A Dura Verdade sobre Projeção Astral: Ela não Existe
Morbitvs
Vividvs
Dreamer
Eis
algo que você não vai ler muito em livros de ocultismo: Projeção
Astral não existe.
Não
me entenda mal, eu mesmo já tive diversas experiências e sei como
induzi-las. O que estou tentando dizer aqui é que 'Projeção
Astral' é um péssimo nome usado para descrever o que realmente
acontece. Este é um nome que não apenas não condiz com os fatos
experimentados mas que confunde ainda mais os praticantes ao empurrar
discretamente goela a baixo uma série de conceitos ultrapassados e
até mesmo ingênuos.
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Técnicas de Projeção Astral e Exercicíos para a Espiritualidade
Este
nome propõe, como muitas escolas esotéricas ensinam, que o ser
humano é composto de diferentes corpos, sendo que um deles é o
chamado corpo astral. Até ai nenhuma crítica, cada um dá ao
próprio rabo o apelido que mais gosta, além disso é uma forma
didática de se ver o mundo - como quem separa o sistema circulatório
do sistema nervoso em um livro de anatomia, mas sabe que não pode
separá-los na anatomia propriamente dita. O ponto amargo é que é
justamente isso que a Projeção Astral propõe: a suposição que o
corpo astral se projeta para fora do corpo, permanecendo ligado a ele
por um fio luminoso infinitamente elástico, que sinceramente nunca
vi.
O
problema central é tentar explicar uma experiência mental usando
vocabulário corporal. Outro nome horrível é EFC (OBE), sigla para
"Experiência Fora do Corpo", pois igualmente sugere que um
"espírito", "fantasma" ou qualquer coisa etérea
exista e que sob as condições certas deixe corpo e saia passeando
por aí. Eis o velho perigo no ocultismo, aceitar o que é dito sem
refletir, estudar e experimentar um determinado assunto por si mesmo.
Não se trata apenas de levianidade, mas um tipo de estupidez pois
quando o praticante passa pela experiência, e vê que é real, acaba
acreditando que a teoria fajuta que veio com o pacote também é
verdadeira. Felizmente para a mente sagaz uma gota de bom senso basta
para purificar um mar de ilusões.
De
fato, não podemos dizer que 'nada acontece'. Sabemos por algumas
pesquisas que durante as projeções algo de diferente se passa. O
artigo de Andra M. Smith e Claude Messierwere publicado pela
Frontiers of Human Neuroscience monitorou por exemplo, algumas
"projeções" via ressonância magnética e pode comprovar
uma “forte desativação do córtex visual” acompanhada de
intensa atividade "no lado esquerdo de diversas áreas
associadas a imagens cinestésicas”. Em outra palavras é como se a
visão fosse desligada e as pessoas se movimentassem dentro de sua
prrópria cabeça. Para a pessoa a experiência em si é
absolutamente real e ela pode inclusive sentir que esta fora do
próprio corpo. Mas quem realmente está em atividade é seu cérebro.
Isso
pode ser comprovado de modo simples. Você provavelmente conhece
algumas pessoas e "mestres ocultos" que dizem conseguir
projetar-se para fora do corpo. Proponha para elas um teste simples.
Que feche os olhos e sorteie uma carta de baralho. Sem olhar para ela
coloque-a sobre uma mesa em um um recinto próximo. Feche a porta e
na próxima oportunidade simplesmente se projete e veja qual foi
carta sorteada. Alternativamente tente descobrir a cor de um lápis
de cor também sorteado cegamente, peça para verem a a cor e depois
voltem para te contar. É importante que você também feche os olhos
na hora do sorteio, mesmo se estiver testando outra pessoa. De todas
as pessoas a quem propus o teste, posso dizer que nenhuma foi capaz
de descobrir o que havia na sala ao lado.
Em
minhas experiências nunca vi nada que me convencesse da existência
de um corpo astral interagindo com o mundo físico. Em outras
palavras, o corpo astral não está "flutuando", ele não
"sai do corpo", não "enxerga" nem "escuta"
as coisas por onde passa. Pense no seguinte: sabemos que quando vemos
algo, estamos na verdade estamos experienciando impulsos elétricos
enviados a nosso cérebro, causados pela luz que é interceptada por
nossa retina; se não temos mais olhos, retina ou sistema nervoso,
como nosso espírito astral consegue "enxergar" qualquer
coisa? Também ouvimos coisas quando vibrações do ar estimulam
nossos tímpanos; como nosso corpo "astral" é estimulado
por tais ondas?
Assim
defendo que tudo o que experimentamos no desdobramento é uma
realidade mental e não corpórea. Não é um salto para fora mas um
mergulho para dentro. Se o corpo astral existe, e não é este o
ponto da discussão aqui, ele apenas percebe o que podemos chamar,
com certa cautela, de "plano astral" da mesma forma que o
corpo físico apenas percebe o mundo físico a nossa volta. Na
verdade eu me arriscaria chamar este plano de "virtual",
mas sei que muitas pessoas iriam confundir isso com uma internet
fantasma e tenho medo dos desdobramentos que isso pode causar, "meu
Deus… o cordão de prata é então o fio do mouse astral? Onde ele
é enfiado?"
Isso
não quer dizer que esta experiência não seja realmente um fenômeno
genuíno e não passe de imaginação. Isso seria um contra senso
pois a imaginação é também ao seu modo um fenômeno genuíno. Por
falta de um nome melhor e por razões que apontarei a seguir, prefiro
o nome "Desdobramento da Consciência" ou simplesmente
"Desdobramento" pois o eu posso dizer que realmente
experimento nestas ocasiões é uma tomada de consciência mais
profunda dentro de minha própria mente. Um desdobramento mal feito é
algo muito semelhante a uma visualização e um desdobramento bem
feito é idêntico a um sonho lúcido. De fato quem sonha está em
contato com essa realidade seja consciente ou inconscientemente.
O
termo desdobramento é usado por outras pessoas que ao contrário de
mim, acreditam na exteriorização de algum tipo de corpo sutil. Mas
uso esse termo por uma razão diferente. Eu poderia usar termos
herméticos e dizer que "O que está embaixo é como o que está
em cima e o que está em cima é como o que está embaixo", mas
prefiro me arriscar a usar alguns termos cunhados pelo físico David
Bohm, um dos pais da física quântica: "Em certo sentido, o
homem é um microcosmo do universo, e portanto o ser humano é uma
pista do que o universo é. Nós somos o desdobramento do universo."
Para
mim o Desdobramento da Consciência é a mudança de perspectiva
entre a "ordem explicita", com a qual estamos acostumados
graças aos nossos sentidos e a "ordem implícita" que é a
nossa natureza anterior. O próprio termo ordem implícita me parece
um pouco traiçoeiro pois o que temos la é um caos, no sentido de
potencialidades infinitas e não de mera bagunça, é óbvio. Nesse
sentido me agrada bastante os termos universo causal e acausal usado
na Tradição Septenária. Uma ordem limitada não é mais real do
que um outra além da compreensão, assim como as imagens de um canal
de TV não são mais reais do que as ondas eletromagnéticas de todos
os canais juntos. Ambas simplesmente duas formas de encarar a
realidade. Em última estância a realidade é experimentada por nós
através de nossa mente, todo o universo onde habitamos não passa de
um construto mental nosso. Um mesmo fenômeno pode ser visto e
experienciado de formas diferentes ou pode ser caracterizado por
diferentes princípios em diferentes contextos, como por exemplo, em
diferentes escalas. Um exemplo seria o processo pelo qual um aparelho
de rádio transforma ondas eletromagnéticas em ondas sonoras. Outra
analogia possível é a de fazer um furo em um pedaço de papel
dobrado várias vezes. ao desdobrá-lo a ordem explícita de vários
buracos se revelará, embora implicitamente sejam o mesmo buraco.
Este modelo de como a mente funciona é semelhante ao modelo proposto
pelo neurocientísta Karl H. Pribram, que descreve o funcionamento do
cérebro como uma espécie de projeção holográfica.
O
mundo mental não pode ser tratado da mesma forma que o mundo físico.
Seria como usar regras de macro-economia para explicar o
comportamento dos ácaros ou micro-biologia para falar das estrelas.
Dizer que o corpo astral fica preso no corpo físico por um cordão
de prata infinitamente elástico sinceramente é algo que beira o
ridículo. Quando você passa por um desdobramento, você muda de
tabuleiro. As peças são outras e o jogo mudou. Na realidade mental,
espaço e tempo não são fatores dominantes determinando a relação
de dependência ou independência dos diferentes elementos. Em seu
lugar um conjunto inteiramente diferente de conexões básicas dos
elementos é possível, das quais nossas noções de causa e
consequência, bem como de partículas existindo separadamente são
abstraídas como formas derivadas de uma ordem mais profunda. Nesta
condição não é preciso 'ir' para 'chegar' pois não há
distâncias a serem percorridas. Tudo o que pode ser alcançado está
presente em toda parte em um único instante.
O
plano astral, se quiser continuar usando o termo, possui sua própria
(des)ordem e sua própria (i)lógica. Esta (des)ordem não pode ser
entendida apenas como meramente o arranjo regular de objetos (como
uma fila) ou de eventos (como uma história), é um caos que só
ganha forma com a tenção e assim dá origem a cada e toda região
do espaço e tempo que você pode visitar. Veja um exemplo mais
prático e didático disto, observe a imagem abaixo:
Você
pode perceber seu universo como um círculo, uma elípse, uma
parábola ou uma hipérbole, dependendo apenas de como o observar,
mesmo que ele seja "realmente" um cone. Acredite ou não
fora de nossa mente, no mundo da astronomia e da física, a cada
momento, cientistas percebem o universo "real" - vou
chamá-lo de físico para não desgastar a palavra real- de maneiras
diferentes. Antes algo infinito para todos os lados, então algo
plano e circular, então algo em forma de pêra, então de sino… a
cada vez as próprias leis da física mudavam, para corroborar essas
novas visões, outras vezes novas descobertas matemáticas é que nos
forçavam a mudar a nossa visão sobre o universo. O "universo
astral" é apenas uma outra perspectiva.
Um
ponto que quero destacar, que é imensamente importante, é que se
você mergulhar profundamente em sua própria consciência verá que
possui em sua cabeça muito mais informação do que imaginava.
Qualquer estudante de psicologia sabe hoje que a mente consciente é
só a ponta do ice-berg de nossa Monte Everest mental. Isso fica
evidente quando sonhamos, mas torna-se assustadoramente claro nos
sonhos lúcidos e nos desdobramentos. Tudo o que você já viu,
ouviu, tocou, cheirou, sentiu, pensou e provou está gravado. A mente
como um todo é incapaz de esquecer. Por si só, isso já faria do
desdobramento uma ferramenta interessantíssima de se trabalhar.
Embora você não possa virar o gasparzinho para espiar a vizinha
tomando banho, certamente sua mente possui coisas muito mais
interessantes de se ver. Entretanto, existe ainda mais a ser
explorado.
Se
você mergulhar ainda mais profundamente poderá experimentar o que
Jung chamou de Inconsciente Coletivo. O conteúdo atávico de onde
nasceram todos os grandes épicos. A matéria prima da qual foram
feitos todos os mitos e todas as religiões. Todos as deusas e todas
as feras são acessíveis de forma assustadoramente interativa para
quem se dedicar à prática do desdobramento. Descrevi uma forma pela
qual você pode chegar a este estado no capítulo "Mergulhando
no Abismo" do Lex Satanicus.
Quanto
mais fundo você desce na própria mente, mais próximo fica da mente
de todos os demais - para que perder tempo vendo sua vizinha pelada,
quando pode literalmente transar com qualquer estrela de cinema ou
modelo de revista erótica? O fato é que se fizer o teste das cartas
com pessoas o suficiente verá que, algumas delas, embora não possam
ver de fato a carta podem de alguma forma, que sinceramente
desconheço, ver por meio da sua mente aquilo que os seus olhos viram
antes. Em algum lugar abaixo do inconsciente coletivo, ou quem sabe
através dele, as mentes podem se tocar.
Para
uma experiência prática a este respeito existem várias técnicas
as quais você pode recorrer. Agende um dia que possa fazer isso e
acorde no mesmo horário que costuma acordar. Se arrume, tome um café
rápido troque de roupa como se estivesse se preparando para sair e
então... volte para cama e tente dormir novamente. Percebi que, ao
menos comigo, isso engana o cérebro que entende que deveria estar
acordado e assim realmente torna-se mais fácil acordar dentro do
sono. Outra prática benéfica é criar um diário onde todos os dias
ao acordar você anote o máximo possível de seus sonhos. Em um
primeiro momento tal tarefa será ardua e pouco produtiva mas com
constância em breve estará escrevendo páginas e mais páginas e
assim tornando-se cada vez mais consciente do universo acausal.
Existem muitas outras técnicas que você pode tentar, é tudo uma
questão de descobrir qual a mais adequada para você.
A
respiração holotrópica, técnica desenvolvida por Stanislav Grof é
outra forma de atingir resultados semelhantes e as vezes ainda mais
intensos. Em tempo as pesquisas de Grof, assim como Os Campos
Morfogenéticos de Rupert Sheldrake não deixam dúvidas quanto a
existência de um nível mais essencial de comunicação entre as
mentes de todos os seres vivos. Se você realmente se dedicar poderá
levar este nível ao seu extremo e cruzar a fronteira da
pessoalidade. Esta é a razão para eu ter pedido para você fechar
os olhos na hora de tirar uma carta no teste acima. Como as pesquisas
de Joseph Banks Rhine demonstraram, sob certas condições a mente
humana tem acesso a conhecimentos que não passaram pelos seus
sentidos. É razoável supor que tenham vindo de algum outro lugar. O
experimento de Jacobo Grinberg-Zylberbaum mostrou que pode sim
existir alguma espécie de ligação não-local entre duas mentes,
embora isso passe desapercebido no nível consciente.
Podemos
dizer que em um nível superficial o chamado plano astral reflete
nossa própria realidade mental e em um nível mais profundo, a
realidade mental da coletividade. Durante o desdobramento
absolutamente tudo é simbólico. O símbolo e o simbolizado são uma
coisa só. Uma casa que você visita não é exatamente uma casa de
concreto armado, mas antes disso um lar, um constructo com todas as
impressões simbólica e emocionais tanto de seus habitantes quando
de si mesmo. Muito mais do que no chamado mundo físico, nesta outra
realidade o observador e o observado influenciam e modificam um ao
outro o tempo todo.
O
Desdobramento deve ser a fronteira final a ser cruzada por todo
psiconauta corajoso. É um mergulho dentro de si mesmo com destino ao
universo. Essa é a razão porque muitas pessoas tem dificuldades com
desdobramentos. Não é um problema de escolher esta ou aquela
técnica, mas de se estar pronto para o que vai encarar. Quase sempre
esta experiência deve ser precedida de um processo de
auto-conhecimento e auto-aceitação, quando não de psicoterapia.
Antes de mergulhar de cabeça, certifique-se de que a piscina está
cheia. A dificuldade em conseguir experiências eficazes quase nunca
é por causa do método ou receita usada, mas sim por conta das
próprias travas internas de cada um. O famoso guardião do umbral
possui uma face assustadoramente familiar; a sua. A dura verdade é
que as pessoas têm medo de olhar para si mesmas.