MAGIA E OCULTISMO PARA INICIANTES (Parte I)
A
definição mais clássica de Magia aponta que ela é “a
manifestação da vontade individual sobre a Natureza/Universo”. É
estabelecer e identificar a própria ordem
personalizada no
Caos, que é a manifestação de todas as ordens possíveis. Sendo
ainda mais específico, vamos a definição da corrente mágica de
Aleister Crowley: “Magick é a Ciência e Arte de provocar Mudanças
de acordo com a Vontade”.
Carlton,
aquele personagem mala e mauricinho de Um
Maluco no Pedaço (Fresh
Prince of Bel Air)
também definiu Magia no episódio que ele e Will estão em um
cassino. Carlton diz a todo momento que “não existe sorte, somente
o domínio das probabilidades”. Basicamente isso é Magia: conhecer
os mecanismos caóticos e saber tirar proveito desse conhecimento
através de uma série de técnicas. Porém, na série, Carlton é
por demais teórico, se lasca em todos os momentos em que quer impor
sua vontade às probabilidades, enquanto Will é um mago no sentido
mais clássico da palavra e simplesmente sente como
e onde deve agir, mesmo sem conhecer a teoria.
Se
adentrarmos em uma análise mais profunda, é possível refletir
sobre quem se realmente estamos impondo ordem no Universo com nossa
vontade, ou simplesmente manifestamos a vontade dele,
pré-estabelecida, segundo a definição de alguns.
O
Grande Segredo da Magia consiste em saber como canalizar sua Vontade
para manifesta-la nos diferentes planos que compõe a realidade –
Físico, Mental, Astral, etc. Essa é a pergunta que atormenta e
incentiva milhões de pessoas através dos Aeons. Muitas delas
alcançaram a resposta, e o melhor: de várias maneiras. Essa
diversidade de possibilidades é importante, já que para criar
definições é necessário seguir uma linha, o que em nosso sistema
de pensamento aristotélico ocidental significa excluir outros.
Em
outras palavras, o primeiro passo para alcançar a Magia é
transcender a comunicação e a linguagem e libertar a própria
mente. É como ser a ponta de um foguete saindo da atmosfera. É
difícil saber o que está à frente.
Por
isso, serei o mais generalista e prático possível. Vou explicar
apenas linhas gerais, dar uma espécie deprimeiro
tapa na bunda dos
que querem conhecer que porra é essa de Ocultismo e nunca souberam
por onde começar. Nessa primeira parte nada de velas, rituais,
espíritos, sigilos e outras coisas, mas sim um amontoado de
exercícios para o que Timothy Leary chama de descondicionamento da
mente.
1
– Prepare sua mente
A
primeira coisa necessária para se tornar um magista é querer ser
um, e essa não é uma decisão leviana. É como querer ser
presidente. Parece uma vida mansa, mas existe uma série de
responsabilidades, relacionamentos e atividades que o diferem
completamente dos outros civis do país. É como adentrar um mundo
completamente diferente, com rotinas diferentes. Para uns é o ápice
de uma vivência, para outros deve ser chato pra cacete, tudo depende
da pessoa.
Sua
cabeça precisa ser mudada para a Magia se manifestar. Comece com
dois passos básicos: quebra de hábitos e um ritual diário básico.
Escolha um hábito aleatório que você possua – levantar com o pé
direito, comer unhas, dobrar os lençóis assim que levanta, não
importa, o mais importante é que seja algo que você faça
instintivamente.
Se
for hardcore e estiver com uma determinação louca, pare de fumar,
beber, comer carne. Pare de jantar e coma só uma fruta a noite.
Coisas simples e que não vão exigir um sacrifício monumental.
Simplesmente abandone. E depois volte com ele. Isso se chama
descondicionamento mental, acostumar sua cabeça a diferentes
situações, a fugir da rotina com certa facilidade.
Depois
de conseguir expurgar alguns hábitos, é hora do ritual. Escolha uma
divindade pagã criadora a qual você se identifica – Odin,
Ganesha, Pã, Osíris – e estude o máximo que conseguir sobre ele.
Todo o dia faça uma oração para ela. Não uma oração de joelhos,
olhos fechados e mãos juntas. Abra a janela assim que acordar,
esqueça um pouco a correria do dia-a-dia, tome um pouco de Sol na
cara e diga como está feliz de estar sendo aquecido e agraciado pelo
Sol. Se estiver chovendo, escolhe alguma deusa da fertilidade –
Ísis , Afrodite, Inanna, Ishtar – e agradeça pela chuva. Faça
isso por um mês, religiosamente.
A
ênfase é mais uma quebra de hábitos. Se ora a Jesus todos os dias,
escolha outro deus e crie sua própria poesia de agradecimento.
Simples assim. Não importa se alguém está olhando, imagine-se num
teatro, cumprindo seu papel.
Com
os hábitos quebrados e o primeiro ritual efetivamente criado, é
hora de estimular um pouco a criatividade. Comece com algo bem
simples. Pegue uma folha em branco (ou abra uma página do Word) e se
questione do motivo que o levou a ler esse texto até aqui. Escreva o
máximo que puder, fazendo um exercício de retorno ao tempo. Como
conheceu a MOB GROUND? Já lia o Nerds Somos Nozes? Como o conheceu?
Como foram os dias em que você conheceu esses sites? Não tinha nada
melhor pra fazer esse dia? Por que você nos acompanha (se é que
acompanha)? Por que não mudou de aba assim que leu que o texto
falava de Magia e Ocultismo? Você gosta dos temas? Se considera um
iniciante neles? Por que nunca se aprofundou? Seus pais gostariam de
saber que você se interessa por Magia? E seus amigos?
Pergunte-se
de quais fatores que o levaram até a esse momento. Se questione como
seus pais se conheceram. Coloque o máximo de informações possíveis
no papel. E
se seu
pai chegasse atrasado no primeiro encontro? Será que você teria
nascido de outros pais? Vá embora, dá pra encher livros inteiros
tanto com uma linha do tempo razoavelmente linear, somadas às
possibilidades resultantes de possíveis mudanças – que alguns
chamariam de Universos Paralelos.
Num
primeiro momento, evite qualquer tipo de termo não-científico.
Karma, destino, espíritos, nada disso. Depois que terminar, guarde o
resultado. Três dias depois refaça, de forma completamente
diferente. Encare o desafio como jogar um RPG ultra-customizável em
que você deseja ser um personagem completamente diferente – mas só
coloque informações o mais genuínas, plausíveis e possíveis.
Fazer
esse exercício pra mim teve o mesmo efeito de quando tentei pensar
pela primeira vez sobre o fato do Deus Cristão ser infinito, sem
origem e sem fim. Isso com 9 anos. É o tipo de coisa que dói a
cabeça e exige um bocado de neurônios. Os mais fracos vão se achar
ridículos, achar uma perda de tempo, vão pensar em lutadores de UFC
e colocar todo o tipo de obstáculo.
O
mais importante aqui é a persistência de achar as respostas que
você crê mais adequadas, além de ajudar na manifestação de seus
instintos e imaginação. Agora pegue um objeto e descreva como você
acha que foi seu processo de fabricação. Como ele foi parar na sua
casa? Quem o comprou? Como foi fundada a fabricante dele? Quem o
inventou? Por que?
Depois
de fazer e refazer SEM PRESSA esses exercícios, é hora de passar
para algo um pouco mais complicado: enfrentar os próprios alicerces.
Pegue uma obra que você odeie. Pode ser o pior filme que você já
viu, um livro que você considere horrendo, mal escrito, ou uma
música que te fazem amaldiçoar o momento em que suas orelhas
começaram a se formar. Ou mesmo um texto do blog do Reinaldo Azevedo
– ou ainda do Olavo de Carvalho.
Descreva
por que não gosta de tal obra analisada com a maior carga de
minúcias possíveis. Depois inverta o exercício e faça uma resenha
elogiosa a tal obra, procure achar coisas dignas de nota nela e
depois confronte com sua descrição das coisas ruins da obra. Ela
continua completamente ruim aos seus olhos?
Bom,
daí pra frente você mesmo pode elaborar exercícios de
descondicionamento. Que tal tentar explicar aos seus colegas
evangélicos porque o Satanismo pode ser uma boa religião? Faça o
mesmo com o Cristianismo caso goste dele. Não é uma simples questão
de advogar em favor de uma causa, mas acreditar por si mesmo a fundo
que aquilo é verdade.
Tenha
certeza que isso tudo vai ser fundamental com o início dos estudos,
quando um turbilhão de ideias conflitantes surgirem na sua cabeça.
Tornar sua mente receptiva a elas vai evitar a loucura logo nos
primeiros degraus – e acredite: tenho amigos que literalmente
enlouqueceram nessa onda de procurar
significados ocultos em tudo.
Reúna
todos esses escritos até agora e leia-os. Junte-os no mesmo lugar,
essas são as primeiras páginas do seu Diário Mágico.
2
– Prepare seu corpo
Caso
pratique alguma arte marcial, não precisa seguir atentamente essa
parte 2, pois ela provavelmente já é observada por você, mas não
custa nada dar uma olhada. O primeiro passo é a Respiração. Não
sei se o que vou falar aqui é científico, mas é nítido que o ato
de respirar tem um forte controle sobre as emoções. Respirar lenta
e profundamente, além de literalmente observar a respiração fluir
é o melhor modo de evitar o stress, a cabeça quente, e outros
problemas da vida moderna.
Se
fechar os olhos e esticar os braços melhor ainda. Simples assim. O
controle da respiração é o que o Raja Yoga chama de Pranayama.
É o quarto passo dessa técnica de Yoga – bom, não vou abordar
todos os passos, mas recomendo a todos, principalmente o Asana
(posicionamento), Dharana (concentração mental) e o Dhyana
(meditação). Yoga é velho pra cacete, mas não chegou até o
presente à toa: aprender suas técnicas é uma das chaves para ser
um Mago.
Vamos
a um exercício de respiração básico de respiração. Sente-se
confortavelmente, com as costas eretas. Eu recomendo a posição do
índio – pernas cruzadas sob os joelhos -, a meio-lótus – um dos
pés em cima de um dos joelhos – ou lótus – com os dois pés
sobre os joelhos. Pelo fato dessas posições serem clássicas é
mais provável que você esteja disposto a considera-las mais
apropriadas
para
a prática. Mas qualquer posição confortável que mantenha as
costas eretas é indicada.
Inspire
profunda e completamente, demorando cerca de dois ou três segundos
para terminar a operação. Depois mantenha o ar em seus pulmões
pelo mesmo tempo que demorou inspirando – 2 ou 3 segundos. Depois
expire, e finalmente mantenha os pulmões vazios, sempre no mesmo
tempo. Faça isso por 10 minutos e vá aumentando até chegar a uns
30 minutos. Mas não se preocupe com o tempo, apenas esqueça
preocupações, trabalho, família, tudo, seja bom ou ruim. Vá
esvaziando a mente e se concentre somente na respiração.
Faça
isso a semana toda e anote os resultados que achar mais importantes.