Bruxaria (A Roda do Ano: os Esbats e Sabbats)
A
Roda do Ano: os Esbats e Sabbats
Antigamente,
quando o Deus e a Deusa eram tão reais quanto o Sol e a Lua, os
rituais eram desestruturados - eram uma comunhão alegre e espontânea
com o Divino. Depois, os rituais passaram a observar o ciclo do Sol
através do ano astrológico e das estações, e também dos ciclos
lunares mensais.
Atualmente,
rituais parecidos são observados pela Bruxaria - e estas celebrações
criam uma proximidade mágica com as Deidades e com o poder por trás
delas.
A
finalidade primordial da Bruxaria é estar em harmonia com a Natureza
e com as energias divinas contidas nela. E a melhor forma de alcançar
esta harmonia é a observação dos ciclos naturais. É para isso que
servem os Esbats e Sabbats.
"Esbat"
é o nome de cada uma das reuniões (ou celebrações solitárias)
mensais, no primeiro dia da Lua Cheia ou da Lua Nova de cada mês.
Nestas datas são celebrados os ciclos lunares; a finalidade básica
dos Esbats é a celebração os ciclos da Deusa, em seus três
aspectos: Donzela, Mãe e Anciã (Crescente, cheia e Minguante). Além
disso, são épocas propícias para as reuniões, a editação e o
estudo.
"Sabbat"
é a denominação de cada um dos 8 grandes festivais solares que
acontecem anualmente e que marcam a Roda do Ano das Bruxas.
Durante
os Sabbats são celebrados, em grupo ou solitariamente, os ciclos do
nascimento, maturidade, morte e renascimento do Deus, e sua profunda
relação com a Deusa.
Mais
um esclarecimento importante: Sabbat não é sinônimo de missa
negra. Não custa repetir: não é usado nenhum símbolo ou objeto
cristão. Nenhuma oração cristã é lida - nem de trás para frente
nem de frente para trás. Não são feitos nem sacrifícios nem
orgias.
Para
entender melhor a Roda do Ano celebrada pelos Sabbats, podemos olhar
para os períodos demarcados pelas 4 estações:
Durante
o inverno, as árvores estão sem suas folhas, os animais se
recolhem, os dias são muito curtos e as noites, longas. Lentamente,
conforme os dias vão ficando mais longos e a primavera se aproxima,
a Natureza parece se espreguiçar. É a época de preparar o solo.
Com a chegada do verão, a Natureza explode em vida e fertilidade. É
a época de semear. Enquanto o ano continua sua roda, o outono chega
e, novamente, as folhas começam a cair. É a época de colher e
armazenar para o inverno que novamente se aproxima.
Mesmo
que aqui, no hemisfério sul - principalmente no nosso país tropical
e bonito por natureza - as estações não sejam tão claramente
definidas, dá para observar as mudanças sutis que acontecem. É só
prestar atenção. Quem já viveu ou passou longas férias no
interior sabe disso. As estações, as épocas de preparar a terra,
de semear, de plantar e colher são super bem definidas.
Os
Sabbats
SAMHAIN
- Celebrado em 1o. de maio no hemisfério sul e em 31 de outubro no
hemisfério norte (Obs.: a pronúncia é "Sôu-en")
YULE
- Solstício de Inverno - Celebrado no primeiro dia do inverno (+ ou
- 21 de junho no hemisfério sul e 21 de dezembro no hemisfério
norte)
IMBOLC
(ou Imbolg) - Celebrado em 2 de agosto no hemisfério sul e 2 de
fevereiro no hemisfério norte
EOSTAR
(ou Ostara) - Equinócio de Primavera - Celebrado no primeiro dia da
primavera (+ ou - 21 de setembro no hemisfério sul e 21 de março no
hemisfério norte)
BELTANE
- Celebrado em 31 de outubro no hemisfério sul e 1o. de maio no
hemisfério norte
LITHA
- Solstício de Verão (Mid Summer) - Celebrado no primeiro dia do
verão (+ ou - 21 de dezembro no hemisfério sul e 21 de junho no
hemisfério norte)
LUGHNASAD
(ou Lammas) - Celebrado em 2 de fevereiro no hemisfério sul e 2 de
agosto no hemisfério norte
MABON
- Equinócio de Outono - Celebrado no primeiro dia do outono (+ ou -
21 de março no hemisfério sul e 21 de setembro no hemisfério
norte)
Eu
aprendi muito a respeito da Roda do Ano através da simples
observação de uma árvore específica. Dei a sorte de encontrar um
carvalho perto de onde moro (o meu carvalho!) - e o carvalho é uma
árvore quase emblemática deste ciclo. Observando sua metamorfose,
da opulência à escassez, e dos brotos e sementes que levam
novamente à opulência, eu tenho tido uma ilustração viva, há
muitos anos, da eloquência deste ciclo infinito.
A
lição principal que eu aprendi com esta observação foi a troca
das datas dos Sabbats para que se adequassem à realidade do
hemisfério sul.
Eu
costumava celebrar os Sabbats de acordo com o calendário da
Inglaterra, e a época do Yule estava chegando. Eu já estava me
preparando para a celebração, quando passei "por acaso"
na frente do meu carvalho: ele estava frondoso, exuberante, cheio de
folhas, cheio de vida, pulsando de fertilidade! E sob um calor
tropical de quase 35 graus, em Dezembro!
Para
tentar entender os rituais, em primeiro lugar, não podemos deixar de
lado o conceito de que as celebrações atuais são baseadas em
rituais Celtas extremamente antigos (eles têm muito, mas muito mais
do que os meros 2000 anos do cristianismo...), e que tiveram origem
em uma época em que a atividade básica de subsistência era a
agricultura.
Vamos
começar pelo SAMHAIN, em 1o. de maio. Este Sabbat marca o início, o
prenúncio da estação da morte: o Inverno. Representa a morte
simbólica do Deus e, na Natureza, a estação menos fértil - a
Deusa está sem seu consorte!
O
Samhain também era a antiga festa celta dos mortos. Na tradição
céltica, o Samhain era a noite da morte e da ressurreição: os
mortos precisavam esperar até esta data para fazer a travessia para
o "País do Verão", onde a esperança de uma nova vida os
aguardava - por isso, na Bruxaria, esta é a época em que e sabe que
os véus entre os mundos ficam mais tênues. É um tempo de reflexão,
de olhar para o que foi feito no ano anterior, e uma época de
lembrar os antes queridos que já foram para outros planos.
A
noite do Samhain é considerada, pelas Bruxas, como a noite de ano
novo por esta conotação de "passagem" da morte para a
promessa de uma nova vida de abundância.
A
data do Samhain da tradição céltica era tão forte no hemisfério
norte (31 de outubro) que foi adaptada pelo cristianismo, na Idade
Média, e transformou-se na "noite de todos do santos", ou
"noite de todas as almas" (Halloween, em inglês, é uma
corruptela de All Hallows Eve, ou "noite de todas as almas"),
celebrada até hoje...
O
Sabbat seguinte é o YULE, celebrado na noite do Solstício de
Inverno, perto de 21 de Junho. Uma vez que nesta data ocorrem a noite
mais longa e o dia mais curto do ano, e sendo o Sol uma das
representações do Deus, o Yule marca a época do ano em que o Deus
renasce - porque, a partir do Solstício, as noites ficarão
progressivamente mais curtas, e os dias (a presença do Sol) mais
longos.
O
IMBOLC, em 2 de agosto, é um Sabbat de purificação depois das
privações do Inverno. É uma época de celebração ao calor que
aquece a Terra através do poder renovado do Sol, que renasceu da
Deusa no Yule. Os dias são mais longos e o início da Primavera pode
ser sentido na Natureza, que parece se espreguiçar. É um festival
de fogo, luz e fertilidade, em que as fogueiras e muitas velas são
acesas, representando tanto a nossa própria iluminação pessoal
quanto a luz e o calor que estão aumentando.
O
Equinócio de Primavera, EOSTAR, marca o primeiro dia da Primavera
(perto de 21 de Setembro). As energias da Natureza sutilmente emergem
do sono em que estiveram mergulhadas durante o Inverno. A Deusa cobre
a Terra de promessas de fertilidade, enquanto o Deus - renascido no
Yule - começa a passar da infância para a maturidade. Em Eostar, a
duração da noite e do dia são iguais. A luz começa a vencer a
escuridão; o crescimento do Deus e a receptividade da Deusa inspiram
as criaturas na Terra a se reproduzir. É a época de iniciar, de
agir, de plantar as sementes para o futuro.
BELTANE,
em 31 de outubro, representa a entrada do jovem Deus para a idade
adulta. Incitados pelas energias da Natureza, pela força das
sementes e flores que desabrocham, a Deusa e o Deus apaixonam-se.
Nesta data são celebrados rituais de fertilidade e imensas fogueiras
são acesas. As fogueiras de Beltane simbolizam o calor da paixão e
a intensidade da interação entre a Deusa e o Deus, e a crescente
fecundidade da Terra.
O
Solstício de Verão, ou LITHA (perto de 21 de dezembro), é
celebrado quando o poder e a força da Natureza chegam ao seu ponto
mais alto. A Terra está repleta e abundante com a fertilidade da
Deusa e do Deus. Mais uma vez, são acesas fogueiras homenageando a
energia do Sol, que atinge seu ápice: esta é a noite mais curta e o
dia mais longo do ano.
LUGHNASAD,
em 2 de fevereiro, é a época da primeira colheita, quando as
sementes plantadas na Primavera dão os primeiros frutos ou geram
outras sementes que vão assegurar os resultados futuros. Mas o Deus
começa a perder sua força e, assim, os dias começam a ficar mais
curtos e as noites mais longas.
O
Equinócio de Outono, ou MABON (primeiro dia do Outono, perto de 21
de março), representa a plenitude da colheita iniciada no Lughnasad.
Mais uma vez, o dia e a noite têm uma duração igual. A Natureza
começa a declinar, preparando-se para o Samhain que se aproxima,
preparando-se novamente para o Inverno, a época do recolhimento... e
para um novo ciclo que começa.
Os
Sabbats são uma forma fantástica de conhecer, respeitar e celebrar
os ciclos naturais que quase todo mundo nem vê passar... e são uma
chance única de aprender a sintonizar e harmonizar a própria vida,
os próprios ciclos vitais, com as energias do Todo.