A Visão ou Experiência-de-Quase-Morte vivida por CARL JUNG,
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Técnicas de Projeção Astral e Exercicíos para a Espiritualidade
O
famoso psicólogo suíço Carl Gustav Jung (1875-1961) teve uma
vivência inédita no ano de 1944, quando estava doente, que poderia
ser descrita como uma visão ou uma impressionante
experiência-de-quase-morte (EQM), que ele relatou por escrito e que
está no livro “Memories, Dreams and Reflections“, num capítulo
intitulado “Visões“. Como o criador da Psicologia Analítica e
desenvolvedor da teoria do inconsciente coletivo e dos arquétipos, é
curioso e rico ler o relato de Jung e seus encontros com formas
primais e seu “conhecimento instantâneo” nessa experiência
inusitada e inspiradora. No trecho traduzido que segue abaixo, Jung
fala de impressionantes visões espaciais da Terra (que para nós
hoje é fácil visualizar, com tantas filmagens de satélites e naves
da Nasa coloridas e em HD, mas não pra ele em 1944), das fortes
impressões sobre a existência de si mesmo em diferentes formas, e
dos encontros com pessoas que lhe revelam respostas sobre a vida.
Segue
o trecho.
“Memórias,
Sonhos e Reflexões” [TRECHO]
Por
Carl Gustav Jung
“Um
dia, após ser atendido com oxigênio, me vi fora do corpo e viajando
pelo espaço, numa crescente subida, e abaixo de mim aparecia a
Terra, o globo envolvido em esplêndida luz azul; e distinguia os
continentes e o azul escuro do mar. Então, quis saber a que altura
me encontrava, e fui informado que estava a 15OOkm. A visão da Terra
de tal altura era a coisa mais maravilhosa que jamais tinha visto.”
Parece
a mim que eu estava alto no espaço. Lá embaixo eu via o globo da
Terra, banhado em uma gloriosa luz azul. Eu via o profundo mar azul e
os continentes. Longe abaixo dos meus pés estava o Ceilão (atual
Sri Lanka), e à distância acima de mim o subcontinente da Índia.
Meu campo de visão não incluia a Terra inteira, mas sua forma
global era claramente distinguível e suas linhas de contorno
cintilavam com um brilho prateado através daquela maravilhosa luz
azul. Em muitos lugares o globo parecia colorida, ou pintada de verde
escuro como prata oxidada. Longe à esquerda esava um campo largo –
o amarelo-avermelhado deserto da Arábia; era como se a prata da
Terra tivesse assumido um tom vermelho-dourado. Então veio o Mar
Vermelho, e longe, como se no topo esquerdo de um map – eu poderia
quase ver um pedacinho do Mediterrâneo. Meu olhar foi direcionado
fortemente para aquilo. Tudo o mais parecia indistinguível. Eu podia
ver os Himalais cobertos em neve, mas naquela direção estava
nebuloso e confuso. Eu não olhei para a direita. Eu sabia que estava
no ponto de partir da Terra.
Mais
tarde eu descobri o quão alto no espaço alguém tem que estar para
ter uma visão tão extensa – aproximadamente mil milhas! A visão
da Terra dessa altura era a coisa mais gloriosa que eu já havia
visto.
Depois
de contemplá-la por um tempo, eu me virei. Eu estava virado de
costas para o Oceano Índico, como era, e meu rosto olhava o Norte.
Então me aprece que eu havia feito a curva para o Sul. Algo novo
entrou no meu campo de visão. Não muito longe eu vi no espaço um
bloco negro gigante de pedra, como um meteorito. Era do tamanho da
minha casa, ou maior. Estava flutuando no espaço e eu mesmo estava
flutuando no espaço.
Eu
tinha visto pedras parecidas na costa do Golgo de Bengala. Eram
blocos de granito tawny, e alguns deles tinham sido escavados em
templos. Minha pedra era um imenso bloco gigantesco e escuro. Uma
entrada dava para uma pequena antecâmara. À direita da entrada, um
hindu negro sentava em silêncio em postura de lótus sobre um banco
de pedra. Ele usava um manto branco, e eu sabia que ele esperava por
mim. Dois passos me levaram a essa antecâmara, e, no interior, à
esquerda, estava o portão do templo. Inúmeros nichos pequenos, cada
um com uma concavidade do tamanho de um pires preenchido com óleo de
coco e pequenas mechas ardentes, cercavam a porta com uma grinalda de
chamas brilhantes.
Eu
tinha visto isso uma vez, na verdade, quando visitei o Templo do
Dente Santo em Kandy, no Ceilão (Sri Lanka), o portão tinha sido
delineado por várias linhas de flâmulas de lâmpadas de óleo.
Quando
me aproximei dos degraus que levam até a entrada na rocha, uma coisa
estranha aconteceu: tive a sensação de que tudo estava sendo
descartado, tudo eu que havia visto ou desejado ou pensado, toda a
fantasmagoria da existência terrena, de desmanchava ou era
desconectada de mim – um processo extremamente doloroso. Mas algo
permaneceu, era como se eu agora levasse comigo tudo o que eu já
havia feito ou experimentado, tudo o que tinha acontecido comigo. Eu
também poderia dizer: foi comigo, e eu era aquilo. Eu era tudo
aquilo, vamos dizer assim. Eu era minha própria história e me
senti, com grande certeza: é isso que eu sou. Eu sou esse pacote do
que tem sido e do que foi realizado.
Esta
experiência me deu uma sensação de extrema pobreza, mas ao mesmo
tempo de grande plenitude. Não havia mais nada que eu quisesse ou
desejasse. Eu existia de forma objetiva, eu era o que eu tinha sido e
vivido. No início, a sensação de aniquilação predominou, de ter
sido assaltado ou saqueado, mas, de repente, aquilo não teve nenhuma
conseqüência.
Tudo
parecia ter passado; o que restou foi um “fato consumado”, sem
qualquer referência ao que tinha sido. Não havia mais qualquer
arrependimento de que algo havia sido subtraído ou tirado. Pelo
contrário: eu tinha tudo que eu era, e isso era tudo.
Algo
mais prendeu minha atenção: enquanto me aproximava do templo, tive
a certeza de que eu estava prestes a entrar numa sala iluminada e
iria encontrar lá todas as pessoas a quem eu pertencia na realidade.
Lá eu finalmente iria entender – e isso também era uma certeza –
o sentido (nexo) histórico a que eu ou minha vida estávamos
conectados.
Eu
iria saber o que tinha existido antes de mim, porque eu tinha vindo a
ser, e para onde minha vida estava fluindo. Minha vida como a vivi
muitas vezes me parecia uma história sem começo nem fim. Tinha a
sensação de que eu era um fragmento histórico, um trecho que
estava faltando ao texto anterior e ao posterior.
Minha
vida parecia ter sido tirada de uma longa cadeia de eventos, e muitas
questões permaneciam sem resposta.
Por
que ela foi por esse caminho? Por que eu trouxe essas premissas
particulares comigo? O que eu tinha feito delas? O que acontecerá a
seguir?
Eu
tinha certeza que iria receber respostas para todas as perguntas
assim que eu entrasse no templo de pedra. Lá eu iria encontrar as
pessoas que sabiam a resposta à minha pergunta sobre o que tinha
sido antes e o que viria depois.
Enquanto
eu estava pensando sobre essas questões, aconteceu algo que me
chamou a atenção. Vindo de baixo, da direção da Europa, uma
imagem apareceu. Era do meu médico, ou melhor, uma semelhança dele
– emoldurada por uma corrente de ouro ou uma coroa de louros
dourada. Imediatamente eu soube:
‘Ah,
esse é o meu médico, claro, o que tem me tratado. Mas agora ele
está vindo em sua forma primitiva. Em vida ele foi um avatar da
realização temporal da forma primitiva, que existe desde o
princípio. Agora ele está aparecendo nessa forma primal’.
Presumivelmente,
eu também estava em minha forma primitiva, embora isso era algo que
eu não enxergava, mas simplesmente sabia. Com ele diante de mim, uma
troca muda de pensamentos teve lugar entre nós.
O
médico havia sido delegado pela Terra para entregar uma mensagem
para mim, para me dizer que havia um protesto contra a minha partida.
Eu não tinha o direito de deixar a Terra e deveria retornar. No
momento que ouvi isso, a visão cessou.
Eu
estava profundamente desapontado, pois agora tudo parecia ter sido em
vão. O doloroso processo de despreendimento tinha sido em vão, e eu
não tinha permissão para entrar no templo, para me unir às pessoas
a cuja companhia eu pertencia.
Na
realidade, umas boas três semanas ainda se passariam antes que eu
pudesse me convencer a viver novamente.
Eu
não podia comer, porque toda a comida me enojava. A vista da cidade
e das montanhas do meu leito parecia uma cortina pintada com buracos
negros, ou uma folha de jornal rasgado cheio de fotografias que não
significavam nada. Desapontado, eu pensei: “Agora eu tenho que
voltar para o “sistema de caixa” novamente.”
Porque
pareceu a mim como se por detrás do horizonte do cosmos um mundo
tridimensional havia sido artificialmente construído, no qual cada
pessoa sentava-se sozinha em uma pequena caixa. E agora eu teria que
me convencer mais uma vez que isso era importante! A vida e o mundo
inteiro me pareceram uma prisão, e isso me incomodou muito que eu
deveria achar que aquilo estava tudo bem e em ordem.
Eu
tinha sido tão feliz largando tudo aquilo, e agora estava
acontecendo o fato que eu – juntamente com todos os outros –
seríamos novamente presos em uma caixa por um fio.
Senti
uma resistência violenta pelo meu médico, porque ele havia me
trazido de volta à vida. Ao mesmo tempo, eu estava preocupado com
ele. “Sua vida está em perigo, pelo amor de Deus! Ele apareceu
para mim em sua forma primitiva! Quando alguém atinge esta forma
isso significa que ele vai morrer, pois ele já pertence à “empresa
maior.”
De
repente, um pensamento terrível me apareceu de que o médico teria
que morrer em meu lugar.
Tentei
o meu melhor para falar sobre isso com ele, mas ele não me entendeu.
Depois fiquei com raiva dele.
Na
verdade eu era o último paciente dele. Em 4 de abril de 1944 –
ainda lembro a data exata em que me permitiram sentar-me na beira da
minha cama, pela primeira vez desde o início da minha doença, e
neste mesmo dia o médico ficou de cama e não saiu mais.
Ouvi
dizer que ele estava tendo crises intermitentes de febre. Logo depois
ele morreu de septicemia. Era um bom médico, havia algo de genial
nele. Se não fosse isso, ele não teria me aparecido como um avatar
da personificação temporal de uma forma primitiva.”
Durante
aquelas semanas vivi num ritmo estranho. De dia eu estava geralmente
deprimido. Me sentia fraco e cansado, e raramente me levantava.
Melancolicamente eu pensava, “Agora devo voltar para esse mundo
monótono”. Quando chegava a noite eu dormia, e meu sono durava até
meia-noite. Então eu acordava e passava uma hora acordada, mas num
estado profundamente transformado. Era com se eu tivesse em um
êxtase. Eu sentia como se tivesse flutuando no espaço, como se eu
tivesse seguro no útero do universo – em um tremendo vazio, mas
preenchido com o mais alto possível sentimento de felicidade. “Isso
é a graça eterna”, pensei. “Isso não pode ser descrito, e é
maravilhoso demais!”.