CATIMBÓ
CATIMBÓ
O
Mito, o preconceito e o erro na definição - Entre muitos que
freqüentam terreiros de Umbanda e Candomblé, Catimbó é sinônimo
da prática ou seja da macumba em sí. Para outros, de Umbanda,
trabalhar no Catimbó está associado ao uso de forças e energias de
esquerda ou negativa. Esta é uma visão equivocada. Qualquer prática
mágica pode ser usada com qualquer finalidade, mas, o objetivo do
Catimbó é a evolução dos seus Mestres através do bem e da cura.
Se o mal é feito, isto pode ocorrer pelo erro do medium ou pela
necessidade de justiça a quem pede.
Catimbó
é de base religiosa catolica e não afro-brasileiro
O Catimbó é uma prática ritualista mágica com base na religião católica de onde busca os seus santos, óleos, agua benta e outros objetos litúrgicos. É também uma prática espirita que trabalha com a incorporação de espíritos de ex-vivos (eguns ou egunguns) chamados Mestres e é através deles que se trabalha principalmente para cura, mas também para a solução de alguns problemas materiais (como a Umbanda) e amorosos, mas, é importante destacar que a prática da cura é a principal finalidade.
Não
se encontra no Catimbó, nas suas práticas e liturgias os elementos
das nações africanas de forma que classificar o Catimbós como uma
seita afro-brasileira é um erro. Mestres não se subordinam a Orixá
e fora o aspecto de que certamente ele é, também, praticado por
Negros não existe outra relação direta com a religião africana.
Para aqueles que consideram o Catimbó afro-brasileiro eu apenas pergunto: Onde estão os elementos Afro-brasileiro?
De fato a mitologia e teogonia do Candomblé é rica e complexa, a do Catimbó é pobre e incipiente, seja porque a antiga mitologia indígena perdeu-se na desintegração das tribos primitivas, na passagem da cultura local para a cultura dos brancos, que estavam dispostos a aceitar os ritos, porém não os dogmas pagãos, na sua fidelidade ao catolicismo – seja porque o Catimbó foi, mais, concebido como magia do que como religião propriamente dita, devido sobretudo aos elementos perigosos e temíveis e às perseguições primeiro da igreja e depois da polícia.
Além
dos dogmas da religião católica o Catimbó incorpora componentes
europeus como o uso do caldeirão e rituais de magia muito próximos
das praticas Wiccas. Tanto dos europeus como dos brasileiros o uso de
ervas e raízes é básico e fundamental nos rituais. Cada Mestre se
especializa em determinada erva ou raiz.
Não
existe Catimbó sem santo católico, sem terço, sem agua benta, sem
reza, sem fumaça de cachimbo e sem bebida, que pode nem sempre ser a
Jurema (como eu disse Catimbó não é o Santo Daime).
Origem
O Catimbó é, sem duvida nenhuma, de origem índia. Sem voltar às descrições antigas da pajelança e aos primeiros contatos entre o catolicismo e a religião dos índios, inclusive àqueles fenômenos de “santidade” que conhecemos tão bem através das informações do Tribunal do Santo Ofício, sem tentar traçar a genealogia histórica do Catimbó, encontramos ainda hoje entre o puro índio e o homem do Nordeste toda a gradação que nos conduz pouca a pouco do paganismo do Catimbó.
O
Catimbó de hoje é o resultado desta fusão da prática pagã
inicial dos índios com o catolicismo sobre o qual construiu a base
da “ religião” . É impossível dissociar o Catimbó do
catolicismo e de outras tradições européias, provavelmente
adquiridas dos holandeses, mesmo após as influências que recebeu do
Candomblé e do kardecismo.
Podemos
considerar que a mesma falta de força étnica que fez com que os
índios fossem antropologicamente sobrepujados por outras culturas
fez com que o Catimbó perde-se a sua identidade índia original
(pajelança) e adquirisse os rituais importados de outras práticas
religiosas mais “fortes”. Neste caso contribuiu muito a falta da
cultura escrita que fez com que na medida em que os próprios índios
eram extintos a prática religiosas Xamanista fosse sendo perdida ou
diluída.
Entretanto
do Xamanismo original foram preservadas as ervas e raízes nativas
como base de todos os trabalhos e na prática da fumigação com
fumaça de cachimbos e fumos especialmente preparados o elemento
mágico de difusão.
Para
o índio, o fumo é a planta sagrada e é a sua fumaça que cura as
doenças, proporcionando e êxtase, dá poderes sobrenaturais, põe o
pajé em comunicação com os espíritos.
Os
primeiro elementos do Catimbó que devemos lembrar é o uso da
defumação para curar doenças, o emprego do fumo para entrar em
estado de transe, a idéia do mundo dos espíritos entre os quais a
alma viaja durante o êxtase, onde há casa e cidades análogas às
nossas. A grande diferença é que a fumaça na pajelança é
absorvida, enquanto no Catimbó ela é expelida. O poder intoxicante
do fumo é substituído aqui pela ação da jurema.
O
Catimbó se desenvolveu diferentemente no interior e no litoral, nas
capitais. As influências de outras práticas religiosas mais fortes
em cada um deste locais acabam determinando o formato do Catimbó.
Podemos dizer que quanto mais para o interior mais simples ele será
devido a menor influência das religiões africanas.
Catimbó
não é Umbanda nem Camdomblé
O Catimbó é uma manifestação de Umbanda, no sentido amplo que esta palavra tem, mas, não pode de longe ser confundido com uma religião afro ou com os formatos tradicionais de umbanda.
No
Catimbó não há promessas, votos, unidade do protocolo sagrado. É
um consultório tendendo, cada vez mais, para a simplificação
ritual. Não há festas votivas, não há corpo de filhos-de-santo
para louvor divino dos Orixás nem preparação obediente de laôs.
De
instrumentos musicais resta a marca-Mestre, cabacinha na ponta de uma
vareta, com que o Mestre divide o compasso das linhas. Contudo os
Catimbós absorveram facilmente os atabaques da umbanda trazendo o
seu ritmo e musicalidade. Não há cores formais, vestidos , contas
(apesar de existirem fios-de-conta de Catimbó, feitos com a cabaça
e lágrimas de Nossa Senhora), enfeites especiais nem alimentos
privativos, fetiches de representação.
Catimbó
não é Macumba nem Candomblé, permanece isolado, diverso, distinto.
No Catimbó, os que acostam são catimbozeiros falecidos. Não há um
só Mestre que não tenha vivido na Terra. Nas Macumbas e Candomblés
passa o sopro alucinante das potestades africanas, deuses nascidos
misteriosamente, com poderes espantosos.
No
Catimbó não se louvam orixás africanos e raro são trabalhos de
chão. As coisas no Catimbó são simples e baratas feitas para serem
acessíveis à população que o Catimbó serve. O Catimbó se serve
de uma vela, fitas, cascas, folhas, fumo e bebida para realizar os
seus trabalhos. Normalmente as coisas são resolvidas na própria
roda de Catimbó.
Os
caboclos podem ser vistos no Catimbó, mas, não são eles a base ou
o objetivo principal. Caboclo é coisa de umbanda.l Catimbó trabalha
através de Mestres.
Como
já citado o fato de entidades típicas de Umbanda aparecerem no
Catimbó devido a origem do mediuns e ao fato de existir uma entidade
comum chamada de Zé Pelintra faz com que se imagine que Catimbó
seja uma forma de Umbanda no Nordeste. Como é explicado neste sítio,
não é. Muito se tem pesquisado sobre a origem do Zé Pelintra da
Umbanda no Catimbó, uma vez que esta é uma entidade urbana que nada
tem com a origem dos mestres.
Tudo
no Catimbó se faz com a linha de licença, onde se fala,
sisudamente: “Com o poder de Jesus Cristo, vamos trabalhar”. Das
centenas canções recolhidas no arquivos catimbozeiro, nenhuma alude
a um encantado e infalivelmente a Deus, Santíssima Trindade, Santos,
às almas. Só encontrei duas que se dirigiam às estrelas e ao sol.
O espírito é religioso, formalístico, disciplinado, respeitoso da
hierarquia celestial. Ninguém numa Macumba ou terreiro de Candomblé,
admite licença de Jesus Cristo para Xangô, nem santo católico
atende ao chamamento insistente dos tambores.
Catimbó
NÃO TEM EXU, NÂO TEM POMBO-GIRA e não tem Orixá sincretizado em
Santo. No Catimbó Santo é Santo e Mestre é Mestre. Mestre trabalha
na direita e a esquerda, faz e desfaz.
Sincretismo
As diversas correntes
Não se pode no Brasil falar em religiões puras. O sincretismo entre correntes religiosas é a regra e não um privilégio. Consideremos sincretismo a unificação iu fusão de diferentes cultos e doutrinas com a reinterpretação de seus elementos. Negros, indígenas e europeus fundiram-se no Catimbó. A concepção da magia, processos de encantamento, termos, orações, são da bruxaria ibérica, vinda e transmitida oralmente.
A
terapêutica vegetal é indígena pela abundância e proximidade,
além da tradição médica dos pajés. O bruxo europeu também já
trazia o hábito e encontrou no continente a fartura de raízes,
vergônteas, folhas, frutos, cascas, flores e ainda a ciência
secular aborígene na mesma direção e horizonte. A convergência
foi imediata.
Influência
do Negro
Com o negro africano houve fenômeno idêntico. Apenas quando arredado do eito da lavoura açucareira, velho, trêmulo e sempre amoroso, assumiu posição mais decisiva como Mestre orientador e dono dos segredos. Pelo simples fato de viver muito, existe, espontaneamente, um sugestão de sabedoria ao redor do macróbio. Quem muito vive, muito sabe. O diabo não sabe por ser diabo, mas por ser muito velho. Velhice é sabedoria. O saber, tendo como base experiências acumuladas, mantém-se na memória popular como o melhor e lógico. Doutor novo, experimenta. Doutor velho, trata. O negro escravo, de carapinha mudando de cor, representava um indiscutido prestígio misterioso: negro quanto pinta, tem três vezes trinta. O “negro-velho” era assombroso “faz medo a menino”, curador, rastejador, vencendo o veneno da cobra, da faca fria e da bala quente.
Angolas,
Benguelas, Canbindas foram os nossos Pais Pretos, Negro do Congo, Pai
Angola, Negro de Luanda, vivos nas estórias populares, anedotários,
feitiços. Bantos são topônimos negros do Rio Grande do Norte,
cafuca, cafundó, cafunga, cassangue, catunda, massagana, mocambo,
zumbi, buíque, cabugá. Foram armados depressa, subindo na fama
coletiva. Deram armas, mucamas, amas-de-leite, mães pretas, xodós
dos senhores de engenho, dor de cabeça da Senhora Dona, fidalgas e
preferidas.
Os
maiores Mestres de Catimbó foram negros e ainda o são, em maioria
absoluta, mestiços e mulatos. Do cerimonial das macumbas dos bantos,
o Catimbó mantém as linhas, significando a procedência dos
encantados, nações, invocação dos antigos negros valorosos. Em
função disso podemos considerar como comum, além dos mestres a
presenças de pretos velhos trabalhando no Catimbó.
Estrutura
Organização
da casa
A
organização de casas de Catimbó é muito simples, tão simples
como as pessoas que o organizam e frequentam. Possivelmente é esta
simplicidade que o faz tão fácil de ser entendido e tão forte
mesmo em lugares onde existem terreiros de Candomblé, Xangô ou
umbanda.
No
Catimbó o gongá é substituído por uma mesa, literalmente uma
mesa, sendo que eventualmente estas pode ser o próprio chão do
local. Nesta mesa estarão colocadas as princesas e principes com os
fundamentos de cada Mestre. Esta mesa poderá conter algumas imagens,
principalmente de santos católicos. Não é o padrão os mestres
serem representados por imagens em profusão como na umbanda.
Catiçais de vela são essenciais, assim como os cachimbos dos
mestres.
A
mesa poderá estar em um local central, no caso de os trabalhos serem
em volta da mesma, mas normalmente estará em uma posição de
destaque, mas nas extremidades da sala.
O
resto do espaço liturgico é aberto e não existe separação entre
os discípulos, os mestres e a audiência de frequentadores. As
pessoas se misturam com todos e existe um acesso informal dos mestres
com os frequentadores. Normalmente os discípulos se colocaram em
círculo, fazendo a roda da Jurema, cantando e dançando junto com os
mestres e os convidados em volta. Na medida em os mestres forem
"virando" eles vão estar no centro o Roda ou conversando
com os vistantes em volta.
Hierarquia
No alto da organização existe o Mestre principal, o mais poderoso de todos e que é responsável pela casa. Como toda casa tem um dono o mesmo ocorre no Catimbó. Abaixo deste encontraremos os discípulos-mestres que já estão desenvolvidos e trabalham com seus mestres com seus cachimbos consagrados. A seguir estarão os demais discípulos em estágio de desenvolvimento, com ou sem o seu cachimbo.
O
processo de desenvolvimento é gradual, mas, não segue as rígida
estrutura de liturgias de Xangôs e Candomblés. Os mestres irão se
acostar nos discípulos na medida em que quiserem e o discípulo irá
aprendendo com seu Mestre na medida do seu desenvolvimento. O poder
mágico é lentamente obtido e mais de um mestre poderão trabalhar
com cada discípulo.
Um
discípulo será tão importante quanto forte seja o seu Mestre nos
trabalhos e cura e ajuda aos frequentadores e também o quanto de
poder e magia este mesmo discípulo tenha no trabalho não
incorporado através do seu cachimbo. O trabalho no Catimbó pode ser
feito sem a incorporação e os discípulos desenvolvidos devem ter a
capacidade de invocar o trabalho mágico dos seus mestres sem estes
estarem acostados. Esta é a medida do poder e força de um
discípulo.
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