma faculdade superior, ou
racional, denominada inteligência.
Kant
(vd) redividiu a inteligência, única no dizer de Aristóteles, em
três faculdades, a saber, do entendimento, do juízo, da razão.
Bérgson
(vd) distinguiu entre inteligência e intuição.
Outros,
como Jouffroy negam a diversificação das faculdades. A mente teria
uma capacidade generalizada para o exercício do conhecimento dos
objetos, de sorte a receber indiferentemente as impressões.
É
possível imaginar um estágio indiferenciado das faculdades de
conhecimento. Não obstante elas existiriam distintas. Com a
especialização da estrutura orgânica do ser vivo, cada faculdade
teria as suas oportunidades de se desenvolver. Assim é possível
imaginar que os animais desenvolveram um tipo de inteligência e os
homens outro.
Nos
seres humanos é notável, como uns seguem por vias metodológicas
diferentes, que outros. Assim as mulheres caminham mais pelas vias da
analiticidade, os homens mais pelas vias da sinteticidade.
615.
Prova-se a distinção das faculdades de conhecimento advertindo para
a necessidade de uma proporção, entre aquele que recebe a impressão
de semelhança e o objeto assemelhado impresso. Cada modalidade de
objeto precisa de uma região especial.
No
primeiro instante a suposição parece gratuita, porque o que pode o
mais, pode o menos. Em parte é verdadeira a advertência, porque o
que está acima tem debaixo de si os inferiores.
Todavia,
há aqueles objetos equívocos, que não podem estar sob a graduação
de um mesmo objeto formal. Assim é que para os diferentes tipos de
objetos, se fazem necessárias capacidades distintas.
Preparada
a vista, para receber as cores e não para os sons, seu objeto se
limita. Em consequência a vista fica sendo uma faculdade distinta
das demais.
E
assim ocorre com o ouvido, que conhece sons.
Com
o tato, que percebe as qualidades do seu gênero.
Finalmente,
com a inteligência que intelige o ser.
O
mesmo faz o artista ao utilizar materiais mui diferentes para
mensagens distintas não só em graus, também do ponto de vista da
espécie.
§
2. O CONHECIMENTO SENSÍVEL. 2211y618.
619.
A sensação se define como sendo o conhecimento das qualidades
físicas dos corpos, tais como a cor, o som, o tato, o sabor, o odor,
mesmo quando se façam acompanhados de elementos subjetivos.
Ocorre
uma nítida aproximação entre a psicologia do conhecimento (à que
cabe o estudo das faculdades) e a teoria do conhecimento (à que
pertence determinar em que tudo se dá em termos de conteúdo
conhecido).
Tantas
são as espécies de sensação, quantas forem as modalidades
específicas de objetos formais. Em decorrência se estabeleceu a
lista das cinco faculdades de sentir, ou cinco sentidos, consagrada
por Aristóteles.
Outros
acrescentam à lista as faculdades do sentido térmico, exercido
pelos corpúsculos de Meissner e Ruffini, que perceberiam as
sensações de calor e de frio.
A
sensação sexual não é um sentido próprio. Reduz-se ao sentido
táctil. Este é acionado pela pressão, criada pela ereção, entre
as células. Toda vez que isto sucede, tem sequência o prazer
sexual.
Há
que distinguir entre sensação, que é um conhecimento, e o
sentimento. O que seriam os sentimentos, como prazer e dor? Como se
mostrará depois (vd 647), os sentimentos, de que são variantes as
emoções, as paixões, os prazeres, etc., são estados de alma,
ditos também estados psíquicos, decorrentes do sentir.
Assim
é que dos conhecimentos sensíveis se fazem seguir prontamente
estados de emotivos, e que podem ser os mais diversos, de satisfação
uns, insatisfação outros.
Importa
não confundir, pois, a sensação com os sentimentos e as emoções
decorrentes. Primeiramente acontece o conhecimento, com objeto.
Depois decorrem os estados consequentes, sem novo objeto.
620.
Sentidos externos é o nome que se dá a um primeiro grupo de
sentidos, porque operam com órgãos especiais e qualidades sensíveis
concretas.
No
ser humano, entre os sentidos exteriores se destacam os assim
chamados sentidos superiores, como a vista e o ouvido. Ordinariamente
oferecem mais precisão de informações, motivo de sua
superioridade.
Aristóteles
diz que a vista é a preferida entre todos os sentidos, por causa do
maior número de informações que oferece.
Ao
sentidos inferiores são mais indiferenciados, pelo menos no homem.
Suas informações são menos precisas. Todavia são violentamente
afetivos. Isto se observa na intensidade dos estados de prazer e de
dor que eles oferecem.
Com
referência aos animais em geral, uns têm altamente aguçada a
vista, como a águia, outros praticamente não enxergam, como o peixe
e o carrapato. Pela inversa, o peixe goza de excelente sensação
táctil, e o carrapato de excelente percepção do odor. Os insetos,
além da vista, são altamente beneficiados pela percepção do odor.
Os
sentidos superiores são menos emotivos. São chamados sentidos
estéticos, tanto pela maior capacidade de informação, como pela
serenidade sentimental.
Tem-se
ainda anotado outras subtilidades a propósito dos sentidos. Eis a de
um dos autores da Enciclopédia francesa: "dos sentidos, o mais
superficial é a vista; o mais orgulhoso e inconstante, o gosto, e o
mais profundo, o tato" (Denis Diderot).
Os
sentidos obedecem uma lei de intensidade da excitação, com
extremos, - a excitação mínima (limiar inferior do estímulo) e
excitação máxima (limiar superior).
Subordinam-se
à lei da capacidade de sentir as diferenças de intensidade das
sensações (limiar diferencial).
Obedecem
também os sentidos à lei da relatividade, ou seja do conteúdo da
sensação, que varia de acordo com as sensações que a precedem ou
a acompanham. É o caso do branco que se manifesta mais branco ao
lado do preto.
A
psicologia filosófica não encontra campo vasto para se ocupar no
estudo das sensações. O que se faz conhecer filosoficamente pouco
ultrapassa às informações obtidas pelos recursos da psicologia
experimental.
Com
referência à objetividade ou realidade das qualidades sensíveis
(geralmente consideradas subjetivas), eis outra questão importante,
mas que pertence à teoria do conhecimento (vd).
621.
Imaginação e memória, sentidos internos. A imaginação e a
memória (vd 622) são faculdades sensíveis internas. Este campo da
consciência interior é obscuro e polêmico. Basta dizer que é a
região da parapsicologia.
Sua
importância é incontestável, porque a imaginação e a memória
são os comandos subtis da nossa vida interior e de nossa
personalidade, são o berço de ouro das aspirações.
A
imaginação (de imagem) é a faculdade que possibilita manter a
imagem do objeto independentemente da presença continua deste mesmo
objeto, que afetara os sentidos externos.
A
existência desta imagem interior pode ser interpretada de duas
maneiras.
Ou
é uma imagem nova, que reduplica a imagem intuitiva dos sentidos
externos; neste caso haveria uma faculdade efetivamente distinta da
do sentido externo.
Ou
é a imagem dos sentidos externos em perduração; nesta hipótese
não haveria verdadeiramente uma nova faculdade.
Acredita-se
que a imaginação seja uma faculdade específica.
Alegam
outros que não é de duvidar que as imagens da imaginação nada
ofereçam de novo com referência aos sentidos externos. Deles se
diferenciariam apenas pela menor intensidade. Consequentemente seria
admissível que a imaginação não seja faculdade específica.
A
imaginação é criadora
quando
combina entre si as imagens.
Nesta
nova condição leva a denominação de fantasia.
No
grego fantasia é o equivalente latino de imaginação. Havendo
passado entre nós a significar apenas a imaginação criadora e
caprichosa, o termo fantasia perdeu sua importância como tecnicismo
filosófico. Ficou com isso limitada ao uso da linguagem corrente e
da arte.
Os
sentidos externos e a imaginação, inclusive na sua forma criadora,
formariam um só grande sistema de sensação, pelas considerações
que acabamos de fazer.
A
teoria associacionista esclarece que as imagens se prendem ou se
atraem, pela semelhança (Lei da semelhança), contraste (Lei da
contiguidade).
O
associacionismo como doutrina procura explicar todos os processos
mentais, inclusive da inteligência, pela associação das imagens e
não pelas conexões meramente lógicas. Neste sentido contribuíram
os pressupostos empiristas e positivistas dos autores que o
defenderam. Hume, Stuart Mill, Bain, Taine, Spencer.
A
psicologia da forma pretende que as associações se façam como
conjuntos ou grandes esquemas.
A
respeito da imaginação, muito tem descoberto a psicologia
experimental, mas que não cabe agora anexar à filosofia.
622.
A memória é uma faculdade de conhecimento sensível, que trabalha
em conexão com a imaginação, cujas imagens reaviva, geralmente por
associatividade.
Como
isto se dá não se consegue determinar com precisão. Condiciona-se
esta questão ao que já vem determinado pela teoria da faculdade da
imaginação. Se a imaginação consistir apenas na faculdade de
reter as imagens intuitivas enquanto os objetos se ausentam, a
memória deverá ser interpretada na mesma linha de continuidade.
Consistirá então a memória na capacidade de reavivar imagens
retidas.
A
memória é então como uma estátua interior, a qual, sempre que
vista, desperta toda a imagem tida anteriormente.
O
despertar das imagens memorizadas ocorre por ocasião de novos
conhecimentos, os quais não precisam ser de todo iguais. Posto o
conhecimento estímulo, mesmo que em parte apenas igual, surge a
imagem inteira do fundo da memória.
O
reavivamento das imagens retidas mediante novos objetos estímulos, é
o processo peculiar da memória. Tem o nome de recordação. Posto um
objeto estímulo, as imagens tidas anteriormente se reavivam. O
conhecimento que estimula a memória em dimensão maior, é como a
estátua que faz surgir a história de um homem.
O
processo de reavivamente da memória se dá em dois tempos. Num
primeiro, o objeto estímulo se apresenta como um conteúdo de valor
absoluto. É um objeto de conhecimento como um outro qualquer.
Num
segundo tempo, no qual ocorrem as leis da associação das imagens,
desperta e reaviva as demais imagens associáveis ao objeto estímulo
presente. Para o primeiro tempo, seja o exemplo de uma flor, que se
vê no jardim. Num segundo tempo ela associa, recordando ou
reavivando outras imagens.
623.
Memória, linguagem e poesia.
A
linguagem é um sistema não só de símbolos, mas também de
estímulos, que acordam imagens adormecidas e associadas. Por causa
desta cadeia associativa, todo um processo do conhecimento se põe em
ação.
Dado
que em cada indivíduo o mundo associativo se formou com alguma
diferença, a mesma palavra não fala do mesmo modo às diferentes
pessoas. Esta diferença imediatamente se percebe quando adultos
falam às crianças, e as crianças aos adultos. Mas também acontece
de adulto para adulto, de criança para criança.
A
poesia, como processo evocativo, é a utilização inteligente da
associatividade dos objetos estímulos. Não tem em mira a enunciação
direta dos conteúdos dos objetos (que poderão ser a flor, o
coração, a mulher, a estrela, as nuvens, etc.), mas o que eles,
como estímulos associativos, podem evocar.
Com
referência à memória, muito mais tem a dizer a psicologia
experimental, do que a racional. Recomenda, entretanto, a filosofia
que se dê atenção ao que a experimental tem a dizer mais.
§
3. O CONHECIMENTO INTELECTIVO. 2211y624.
625.
A superioridade de inteligência como característica do animal
humano é insofismável e seque se discute.
O
que pode estar em questão é a exclusividade da inteligência
humana. A interpretação angelista do ser humano lhe atribui esta
faculdade como exclusiva entre os animais. Parece entretanto certa a
presença da inteligência no comportamento de todos os animais,
ainda que seja de uma inteligência menor e tipificada.
É
notório também que os sentidos do animal humano são por vezes
inferiores aos sentidos de alguns animais, e também são tipificados
em todos eles.
A
questão do conhecimento intelectivo se destaca em psicologia, tanto
porque interessa o assunto em si mesmo, como ainda para que se possam
apreciar as comparações.
626.
Define-se a faculdade da inteligência, como sendo a capacidade da
mente de alcançar os objetos sob a perspectiva de verbo ser, como
quando se diz que algo é, ou não é.
Portanto,
é o ser o objeto formal que define essencialmente a inteligência.
Várias
são as perspectivas que se podem considerar no ser, quando dito
objeto da inteligência. Esta variedade de perspectivas são de ordem
bastante diferenciada, e são tratadas mesmo por ciências bastante
distintas.
Quando
se indaga simplesmente pela validade deste conteúdo do conhecimento,
a questão pertence à teoria do conhecimento.
Quando
a questão é meramente formal, pertence à lógica, então ocupada
em dizer que os objetos das faculdades sensitivas de conhecimento são
outros.
Finalmente,
a psicologia apenas se ocupa do conhecimento como uma espécie de ser
diferente de outros seres. A psicologia cuida da faculdade do
conhecimento, no caso a inteligência, enquanto um psiquismo.
Opõem-se
intelectualistas e sensistas sobre a existência ou não de uma
faculdade específica da inteligência.
É
claro que a faculdade da inteligência somente pode ser considerada
específica na dependência de um objeto também específico. Este
objeto específico alcançado pela inteligência seria o ser. Tal
admitem sobretudo as filosofias racionalistas, e que por isso são
intelectualistas no que se refere ao conhecimento, que dividem em
sensível e intelectual.
Diferentemente,
para os sensistas, a inteligência é apenas um estágio mais subtil
das sensações. Assim já diziam na antiguidade os sofistas, e foi
defendido modernamente por alguns empiristas, como Hobbes e Hume.
Como
decidir entre intelectualismo e sensismo?
Já
a psicologia experimental pode tentar averiguar os fenômenos e
tentar, a partir dos mesmos decidir sobre a querela entre
intelectualismo e sensismo.
Julgam
poder provar a diferença entre sensação e idéia, psicólogos
experimentais como Binet, Buhler, Messer e outros.
Desde
que se mantenham as funções do pensamento como sendo de verbo ser,
pouco importa insistir que os sentidos se aproximam da inteligência.
627.
Operações mentais. Surge o ser em termos de conceitos, juízos,
raciocínios, - três operações mentais da faculdade da
inteligência.
O
centro das operações mentais ocorre no juízo. O conceito é apenas
uma parte do juízo, em que está como sujeito, ou como sujeito.
Sempre pensamos em termos de juízo, ao formularmos o raciocínio.
Este se exerce visivelmente como um enredo de juízos, tanto nas
premissas do antecedente, como na proposição conclusiva.
Em
qualquer de tais situações operativas, o ser é o objeto formal do
pensamento, aquele que marca a faculdade superior da inteligência
como diferenciada das demais. Troquem-se os predicados ou os
sujeitos, jamais se ausenta o verbo ser.
A
lógica trata das operações mentais como elas simplesmente se
apresentam como formas de pensar.
A
psicologia pode verificar que uns as exercem com mais inteligência e
outros menos. Pode ainda mostrar que ocorrem diferenças de
personalidade que afetam as operações mentais, até mesmo nos
detalhes. Uns são de inteligência mais analítica, - sobretudo as
mulheres, - outros de inteligência mais sintética, - sendo este o
caso dos homens (vd).
628.
Unidade da inteligência como faculdade. A divisão em operações
mentais não resulta em divisão da inteligência em várias
faculdades, conforme parece à maioria.
As
operações mentais se distinguem apenas pelas conexões lógicas de
que se ocupam. Todas as conexões se exercem no âmbito do mesmo
objeto formal, geral, o ser.
Tal
foi à doutrina de Aristóteles, seguido pelos escolásticos e ainda
por grande parte dos filósofos modernos.
Alguns
outros, não obstante, no caso particular da inteligência, a
redividem em várias faculdades. Kant apresentou um elenco de três
faculdades da inteligência:
-
a faculdade do entendimento, que tem por objeto os elementos
constitutivos dos objetos, que são enunciados por conceitos e
juízos;,
-
a faculdade da razão, que opera com a cursividade raciocinativa, da
razão pura e pratica,
-
a faculdade do juízo, que não julga os elementos constitutivos dos
objetos, como faz o entendimento, mas aos objetos, enquanto vistos
como um todo formado frente a um ideal arquétipo, ou um fim, a
realizar.
A
doutrina das faculdades, pelo que resultou da exposição, oferece
dificuldades e dúvidas. É preferível duvidar bastante e questionar
insistentemente, do que firmar-se sobre o que efetivamente é
movediço.
Chegar-se-á
finalmente a depurar o pouco que efetivamente é passível de
segurança. "Se alguém começa algo com certeza, terminará com
dúvidas; porém, se se conforma em começar com dúvidas, conseguirá
terminar com certeza" (Francis Bacon, Advancement of lerrning,
liv. 5-8).
ART.
2-o. NATUREZA DOS IMPULSOS SENSÍVEIS E DA VONTADE. 2211y631.
632.
O agir é também próprio do psiquismo, e se redivide em faculdades.
Do agir psíquico há a considerar aspectos, em parágrafos
distintos, como:
-
faculdades da ação instintiva e faculdade volitiva (vd 634)
-
Em especial sobre a liberdade da vontade (vd 641);
-
estados de alma - emoções e sentimentos (vd 657).
§
1. - FACULDADES DA AÇÃO INSTINTIVA E FACULDADE VOLITIVA. 2211y634.
635.
Divisão do agir psíquico, em instintos e vontade. O ser humano, uma
vez dotado por sentidos e inteligência, age respectivamente por
impulsos sensíveis e vontade racional.
O
paralelismo do conhecer e do agir acontece, porque a ação é
psíquica quando o objeto visado é anteriormente iluminado pelo
conhecimento. Assim é que o impulso sensível acontece depois de se
apresentar o objeto sensível, e a vontade (que se pode dizer um
impulso racional) ocorre depois de conhecido o objeto alcançado pela
mente.
Uma
vez percebida a diferença dos impulsos sensíveis e da vontade
racional, pela maneira diferenciada de conhecer o objeto da ação,
ainda é notável que os impulsivos são determinísticos e a vontade
é livre. Este caráter é significativos sobretudo no que se refere
à liberdade, que, por isso mesmo se tratará aditivamente em
separado (vd 641)
E
nisto tudo, que dizer da ação psíquica dos animais? Costuma-se
dizer que os animais têm ação instintiva, em que conferem com o
homem. Quanto à ação racional, depende da quantidade de
inteligência que cada espécie animal tenha.
A
ação também existe nas plantas e nos corpos físicos em geral.
Agora parece haver uma grande diferença. Faltando à ação das
plantas e dos corpos físicos presença iluminadora do conhecimento
do objeto ao qual se dirigem seus movimentos, não podem eles ser
senão meramente físicos e biológicos.
A
ação consciente, seja instintiva, seja volitiva, é uma modalidade
de fenômeno psíquico incontestável no ser humano, e é por este
caminho que a estudamos aqui.
Importa
distinguir ainda entre a ação e estado psíquico consequente à
ação. Estes estados psíquicos consequentes se chamam sentimentos,
afetos, paixões. Classificam-se em espécies, como amor e ódio,
prazer e alegria, tristeza, etc., que abordaremos por último (vd
657).
636.
Terminologia: impulso, vontade, inclinação, apetite. Dado o caráter
vago dos impulsos instintivos e volitivos, bem como a indefinição
dos estados psíquicos, toda a terminologia se torna igualmente
movediça e dependente do contexto em que é usada.
Há
termos que tendem a ser específicos, mas que permitem a inversão.
Tendem a ser ligeiramente específicos, os termos impulso (ou
instinto) e vontade (ou querer).
Outros
são visivelmente genéricos, como inclinação, que se podem dizer
de fenômeno tais como os movimentos mecânicos, tão bem quanto o
dos instintos e da vontade. Até mesmo impulso admite algum tanto ser
generalizado em seu significado.
Apetite
(do latim ad petere = desejar, pedir por) significa uma tendência de
faixa bastante limitada. Dilatou-se, entretanto, como em apetite
natural, no sentido de tendência inata, de todas as coisas, para o
que convém à sua respectiva natureza intrínseca. Apetite elícito,
que significa a petição com prévio conhecimento da forma a
realizar, ainda que natural, pelo impulso. Nesta condição, o
apetite elícito equivale ao impulso psíquico.
São
de menor importância as distinções entre tendência e inclinações.
Nesta colocação, tendência indica, num sentido geral, as
tendências naturais, ou instintos, ligadas às necessidades mais
fundamentais do ser vivo: e às tendências secundárias, ou
inclinações, às necessidades de segunda ordem.
As
mesmas palavras, - tendência, inclinações, apetites, - poderão
circular em qualquer contexto, desde que se mantenham globalmente
distinguidas dos estados afetivos, os quais por sua vez são também
conhecidos por muitas denominações (vd 660).
Significativa
é a distinção entre as tendências sensíveis, chamadas instintos,
e as tendências racionais, chamadas vontade. Nesta distinção,
instinto separa todo o plano sensível, do plano racional, da
dinâmica psíquica.
637.
Natureza das faculdades do agir. As ações instintivas e volitivas
são desfechadas por comandos, chamados faculdades do instinto e da
vontade.
O
que importa saber, primeiramente, é, - se ditas faculdades são as
mesmas que geram o conhecimento? Ou, - se elas são distintas das
faculdades de conhecer, tendo apenas a iluminação prévia do
referido conhecimento?
Na
primeira hipótese o instinto seria um momento final da sensação e
a vontade igualmente um instante último do pensamento. Não haveria
faculdades específicas.
O
instinto seria então o momento em que a noção de uma operação da
faculdade sensível dominasse sobre outra. Não passaria de uma
operação da faculdade sensível de conhecimento.
A
volição não passaria de ser o instante em que uma idéia
prevalecesse sobre outras. Então, a ação deixaria de ser uma
eleição da vontade e sim uma ação guiada pela idéia dominante.
Não teria havido uma decisão de vontade específica, que por
conseqüência não seria uma faculdade propriamente volitiva.
Na
segunda hipótese, haveria faculdades operativas distintas,
impulsivas ao lado das cognoscitivas iluminadoras.
O
instinto seria uma estrutura capaz de agir por si mesma, ainda que
esta estrutura esteja precedida pelo conhecimento sensível do
objeto.
A
vontade, igualmente, seria uma faculdade específica, de ordem
racional, capaz de decidir por sua iniciativa, sendo a iluminação
cognoscente dos objetos apenas uma condição prévia de sua
operatividade.
638.
Historicamente sobre a distinção instinto e vontade. Sempre se
distinguiu entre instinto e vontade, ainda que nem todos distingam
por igual estas duas faculdades do agir.
A
hipótese tradicional, desenvolvida por Aristóteles, escolásticos,
Kant, Bergson, coloca, sob os fenômenos cognoscitivos e impulsivos,
faculdades especificamente distintas. Coordenando-se entre si,
mantêm-se diversificadas.
As
faculdade cognoscitivas sensitivas apresentam o objeto, que poderá
ser simplesmente apetecido e realizado pelo impulso.
A
faculdade cognoscitiva racional apresenta o objeto, como alternativa,
podendo a vontade, decidir realizá-lo, ou não.
As
teorias, que reduzem a impulsividade ao mesmo processo cognoscente, a
explicam, conforme já adiantamos, como um instante final das
faculdades cognoscitivas e que desta forma simplesmente aderem à
ação. Variam as formulações deste modelo doutrinário.
Para
Descartes a alma inteira é pensamento. Suas propriedades, inclusive
sensações, seriam modos confusos de pensar. Também a vontade foi
reduzida por Descartes ao pensamento, essência da alma.
Espinosa
foi subtil ao interpretar a vontade como uma idéia clara. Em tal
condição, a idéia tenderia a se realizar e assim comandaria a
ação.
Herbart
concebeu a vontade como uma representação-força, com tendência a
dominar as demais representações. Desta sorte prevalece a idéia
dominante na realização concreta da ação.
639.
Prova da existência específica das faculdades impulsivas e
volitiva. Como decidir sobre a maior ou menor distinção entre
conhecimento e ação, seja do impulso, seja da vontade?
A
ação requer um princípio maior que o da simples dominância de um
conhecimento sobre o outro. O impulso é de natureza existencial, ou
entitativa. Situa-se em plano mais fundamental que o processo
cognoscitivo, que é apenas um atender intencional aos objetos.
O
que o conhecimento estabelece na especificação dos impulsos é
apenas o de fazer conhecer os caminhos. Abre caminhos, no sentido de
condicionar, e não no de estimular. O conhecimento, não se define,
como estímulo dos impulsos. É como o canal, que abre caminho, ora
mais largo, ora menos largo, para a torrente passar. A força da
torrente todavia é intrínseca a ela mesma.
§
2. EM ESPECIAL SOBRE A LIBERDADE DA VONTADE.
641.
As muitas implicações que envolvem a questão da liberdade postulam
considerações que recomendam o seu tratamento especial, e que
didaticamente se desenvolvem em dois itens, como a seguir:
-
da liberdade em geral (vd 642);
-
em especial parte sobre as provas da liberdade (vd 649).
I
- DA LIBERDADE EM GERAL. 2211y642.
642.
A diferença entre instintos e vontade se manifesta variadamente. Os
instintos operam frente aos objetos sensíveis e não diante dos
inteligíveis. Despertam para os alimentos. Exercem atividade de
defesa. Ativam-se ao contato erógeno. Seu desenlace é espontâneo,
com determinismo.
A
atividade volitiva, diferentemente, é racional, sendo os seus
objetos ponderados (pesados), com juízos pró e contra, para somente
depois serem eleitos. Os juízos são ditos práticos, porque
realizados em função à prática de uma ação. O último juízo,
que acompanha a ação eleito se diz prático-prático.
A
vontade é, pois, um impulso racional, ao mesmo tempo que livre. Não
é apenas um impulso livre. É também acompanhado pela razão até
ao fim, quando até a linguagem o reproduz, como um eu quero. Por
causa deste acompanhamento ocorre a consciência simultânea da
liberdade do ato.
Os
impulsos (quer sensíveis, quer racionais) se exercem dentro de um
certo comportamento, de que o determinismo dos sensíveis e a
liberdade dos racionais são o caráter mais fundamental e
importante. Determinismo e liberdade são conceitos opostos.
O
determinado se determina,
intrinsecamente
apenas de um modo,
-
para a unidade (ad unum).
Análogo
ao determinismo é o fatalismo, o qual indica uma predeterminação
extrínseca, de potência exterior que fixa os acontecimentos de
antemão.
Neste
caso se subdistingue: determinismo externo e determinismo interno.
Cabe
ao determinismo interno o sentido ordinário da palavra determinismo.
O uso do tecnicismo, que diz determinismo, começa nos fins do século
17 na Alemanha, nos círculos Wolffianos.
O
impulso livre, ao contrário do determinado, se determina
indiferentemente, de muitos modos, cabendo ao agente a escolha.
Define-se a liberdade como sendo a propriedade pela qual a vontade se
determina a si mesma, indiferentemente, a agir e a não agir.
Cabendo
à vontade arbitrar, a liberdade também se denomina livre arbítrio.
No sentido hoje usual, livre arbítrio é o poder de eleger e não
eleger o ato, indiferentemente.
Raras
vezes se denomina à vontade com o nome de livre arbítrio, em vez de
isoladamente arbítrio.
Ainda
que arbítrio derive de arbitrar, tende a opor-se ao sentido de
liberdade. Este outro caráter é bem expresso em "arbitrário",
como indicativo do caráter arbitral de decisão sem consulta e sem
participação dos alcançados.
A
liberdade que se preconiza não é uma faculdade, mas um atributo
desta, ou seja da faculdade da vontade.
643.
O determinismo e educação dos instintos. Os instintos se comportam
com determinismo, segundo convicção universalmente aceita. Agindo
em função ao conhecimento sensível, sem o discernimento do juízo,
independem do sim e do não deste.
O
mecanismo do instinto é admirável pelo fato de só se exercer com a
participação do conhecimento, que lhe oferece a presença do
objeto. Só há fome e desejo de comer, com a visão dos alimentos ou
outra qualquer sensação relacionada.
Só
há instinto de defesa ou de agressão, por parte dos animais
ferozes, com uma situação presente que se faça conhecer. Fora de
tais circunstância vivem sossegados.
Só
há sexualidade em ação, por efeito de contato, que internos, quer
externos, convivência ou outra presença de objeto cujo conhecimento
abre o caminho do desenlace.
Os
instintos se educam, estabilizando sua excitabilidade frente aos
objetos cujo conhecimento os estimula. E, uma vez que os instintos
agem apenas com a presença do objeto, não há outro modo de
formá-los e educa-los, senão os colocando em exercício.
Assim
é que os animais ferozes se amansam com a presença habitual dos
seus inimigos.
Do
mesmo modo, a convivência dos sexos contrários é a condição
prévia da educação sexual (vd).
644.
A liberdade da vontade, numa primeira impressão. A vontade de acordo
com a primeira impressão, parece livre.
Há
efetivamente uma distinção entre liberdade espontânea e a
liberdade ponderada.
Após
um exame profundo, dividem-se as opiniões.
Uns
continuam argumentando pela liberdade.
Outros
a consideram ilusória, porque a acham, em última instância,
determinada. A liberdade espontânea tem aliás muita parecença com
o movimento que se dá sem impedimento. Um cata-vento que se move ao
sopro do vento se move espontaneamente, e poderia pensar, se tivesse
inteligência, que efetivamente é livre.
645.
Classificações da liberdade e respectivas denominações.
A
liberdade é passiva (ou potencial), quando as determinações, ainda
que todas possíveis, não contam com as condições, por parte da
potência livre, para realizá-las.
A
liberdade é ativa, quando o impulso dispõe de dinâmica própria
para se mover. Tal seria a condição da vontade humana caso seja
livre.
A
espontaneidade é a ação de origem no mesmo agente (sponte sua) sem
entrave de causa extrínseca. Não se opõe a necessário ou a
determinado intrinsecamente. É uma liberdade frente a uma coação
extrínseca.
Tal
é a liberdade política de pensamento, de consciência moral e
religiosa. Tal é ainda a liberdade com que os corpos caem no vácuo,
- sempre porque a causa é intrínseca, e se desenvolve sem coação
extrínseca.
A
liberdade frente a coação intrínseca é a liberdade propriamente
dita.
Distingue-se
entre liberdade de exercício e liberdade de especificação.
A
primeira, a liberdade de exercício, se diz simplesmente da
indeterminação ativa, de exercer ou não exercer o ato.
A
segunda, a liberdade de especificidade, já supondo a anterior,
consiste na opção entre várias espécies de determinações do
mesmo ato, como quando se escolhe entre A e B; ou entre B e C; ou
ainda entre A e C.
Do
ponto de vista da matéria, distingue-se entre liberdade psicológica,
e liberdade moral.
A
liberdade psicológica diz respeito ao impulso entitativo
simplesmente.
A
liberdade moral, referente ao dever ser, da ação, na ordem dos
valores.
646.
Espécies de determinismo humano e seus defensores. Têm sido
variadas as concepções sobre a natureza do ser humano, e dali
também porque tem sido variados os determinismos, com destaque o
psicológico, fisiológico, o mecanicista, o teológico.
O
determinismo é psicológico
quando
supõe que a vontade se inclina
para
o bem maior. Foi defendido por Leibniz.
O
determinismo é fisiológico, quando dependente da interpretação de
que a vontade é apenas um ato reflexo, e nesta condição sem
liberdade.
O
determinismo é mecanicista, ou mecânico, quando o homem é
considerado apenas um complexo de forças mecânicas e
consequentemente incapaz de volição livre.
O
determinismo é teológico, enquanto supõe que a vontade é
determinada a um fim externamente estabelecido por Deus.
Generalizadamente
a religião cristã acredita numa predestinação, que em alguns
casos tem caráter de determinismo teológico. Nas variadas
explicações da predeterminação, alguma tendem a descobrir como
ressalvar a liberdade.
O
objeto da predestinação cristã diz respeito sobretudo à salvação
para uma vida eterna ou sua perda.
Foram
bastante radicais as predeterminações como as propuseram Calvino
(1509-1564) e Jansênio (1585-1638), invocando não raro afirmativas
de Agostinho de Hipona (354-430).
Lutero
(1483-1546) defendeu haver ocorrido a corrupção da vontade humana
em conseqüência do pecado original, prejudicado a liberdade humana:
"Todas
as coisas que se fazem, ainda que a nós pareçam fazer-se de modo
mutável e contingente, na verdade contudo se fazem necessariamente e
imutavelmente", ("Ommia quae fiunt, etsi nobis videntur
mutabiliter et contingenter fieri, revera tamen fiunt necessário et
imutabiliter" Luter, De servo arbítrio, op. VII, 1873, c. 14,
p. 134; Cf. Maquart, Elementa philosophiae, II, p. 473, Paris, 1937).
Ainda
é possível estabelecer um determinismo panteístico (ou monístico),
pelo qual só a grande unidade divina ou da realidade total seria
livre; não o seriam as manifestações mundanais individualmente.
Desta sorte restava ao panteísta Espinosa definir a liberdade como
espontaneidade, sem coação extrínseca, ainda que houvesse a
determinação intrínseca:
"Livre
diz-se a coisa que existe
unicamente
pela necessidade da sua natureza
e
é determinada por si só a agir; necessária,
ou
antes, coagida, a coisa que é determinada
por
outra a existir e a produzir algum efeito
segundo
certa e determinada maneira"
(Espinosa,
Ética, I, 7).
Mais
subtis ainda são as ponderações de Hegel e Engels combinando a
liberdade e a necessidade, como sucessões dialéticas, como adiante
voltaremos a comentar.
Por
razões decorrentes do empirismo e materialismo, são ainda
deterministas Hobbes, Hume, Stuart Mill e outros deste clima
gnosiológico.
647.
Os defensores da liberdade do querer se encontram sobretudo nas
filosofias tradicionais, destacando-se Sócrates, Platão,
Aristóteles, os escolásticos em geral.
Entre
os modernos eles são, entre os racionalistas, Descartes (1596-1650)
e Kant (1704-1804) (como postulado da razão prática). Entre
empiristas também ocorrem defensores da liberdade como Bacon
(1561-1726), Locke (1637-1704), Rousseau (1712-1778).
A
liberdade foi defendida por Bergson
(1859-1941)
e particularmente
pelos
existencialistas.
As
razões decorrem do sistema filosófico geral admitido pelos
respectivos filósofos. Os tradicionais, geralmente dualistas, - por
situarem o espírito num plano inteiramente diverso daquele dos
corpos, - não precisam espelhar nas leis determinísticas destes o
modo de agir racional da vontade.
Bergson
diz que a consciência é temporalidade essencial e que, nesta
condição, não está submetida às categorias da especialização e
mecanização.
Os
existencialistas, como Heidegger e Sartre, Jaspers e Marcel, definem
o homem como um ente que não é similar aos demais; acentuam a
liberdade como um dos seus existenciais mais peculiares.
II
- EM ESPECIAL SOBRE AS PROVAS DA LIBERDADE.
650.
Ainda que muitos admitam a liberdade, não concordam inteiramente
sobre todas as provas. Cuidamos a seguir das três que são mais
aceitas, ainda que não em todos os detalhes.. Apóiam-se;
-
no testemunho da consciência (vd 651),
-
no fato moral (vd 654),
-
no objeto formal da inteligência (vd 655).
651.
Primeira prova, - a liberdade como um testemunho da consciência. A
primeira prova da liberdade, fundada no testemunho da consciência,
chamada também prova psicológica, é a que possui melhor
fundamento.
Esta
prova procede por via a posteriori, porque não depende de uma
especulação mas da verificação meramente fenomenológica de um
fato. A consciência verifica diretamente a colocação ativa de seu
ato livre do seu ato volitivo. E não assiste apenas passivamente a
realização de seu ato.
A
análise revela que, enquanto o ato se exerce, antes e após, há
consciência de que tudo foi, essencialmente, exercido com liberdade,
no momento da iniciativa do ato. Teria havido indeterminação antes
do ato, liberdade de decisão durante o ato, convicção de que o ato
foi posto como nosso. Nesta condição o ato volitivo ter-se-ia
colocado de tal maneira que não nos sentimos apenas espectadores do
acontecimento.
Algumas
das contestações que se fazem ao ato livre, são exatamente as que
atribuem à consciência da suposta liberdade apenas uma consciência
de simples espontaneidade, como se fosse a vontade tão só
espectadora. Não é isto que acontece, e é falso assim pensar.
O
trabalho da contestação ao indeterminismo da vontade se completaria
se positivamente se mostrasse como o determinismo se exerce. E isto
não se dá. Posta a atenção no que se dá na consciência,
verifica-se imediatamente que ocorre a iniciativa de pôr o ato, o
que é mais do que simplesmente assistir ao que aconteceria depois
que um cata-vento se tornasse consciente.
652.
Negam a liberdade os que a reduzem a uma simples espontaneidade, a
que tão somente se acresce a consciência da espontaneidade, . Tais
foram Stuart Mill, Espinosa, Hobbes, Bayle e outros que se esforçaram
em explicar que assim nasce a ilusão da liberdade.
Advertiu
Bayle: "
A
agulha imantada, que a força magnética gira para Norte, ou o
cata-vento, que o vento faz girar, se tivessem consciência do
movimento, mas sem conhecerem a razão, reinvindicariam para si
mesmos a iniciativa".
Poderia
o homem, sem conhecer porque aconteceu uma ação, que fosse ele que
a tivesse posto. Entretanto, não poderá dizer que efetivamente a
ação foi de sua iniciativa. O que acontece no verdadeiro ato livre,
é a clara consciência de haver tomado a iniciativa. Pode mesmo
longamente ponderar, antes de tomar a decisão.
653.
Similar concepção da liberdade, como conscientização, ocorre em
Hegel, ao qual comentou neste sentido F. Feuerbach.
O
indeterminado é o estágio que precede o determinado, - eis como
principia o determinismo a esclarecer sua posição. A passagem de um
momento a outro, concilia o indeterminado com o determinado.
Hegel,
em vista de sua tendência dialética, mostra haver um momento
indeterminado imediatamente colhido pela determinação, no caso, da
liberdade e necessidade. A liberdade não seria verdadeiramente
ativa, mas um instante indeterminado. Quando passasse a determinado,
este novo tempo não seria, senão, a complementação de um estágio
a caminho da determinação.
A
mente, ao caminhar de um momento a outro, tem a impressão que decide
ativamente e com isto livremente. Na verdade não aconteceu senão um
marchar que, do indeterminado progrediu naturalmente para o
determinado. No ser humano, este caminhar é acompanhado pela
conscientização, sendo este aspecto que o diferencia das caminhadas
do indeterminado da natureza exterior.
Enquanto
em Hegel tudo é entendido em termos de dialética do espírito, em
Engels passou a ser anunciado em termos realísticos de natureza
concreta. E comentou a respeito:
"Foi
Hegel o primeiro que expôs exatamente a relação entre a liberdade
e a necessidade. A necessidade só é cega, enquanto não é
compreendida.
Não
é no sonho de uma ação independente das leis da natureza, que
consiste a liberdade, mas no conhecimento destas leis e na
possibilidade de fazê-las agir sistematicamente com fins
determinados. Isto é verdade, tanto para as leis do mundo exterior,
como para as que regem a existência corporal e intelectual do homem
- duas ordens de leis que podemos separar, quando muito, no
pensamento, mas não na realidade.
A
liberdade da vontade é, portanto, a capacidade de decidir-se em
conhecimento de causa. Daí resulta que quanto mais livre é o
julgamento de um homem sobre determinada questão, tanto é maior a
necessidade que determina o teor desse julgamento, ao passo que a
incerteza fundada sobre a ignorância, a incerteza que parece fazer
uma escolha arbitrária entre um grande número de decisões
possíveis, diversas e contraditórias, prova, por isso mesmo, que
não é livre, que é dominada pelo próprio objeto que devia
dominar.
A
liberdade consiste, pois, nessa soberania sobre nós mesmos e sobre o
mundo exterior, fundada no conhecimento das leis necessárias da
natureza: ela é, assim, necessariamente um produto da evolução
histórica" (F. Engels, Anti-Duhring).
As
ponderações dos dialéticos mencionados têm cabimento também fora
da dialética. Em qualquer sistema determinístico sempre se trata de
esclarecer como surge a convicção da liberdade.
O
caminho mais acertado é revelar sua relação com a indeterminação
passiva (a existência dessa passividade deverá ser provada pelos
filósofos deterministas).
Na
verdade, a liberdade
só
seria possível em uma indeterminação ativa
(esta
indeterminação ativa deve ser provada pelos filósofos
indeterministas).
Esclarecida
a liberdade humana apenas como uma liberdade de indeterminação
passiva, mantém-se a impressão de uma liberdade, sem que haja a
liberdade propriamente dita, ou seja a liberdade de iniciativa. Ditos
filósofos consideram não se requerer mais, para a felicidade do
homem, como para a do animal, que a liberdade passiva. Sob este
prisma não parece uma doutrina anti-humanística. Nem é absurda tal
concepção de liberdade.
Howard
Selsam, define a posição desta sua linha de pensamento:
"A
liberdade consiste não no livre arbítrio
nem
na simples forma das instituições
ou
no mero crescimento das capacidades produtivas,
mas
na habilidade do homem para ordenar
as
condições de sua vida, satisfazer suas
necessidades
e realizar suas aspirações.
Isso
será possível somente no caso de que estas necessidades e
aspirações sejam racionais, isto é, no caso de que estejam de
acordo com as leis humanas e naturais e somente se o homem as conhece
e tem o poder de satifazê-las".
654.
Segunda prova, - a liberdade com base no fato moral. Esta outra prova
é também de natureza a posteriori, porque fundada num fato. Todavia
se completa com uma especulação. O fato moral seria impossível, se
não houvesse liberdade. Portanto, se o fato moral existe, prova-se a
partir dele a liberdade.
Efetivamente,
julgamos que somos obrigados a tomar certas iniciativas e após sua
tomada nos consideramos responsáveis pelo que foi praticado.
A
prova da liberdade com base no fato moral, enquanto depende do fato
moral simplesmente verificado, se reduz à prova anterior fundada no
testemunho da consciência da liberdade (vd 651).
Esta
prova depende da autenticidade do fato moral. Seus contestadores
facilmente a afastam, pela negação pura e simples deste fato.
Efetivamente a moralidade poderia ser resultante de um raciocínio e
nesta condição já não seria um fato, de simples verificação
fenomenológica, como pretendia Kant e de certo modo defendem os
autores da filosofia dos valores (Cf. n. 700ss.).
Suposto
o fato moral, a contestação pode advertir que ele resulta de uma
ilusão. A fim de nos sentirmos obrigados moralmente e, a seguir,
responsáveis, bastaria a ilusão da liberdade... Caso alguém afaste
esta ilusão, desaparece nele também o sentimento da
responsabilidade.
Pelo
visto, outra vez, a questão das provas da liberdade se embaralha em
dificuldades. Parece melhor retornar à primeira prova, como mais
provável.
655.
Terceira prova, - a liberdade com apoio no objeto formal da vontade.
Este argumento está na dependência de uma premissa determinada em
psicologia, o objeto formal da faculdade volitiva.
A
prova adverte, com base no princípio de proporção entre causa e
efeito, - que o objeto somente insta necessitantemente a faculdade
quando confere com o seu objeto formal em toda sua universalidade.
Ora,
o objeto formal da vontade (premissa a provar em separado) é o bem
como tal. Os bens particulares e não limitados não têm esta
condição. Contudo a vontade age, e nesta circunstância age
livremente.
A
prova oferece a vantagem de mostrar uma faixa de indeterminação e
que libertaria a vontade de uma necessidade de agir. Se efetivamente
consegue agir livremente é um fato verificado a posteriori, que não
depende de uma especulação raciocinativa.
Eis
que então é preciso retornar à prova inicial, para complementar
esta última.
No
balanço das provas que levam ao estabelecimento da tese da liberdade
da vontade humana, o primeiro dos três caminhos é o melhor, -
provar a liberdade pelo testemunho direto, de que somos livres.
§
3. ESTADOS DE ALMA - EMOÇÕES E SENTIMENTOS.
658.
Estados de alma se definem como qualidades consequentes da ação,
que acompanham os impulsos do instinto e da vontade, sem objeto
próprio (vd 663), todavia orientados para os objetos das referidas
faculdades.
São
portanto propriedades secundárias das faculdades operativas,
porquanto as propriedades principais são o determinismo do instinto
e a liberdade da vontade.
Tendo
a natureza de qualidades, os estados de alma constituem apenas
modificações que na essência dos impulsos e da vontade, sem
alterar a espécie dos mesmos (Cf. Arist., Categorias, 8,8).
De
outra parte, os estados de alma aperfeiçoam aos impulsos e à
vontade, como é peculiar ao conceito mesmo de qualidade (238). No
seu lugar, ou em seu devido tempo, qualquer estado de alma é bom.
Por isso mesmo é que os estados psíquicos são qualidades.
659.
Posição contrária, - o sentimento como faculdade. Posicionando-se
contra a interpretação dos sentimentos como estados de alma como
qualidades das faculdades impulsivas do instinto e da vontade, outros
os estabelecem como sendo simplesmente mais uma faculdade, dali
resultando um sistema tripartite das faculdades.
O
alemão Johann Nikolaus Tetens (1736-1807), e logo também Imanuel
Kant (1704-1804), acreditam que as qualidades referidas são
operações autônomas, e já não apenas qualidades, como geralmente
são definidas, e também nós as definimos. Na condição de
operações seriam faculdades específicas. Haveria, então, três
grandes gêneros de faculdades: do conhecimento, do impulso, do
sentimento.
Não
parece isto sustentável, à vista da observação bastante intuitiva
de que os estados de alma se referem aos impulsos. São efetivamente
os impulsos que se mostram como tendo graus de intensidade e
situações contrárias.
660.
Os estados de alma apresentam graus e contrários. Enquanto são
apenas graus e contrários, são propriedades das mesmas qualidades.
Não se trata de multiplicação dos sentimentos.
Aliás,
é peculiar de qualquer qualidade e propriedade de possuir graus e
contrários, conforme já advertia Aristóteles.
Com
referência aos graus de intensidade, os estados de alma intensos se
denominam emoções.
Os
estados de alma pouco intensos se dizem afetos, ou sentimentos.
Finalmente
para os estados de alma pouco estáveis o nome é disposições.
A
nomenclatura das qualidades secundárias não é restringente, em
vista do caráter difuso das mesmas. É possível, todavia, perceber
vagamente algumas variáveis.
Como
se sugere a expressão estado de alma, este se diz de afecções mais
persistentes, qualquer seja a modalidade. Obviamente, emoção
significa os graus mais intensos, disposição as situações menos
estáveis,
Emoção,
- por ser indicativa dos graus mais intensos, conforme se definiu, -
é por isso peculiar aos estados de alma, na área dos impulsos
sensíveis.
Sentimento
e afeto, - por serem ditos de estados mais suaves; - por isso
expressam mais adequadamente em todos os planos, seja dos impulsos
sensíveis, sejam mesmo do espírito.
Não
obstante em um e outro plano ocorrem os graus de intensidade, com
todas as possibilidades de variação, embora de diferente caráter e
tomando ora esta, ora aquela denominação.
661.
Em sentimentos contrários buscamos uns, evitamos outros. Com
referência aos contrários, os estados de alma oferecem efetivamente
o fenômeno muito peculiar das oposições. Buscamos a uns e evitamos
a outros.
Apreciam-se
as duplas faces nesta classificação formal, que mais adiante
definiremos: amor ou ódio; desejo; deleite ou desprazer; esperança
ou desespero; temor ou audácia; ira...(vd 665).
Este
último, o estado de ira se supõe não ter contrário.
Ainda
são apreciáveis outras duplas faces dos sentimentos. Dali decorrem
classificações como: sentimentos estético e anti-estético;
altruístas e egoísta; eventualmente morais e imorais
Em
princípio não sentimentos morais e imorais, senão ditos
extrinsecamente em função à causa, ou à matéria (vd 666).
662.
O objeto e os estados de alma. Em si mesmos os sentimentos são
cegos. Mas, condicionando os impulsos, os quais por sua vez se
orientam para objetos, dados a conhecer pelas faculdades do
conhecimento, resulta que também os sentimentos, em última
instância estão orientados para objetos.
Há
uma consonância entre as faculdades do conhecimento, dos impulsos,
com os seus respectivos sentimentos. Oscilando os primeiros, as
alterações oscilam até os estados de alma.
Maior
grau de conhecimento dos objetos aumenta os graus da emoção e dos
sentimentos. A diminuição os ameniza. O ritmo das sucessões, seja
dos sons, seja dos movimentos, tem aqui o seu segredo. As alterações,
convenientes dispostas, estimulam os sentimentos ao gosto escolhido.
É
bastante vago o campo dos sentimentos. Dali tantas denominações
subtis. No mesmo plano do gênero do deleite encontramos nomes
equivalentes - agrado, satisfação, prazer, alegria, gozo,
felicidade. Em nenhum caso houve mudança de objeto e nem de forma de
o apreciar.
Pelo
objeto, os estados de alma adquirem importantes diversificações. A
partir dali se procede à classificações muito conhecidas dos
sentimentos. A classificação pode ser formal e material, conforme
atende, ou somente ao modo de se comportar o impulso, ou ainda ao
conteúdo do objeto dos impulsos e da vontade
663.
Classificação meramente formal dos sentimentos. O objeto
considerado do ponto de vista meramente formal oferece uma
classificação formal dos sentimentos, tendo em vista apenas o
comportamento da faculdade impulsiva que o busca. Dali a
classificação formal dos estados de alma (ou das paixões, no dizer
dos escolásticos medievais) em dois gêneros gerais:
-
paixões concupiscíveis,
-
paixões irascíveis.
Nos
sentimentos concupiscíveis a faculdade apetece os objetos
simplesmente. Tal é a condição de um todo de seis paixões:
amor
e ódio,
desejo
e fuga (ou aversão),
deleite
e desprazer.
Nos
sentimentos irascíveis a afetividade se dá com uma certa luta.
Alinham-se com este caráter as seguintes outras cinco paixões:
esperança
e desespero, temor e audácia, e ira.
Os
critérios, que distinguem as espécies formais dos 11 sentimentos
(pois tantos constituem a soma dos concupiscíveis e irascíveis),
dizem respeito ao variado modo de se comportarem as faculdades
impulsivas frente ao objeto.
A
apetição da faculdade pode ser vista em diferentes estágios de
realização:
-
a apetição em marcha,
-
a apetição repousando no objeto.
Além
disto, a apetição, em qualquer dos três estágios mencionados,
poderá admitir uma situação perfeitamente ajustada ou não
ajustada; apenas uma exceção ocorre, a da ira (situação mal
ajustada), em que a bem ajustada coincide praticamente com a do
repouso. O ajuste e desajuste opõem os sentimentos.
664.
Onze espécies de sentimentos na classificação meramente formal.
Tendo em conta os estágios de apetição e as situações bem e mal
ajustadas, resulta haver os onze tipos de sentimento, conforme se
viu: seis na lista dos concupiscíveis e cinco na dos irascíveis.
a)
Sentimentos concupiscíveis:
O
amor é
a
forma do sentimento que se exerce
na
apetição considerada simplesmente e com ajuste.
O
ódio é
o
seu contrário, resultando da apetência
em
direção inversa ao objeto.
O
desejo é
a
forma do sentimento que se exerce
na
apetição considerada em marcha
simplesmente
e em ajuste com o objeto.
A
aversão (ou fuga) é o sentimento resultante da direção contrária
ao objeto.
O
deleite, ou alegria, ou felicidade,
é
a forma do sentimento que se exerce
na
apetição considerada simplesmente repousando
no
objeto e com ele se ajustando.
A
tristeza é
o
sentimento ocorrido na mesma condição
de
repouso, porém não ajustado, no objeto.
b)
Sentimentos irascíveis. Semelhantemente, do ponto de vista do árduo,
ocorre o árduo simplesmente e com ajuste, tendo as seguintes
modalidades de sentimentos:
a
esperança, o árduo com ajuste, considerada a faculdade
simplesmente;
o
temor, a marcha com o árduo e o ajuste;
o
árduo, em desajuste com o objeto, resulta em desespero, no instante
da apetição simplesmente;
a
audácia,
quando
caminha embora lutando
com
o desajuste; a ira, no momento máximo,
em
contato com o objeto conquistado
e
em desajuste.
665.
Uma classificação material dos sentimentos, ocorre finalmente, em
vista de uma consideração do objeto dos impulsos e da vontade.
Agora
sentimentos são denominados extrinsecamente, em função ao conteúdo
dos objetos e não pela forma como deles se aproxima a faculdade
impulsiva.
"A
diversidade do objeto ativo fundado em a natureza deste, causa a
diferença material das paixões, ao passo que a diversidade na
potência ativa produz a diferença formal das paixões" (T. de
Aquino, Suma Teológica, I - II-ae, Q. 30, a. 2, c.).
Denominados
simplesmente pelo conteúdo, há sentimentos
-
egoístas e altruístas,
-
sensíveis e racionais ou superiores,
-
éticos, religiosos, estéticos, filiais, fraternais, patrióticos,
etc.
Pelo
valor dos objetos, as denominações apenas se subdividem.
Então
uns sentimentos se dizem nobres, elevados, dignificantes, altruístas,
caritativos.
Outros,
banais, vulgares, comuns, interesseiros, egoístas, etc.
Um
dos sentimentos mais apreciáveis é o estético. Este é o prazer
produzido pelo saber, sobretudo do saber sobre o belo (o perfeito em
destaque), chamado sentimento estético. Apresenta o referido
sentimento estético notoriamente variado em suas manifestações,
dando lugar o estudo denominado estética (vd 700).
É
notável o sentimento erótico, por causa de sua espontânea
ocorrência e capacidade de unir os sexos. Mas estes também se
complementam pela tendência analítica do pensamento feminino e da
tendência sintética do pensamento masculino, com os respectivos
estados de alma decorrentes.
ART.
3. EM ESPECIAL SOBRE O SUBCONSCIENTE E OS FENÔMENOS
PARAPSICOLÓGICOS.
669.
Camadas da consciência. Distingue-se, pela ordem decrescente, entre:
-
consciente,
-
subconsciente,
-
inconsciente.
Consciência
é
o
estado em que o indivíduo exerce
o
pleno conhecimento.
Neste
estado de consciência o indivíduo
se
apercebe suficientemente do exercício
do
seu mesmo conhecer, de sorte a comportar-se
com
o domínio da situação, interna e externa.
Subconsciente
é
a
camada de fatos psicológicos,
aos
quais o espírito do indivíduo
já
não atende com clareza,
sem
que contudo tenha descido
à
intensidade zero.
Um
esforço qualquer da atenção os pode reconduzir ao centro da
consciência. Em tal condição se encontram as sensações
continuadas como do peso das vestes, dos ruídos constantes da vida,
dos sons secundários das palavras, dos detalhes insignificantes do
marulho do mar, etc.
Inconsciente
é efetivamente um não-consciente.
Existe
certamente um estágio inicial da consciência, como uma virtualidade
psíquica, ao modo de predisposições que operam espontaneamente,
quando se oferece a oportunidade. Atua como espécie de personalidade
sub-reptícia.
Nos
detalhes sobre o inconsciente, querem alguns, que ele funcione sem se
notar, como raciocínios que vêm prontos ao se estabelecer de novo o
consciente. Neste sentido se alega haver soluções súbitas e
invenções, que se teriam gerado no fundo do inconsciente..
Já
outros pensam que o caso da invenção e o das idéias súbitas se
esclarecem pelas virtualidades e boas disposições do espírito.
Nestas oportunidades a versatilidade do espírito surpreende e
poderia criar a falsa impressão de que se tratava de um trabalho
inconsciente. Efetivamente seria apenas, a ação comum do consciente
e do subconsciente.
Atua
como espécie de personalidade sub-reptícia.
Nos
detalhes sobre o inconsciente, querem alguns, que ele funcione sem se
notar. Assim parece acontecer com raciocínios que vêm prontos ao se
estabelecer de novo o consciente. Neste sentido se alega haver
soluções súbitas e invenções, que se teriam gerado no fundo do
inconsciente..
Seja
como for, o subconsciente importa muito para a saúde psíquica da
pessoa. Desta saúde psíquica trata a psicanálise, e para o sucesso
em geral do ser humano.
Neste
contexto se encontram os visionários. Alguns interpretam falsamente
suas visões como efetivo contato com um outro mundo. Quando há os
que neles acreditam, podem gerar movimentos religiosos e mesmo ser
tornarem fundadores de religiões (vd 672).
670.
A psicologia dos conscientes associados. Há, a apelar aqui à
hipótese (distinta da do subconsciente e do inconsciente), que se
pode denominar de conscientes associados, ou, como em Durand, do
polipsiquismo.
Não
é possível negar que todas as células animais tenham
individualmente sensações e portanto um início de psiquismo.
Colocada
esta preliminar, deve-se admitir a possibilidade de uma
intercomunicação psíquica, ainda que muito indiferenciada.
Ocorreria então o fenômeno denominável consciência associada. Ou,
conscientes associados. A hipótese é distinta do subconsciente e do
inconsciente; mas podem alguns fenômenos dos conscientes associados
explicar a estes últimos.
Efetivamente,
no todo humano as células são numerosíssimas. Há aquelas
altamente especializadas, como as do tecido nervoso. Os centros
nervosos têm especializações para os diferentes sentidos.
Os
extratos de partes do cérebro, como se têm feito dos cães e
enxertados em outros, mostram haver psiquismos peculiares individuais
para as respectivas células. Assim, os transplantes não só
transferem células vivas, como também seus respectivos psiquismos.
Há,
pois, um trabalho individual das células e outro que é transmitido
para todos os do grupo, de sorte a se formar um psiquismo social nos
seres orgânicos maiores. Alguns dos pensamentos que se supõem serem
de um inconsciente, derivariam, de fato, de um outro centro psíquico
do mesmo cérebro.
Eis
uma hipótese
que
poderia ser a explicadora do inconsciente,
pelo
próprio consciente.
671.
Parapsicologia. O psiquismo guarda mistérios. Há fenômenos raros e
poucos susceptíveis de análise e interpretação, tais como as
manifestações conhecidas por previsão, telepatia, sonho, mania,
obsessão, levitação, visões, misticismo, profetismo e outros.
Todos
reunidos, são estudados, sob muitos aspectos, pela Parapsicologia,
experimentalmente.
O
termo nasceu depois de 1900, por proposição de Boirac.
O
primeiro cuidado cabe à psicologia experimental, que, de repetidas
relações dos fenômenos, poderá conseguir indução sobre o
caráter geral dos mesmos.
O
trabalho de repetição dos experimentos na área dos fenômenos
raros se revela difícil. O método precisaria conseguir repetir os
fenômenos para descobrir em que condições exatamente se produzem.
Conhecidas as causas, bastaria colocá-las, para que eles voltassem a
surgir e pudessem mesmo ser desenvolvidos para uso pragmático do
homem.
672.
A psicologia filosófica tenta sobre os fenômenos parapsicológicos
uma interpretação raciocinativa.
Em
vista da falta de elementos colhidos pela psicologia experimental, a
filosofia não pode senão estabelecer hipóteses muito vagas. Os que
se precipitam em conclusões, evidentemente hão de dividir-se em
opiniões bastante desencontradas sobretudo quando este campo é
penetrado por interpretações teológicas das religiões dogmáticas
vigentes.
Há
os que dão aos fenômenos parapsicológicos como resultantes da ação
de espíritos, ocupados em se manifestar aos seres humanos.
Outros
opinam que os fenômenos
parapsicológicos
não passam de atividades
peculiares
e profundas do psiquismo
e
mais nada.
No
passado, o desconhecimento praticamente total da parapsicologia
deixou os intérpretes destes fenômenos sujeitos aos maiores
disparates. Sem esclarecimento, enunciaram sobre estas bases
argumentos filosóficos e sobretudo religiosos, além de uma
literatura denominada sagrada, de que há exemplos no mundo inteiro e
em diferentes épocas.
O
desconhecimento dos fenômenos psíquicos anormais deu notória
importância aos visionários, os quais, por isso mesmo, prejudicaram
substancialmente o desenvolvimento normal da religião.
Tecendo-se
com a interação sociológica do pensamento popular, estruturaram-se
ideologias de gênese complexa, que passaram a ser fonte de apoio das
religiões entre si irreconciliáveis.