SONHOS LUCIDOS E EXPERIENCIAS FORA DO CORPO
SONHOS LÚCIDOS E EXPERIENCIAS FORA DO CORPO
Existe
uma especial e antiga relação entre o sono e a experiência fora do
corpo (EFC - ou OBE em inglês). Muitas culturas primitivas
acreditavam que a alma deixa o corpo durante o sono e, por essa
razão, aquele que dorme nunca é movido de onde ele/ela se encontra.
Pode haver mais verdade do que fábula nesse mito, uma vez que a
maioria das pessoas tiveram sua primeira OBE espontânea enquanto
entravam no sono ou saíam dele. Muitos talentosos projetores, de
Hugh Callaway a Sylvan Muldoon e mesmo Keith Harary, experimentaram
separações noturnas antes de aprenderem a exercer controle sobre
elas. Muitas técnicas para induzir a OBE, tais como aquela esboçada
por Robert Monroe, ensinam aos estudantes a partirem do sono. Por
isso, faz muito sentido que a OBE possa ser mais facilmente induzida
a partir desse estado de inconsciência. Mas como ? Como pode aquele
que dorme inconscientemente "fazer" alguma coisa para
voluntariamente sair do corpo ? A resposta surge por meio do controle
do sonho.
Poucas
pessoas percebem que os sonhos podem ser controlados muito
facilmente. Você provavelmente notou que seus sonhos são
frequentemente influenciados por aquilo que você faz durante o dia,
pelas pessoas que você encontra, por suas interações com elas, e
pelo modo como você se sente sobre seus amigos e parentes. Nosso
relacionamento com pessoas importantes em nossas vidas frequentemente
determina, num nível simbólico, o que sonhamos em cada noite. Além
disso, é possível controlar o conteúdo de seus sonhos por meio da
auto-sugestão. Se você for para a cama concentrando-se
deliberadamente sobre certas pessoas ou temas, você perceberá que o
inconsciente responderá às sugestões.
A
suprema forma de controlar o sonho é produzir sonhos "lúcidos"
nos quais você percebe que está sonhando mas, subsequentemente, não
acorda. Muitas pessoas têm essa experiência uma vez ou duas em suas
vidas. A forma mais comum de lucidez ocorre durante um pesadelo,
quando o sonhador percebe que a experiência é irreal e ordena a si
próprio a acordar. Muitos sonhadores lúcidos experientes são
capazes de manter o sonho depois desta identificação a então podem
realizar experimentos com seus sonhos. Eles podem criar toda sorte de
milagres vedados em nosso cotidiano. Voar é a aventura favorita do
sonhador lúcido. O que é importante lembrar é que, embora algumas
pessoas sejam naturalmente sonhadoras lúcidas, a habilidade pode ser
desenvolvida e estimulada com a prática.
As
pessoas que tornam-se conscientes que estão sonhando têm um notável
controle sobre si mesmas; a mente consciente e inconsciente parecem
fundir-se. Um curioso encontro entre essas linhas foi realizada por
Keith Hearne da Hull University na Inglaterra, que descobriu que os
sonhos lúcidos podem ser artificialmente induzidos em voluntários
de laboratório. Clipes especiais atados aos narizes dos sonhadores
são carregados eletricamente quando o sujeito ingressa no período
REM (Rapid Eye Movement), o que denota estar sonhando. Pulsos
enviados pelo clip alertam o sonhador, que "acordará" para
o fato de que ele ou ela está sonhando. O sonhador então sinaliza
de volta para o pesquisador, através de um movimento de olhos
pré-combinado, de que ele ou ela está consciente do estado. Esta
pesquisa forneceu aos investigadores um método de interagir
diretamente com o inconsciente. A indução experimental de sonhos
lúcidos pode bem ser um dos maiores avanços da psicologia.
Pesquisadores no campo da criatividade esperam treinar sonhadores
lúcidos para criar aventuras para si mesmos que possam servir como
base para futuros dramas e "estórias" ("plays and
stories"), enquanto psicoterapeutas esperam que um sonhador
lúcido possa treinar a si próprio a encontrar um auxiliar onírico
que o ajudará a compreender seus problemas e solucioná-los.
Parapsicologos
estão também entusiasticamente conscientes dos benefícios
potenciais que os sonhos lúcidos podem oferecer em seus próprios
campos. Muitos sonhadores lúcidos relatam Percepções
Extra-Sensoriais (ESP) como parte de seus sonhos, e alguns
estudos-pilotos foram realizados para verificar se o estado de
lucidez onírica da mente pode ser particularmente útil para as ESP.
Uma relação muito especial e empírica também existe entre sonhar
lucidamente e as OBE.
A
maioria dos grandes projetores do passado também foram sonhadores
lúcidos. Muitos deles inclusive aprenderam a arte da projeção
astral como um co-produto de suas experiências no controle dos
sonhos. Só não está claro porque existe essa curiosa associação.
Há boas razões para acreditar que fatores inconscientes exercem um
importante papel na habilidade de deixar o corpo; talvez a
aprendizagem do controle conciente de um dos processos mentais
inconscientes seja um fator crítico na habilidade de se produzir
OBEs à vontade. Essa teoria encontra apoio no fato de que pessoas
que tentam induzir sonhos lúcidos por vezes também produzem OBEs
acidentalmente.
Como
mencionado entes, Sylven Muldoon, Hugh Callaway e muitos outros
alegaram que ao menos algumas de suas OBEs foram induzidas por meio
da manipulação de sonhos lúcidos. A habilidade básica foi
alcançar um sonho lúcido ou pré-programado, levar a si próprios
para deixar o corpo e, então, "despertar" fora dele. Tal
prática levou Callaway a perceber que o sonho lúcido poderia ser
usado como uma rota para um controle puramente volitivo de OBE.
Sonhos
lúcidos e OBE representam formas de vida mental divorciadas do
corpo. Embora alguns sonhos lúcidos possam ser de fato OBEs
disfarçadas, esses dois fenômenos parecem constiruir experiências
mentais distintas. O sonhador lúcido está bem consciente de que ele
ou ela está sonhando e que a experiência é imaginária. Sua
consciência é como um sonho, algumas vezes fantástica. O projetor
astral mentalmente opera num ambiente mais concreto e normalmente
está consciente de que ele ou ela definitivamente não está
sonhando. Assim seria ingênuo alegar que a OBE induzida por sonho
lúcido é meramente um sonho. A melhor forma de ver o sonho lúcido,
então, é como um degrau para a OBE e não meramente como um
fenômeno paralelo existindo ao lado dela. Como uma tentativa de
controlar o inconsciente durante o sono ou quase-sono (ou seja, o
estado hipnagógico), os sonhos lúcidos poderiam ser a primeira
manifestação desse controle. OBEs podem se seguir naturalmente.
Aprender a induzir sonhos lúcidos bem podem representar um modo
muito prático de iniciar OBEs espontâneas, a partir do qual um
controle mais formal e direcionado pode ser estabelecido.
A
habilidade de sonhar lucidamente não é um presente místico - um
estranho fenômeno, sim, mas não um fenômeno paranormal. Uma vez
que seja um potencial aberto a todos nós, ele representa uma maneira
perfeita de abordar a OBE.
As
técnicas
Antes
de aprender a induzir sonhos lúcidos, você deve aprender a observar
e controlar seus sonhos em geral. A chave é a simples auto-sugestão
associada à observação sistemática. Uma excelente discussão
sobre controle dos sonhos vem de Patrícia Garfield, uma psicóloga
que é também uma sonhadora lúcida, em seu livro Creative Dreaming
("Sonhos Criativos"), que pode ser consultado para maiores
e mais elaboradas discussões e sugestões. Aqui nós estamos lidando
somente com aspectos básicos.
Após
estudar muitos sistemas de controle de sonhos e usar ensinamentos
provenientes de várias culturas, a Dra. Garfield sugere certos
passos para aprender um controle metódico dos sonhos.
Inicie
pela reavaliação de suas atitudes em relação aos seus sonhos.
Você deve se convencer, seja pela auto-observação, seja por
estudos acadêmicos, que seus sonhos são importantes e
significativos para você e que você pode aprender com eles. Se você
se lembrar de um sonho após acordar, não o ignore. Tente analisá-lo
e observar as mensagens que ele traz para você. (Um excelente guia
sobre esse assunto encontra-se em Montague Ullman (com Nan
Zimmerman), "Working with Dreams" - NY:Delacorte, 1979).
Uma vez que você percebeu a importância de seus sonhos, pode
começar a experimentar influenciá-los. Se voce respeitar seus
sonhos, eles responderão.
A
técnica básica é sugerir a si próprio, antes de dormir, que voce
irá sonhar sobre certa pessoa ou tema. Se voce praticar
regularmente, notará que a sugestão começará a ser incorporada em
seus devaneios. Garfiel especificamente sugere que "voce pode
depositar suas intenções oníricas em uma frase, relaxe, repita-a e
visualize sua realização." Uma frase tal como "esta noite
eu sonharei sobre meu amigo etc etc" será suficiente. Quando
voce for para a cama, em outras palavras, não caia simplesmente no
sono. Prepare-se para seus sonhos.
Usando
esses exercícios psicológicos, voce também verá que as
recordações de sonhos também melhorarão. Isso ocorrerá mais e
mais frequentemente enquanto voce começa a adquirir algum controle
do conteúdo de seus sonhos. Também ajudará se voce anotar seus
sonhos pela manhã. A melhor forma é permanecer deitado quando
acordar; simplesmente fique em repouso e tente se lembrar oque você
estava sonhando. Se você não puder lembrar-se, mude de posição.
Por alguma razão isso ocasionalmente ativa sua recordação de
sonhos. Então, assim que os sonhos venham à mente, escreva ou dite
a um gravador de voz. Dessa forma, voce terá um registro de seus
sonhos e te possibilitará a ver como seu controle está avançando.
Você perceberá que as recordações de sonhos começarão a voltar
espontaneamente durante o dia, normalmente ativadas por algo que você
tenha visto ou ouvido que seja similar a algo que você tenha sonhado
na noite anterior.
Uma
vez que você tenha alcançado algum nível de controle dos sonhos,
pode iniciar a indução de sonhos lúcidos. Há muitas formas de
fazer isso; a mais simples é através de uma ou outra forma de
auto-sugestão. Advirta-se, entretanto, que os sonhos lúcidos são
mais propensos a ocorrer nas horas da manhã após você ter tido uma
boa noite de sono. Assim, sua melhor chance ocorrerá ao praticar
após seu despertar inicial, porém planejando voltar a dormir por
algum tempo. Este fenômeno pode ser resultado da psicologia normal
do sono, uma vez que a maioria das pessoas não iniciam seu primeiro
período de sonho noturno antes dos 70-90 minutos após adormecerem.
Nós normalmente acordamos de um estado REM (sigla em inglês para
movimentos rápidos dos olhos) , retornando então a dormir para
entrar novamente nesse estado. Sua sugestão para sonhar lucidamente
nesse intervalo crítico pode ser mais facilmente obtida durante o
acesso inicial ao sono.
As
seguintes técnicas são básicas para induzir sonhos lúcidos:
1.
Induzir sonhos de vôo.
Por
alguma razão, os sonhadores lúcidos experimentam, quase
universalmente, mais sonhos de vôo que a média dos sonhadores. As
pessoas que têm muitos sonhos lúcidos frequentemente acham que eles
são introduzidos por sonhos de vôo ou que a lucidez pode ser melhor
alcançada durante um sonho de vôo. Pode ser simplesmente que o
desafio à gravitação traga um alerta onírico ao sonhador para o
fato de que ele ou ela esteja sonhando. Por essa razão, inicie dando
a si mesmo a sugestão de que voce voará em seus sonhos. Quando você
obter êxito, sonhos lúcidos poderão se manifestar espontaneamente.
2.
Indução de stress ou pesadelos.
Quase
todos já tiveram a experiência de acordar de um pesadelo
particularmente feroz. Essa defesa psicológica contra o excesso de
stress nos sonhos pode ser aproveitada como uma vantagem genuína.
Sugira a si próprio que você terá um pesadelo ou uma aventura
especialmente estressante em seus sonhos, e verá se voce pode
acordar a si próprio dele. Dê a si mesmo a sugestão de que você
acordará quando o sonho tornar-se tão estressante que você
perceberá que está sonhando. Após ter alcançado esse objetivo,
não ordene a si mesmo a acordar após tornar-se lúcido.
Simplesmente deseje que seu ambiente onírico mude ou diga a quem ou
ao que quer que seja que vá embora ! Isso normalmente ocorre.
Algumas culturas ainda ensinam as crianças a controlar seus
pesadelos dessa forma, lembrando a elas mesmas, quando vão dormir,
que os sonhos não são reais e para fazer amizade com seus inimigos
oníricos usando essa forma de confrontação.
3.
Reconheça as incongruências em seus sonhos.
Este
é provavelmente o método mais universal para aprender e controlar
os sonhos lúcidos. Antes de ir dormir, dê a si mesmo a sugestão de
que durante seus sonhos, voce será capaz de pesnsar analiticamente.
Diga a si mesmo para notar qualquer incongruência que o alertará
para a irrealidade daquilo que você está experienciando.
A
maioria das pessoas tem seu primeiro sonho lúcido quando, por alguma
inexplicável razão, esse momento de insight ocorre espontaneamente.
Por exemplo, um de meus próprios sonhos lúcidos ocorreu na manhã
após eu ter levantado, lido um pouco sobre sonhos lúcidos e caído
no sono no sofá. Sonhei que estava em uma sala de jogos com um
garota. Nós deixamos o local e, enquanto eu olhava em volta, a
garota desapareceu em um instante. Isso me deixou perplexo, então eu
voltei para o salão de jogos, apenas para ver que ele havia sido
completamente redecorado. A partir dessa incongruência, percebi que
eu estava sonhando. Não acordei, mas dei a mim mesmo a sugestão de
continuar a dormir para que eu pudesse experimentar o meu ambiente
onírico. Tive tempo suficiente para voar e deliberadamente tentar
atingir um estado expandido de consciência. Finalmente, ordenei a
mim mesmo para acordar.
Para
captar essas incongruências, repetidas auto-sugestões são a melhor
forma, embora possa levar tempo e prática consideráveis.
4.
Sugira a você mesmo que os sonhos são irreais.
Para
o sonhador, o mundo onírico é muito real. Quem já não acordou de
um pesadelo suando frio ou rindo de algo absurdo ? É possível mudar
tudo isso meramente por auto-sugestão. Mary Arnold-Forster, uma
dona-de-casa britânica que é uma bem-sucedida sonhadora lúcida,
explica como ela desenvolveu sua habilidade em seu livro "Studies
in Dreaming". Ao longo do dia, ela começou a lembrar a si mesma
que os sonhos não são reais. Isso atuou como uma auto-sugestão
sobre seu inconsciente e ela começou a lembrar disso enquanto estava
sonhando. Sonhar lucidamente foi o resultado natural. Normalmente,
ela acordava tão logo percebesse que estava sonhando, porém com o
tempo, ela se tornou capaz de controlar sua excitação, permitindo
que o sonho seguisse seu curso.
5.
Mantenha a consciência até o momento de entrar no sono e sugira que
você observará seus sonhos com a consciência desperta.
A
indução deliberada de sonho lúcido a partir do estado desperto,
mais do que a partir do próprio sono, é provavelmente a técnica
mais difícil, primeiramente apontada pelo místico russo P. D.
Ouspensky em seu estudo clássico Um
Novo Modelo de Universo.
O
processo foi um desdobramento de sua fascinação pelo estado
hipnagógico. Para observar esse estado tão detalhadamente quanto
possível, Ouspensky praticava a retenção da atenção até o ponto
em que ele verdadeiramente adormecia. Gradualmente, ele aprendeu que
poderia manter a consciência mesmo após adormecer, o que o
possibilitou a observar seus sonhos com a completa percepção de que
se tratava de sonhos. Seu método de indução de sonhos lúcidos
era, assim, observar o estado hipnagógico, prolongá-lo, e então
conscientemente guiar-se para dentro do sono. Durante esse processo,
ele mantinha o pensamento ou idéia fixamente em sua mente, fazendo-a
aparecer subsequentemente em seu sonho.
Pela
leitura dos escritos de Ouspensky, entretanto, não fica realmente
claro se seus sonhos lúcidos eram genuinos ou apenas uma complicada
sucessão de imaginação hipnagógica. Embora não esteja clara a
diferenciação psicofisiológica entre o estado imediatamente
precedente ao sono e o primeiro estágio do sono, talvez a questão
seja acadêmica, especialmente tomando-se em conta que o estado
hipnagógico seja ideal para induzir OBEs, como veremos brevemente.
Conforme
já assinalado, induzir sonhos lúcidos bem pode inspirar a
manifestação espontânea de OBEs. Se você deseja deliberadamente
induzir OBEs a partir de sonhos lúcidos, entretanto, veremos em
seguida três das técnicas mais comuns:
1.
Quando você tiver alcançado um sonho lúcido, ordene a si próprio
para retornar para os limites de seu corpo, mas lembre a si mesmo
para não acordar. Nesse ponto, você normalmente se achará de volta
em seu corpo. Você se encontrará, seja em um estado cataléptico
ou, para seu espanto, capaz de ver seu quarto claramente, mesmo
estando consciente de que seus olhos estejam fechados. Isto porque,
mesmo pensando que você ainda está dormindo, poderá perceber que
está desperto. Agora, simplesmente ordene a si próprio para deixar
o corpo e flutuar a partir dele. Uma OBE normalmente ocorrerá.
2.
Um método um pouco diferente foi sugerido por J.H.M. Whiteman, um
matemático de Capetown, África do Sul, que é também um projetor
habitual. Ele explica em sua autobiografia que um sonho lúcido pode
ser tornar uma OBE simplesmente por meio de um exercício da mente.
Quando você se achar em um sonho lúcido, tente limpar a mente.
Mapeie o ambiente onírico e observe todo o processo de seus próprios
pensamentos. O meio onírico desabará e você poderá encontrar-se
fora do corpo.
3.
Uma terceira sugestão vem de Sylvan Muldoon, que acreditava que os
sonhos de vôo automaticamente significam que o sonhador (i.e., seu
corpo "astral") esteja insoncientemente fora do corpo,
embora a mente ainda possa estar presa no corpo físico. Muldoon
sugere que um sonho lúcido de vôo seja induzido, ou você deveria
iniciar o vôo em seu sonho, e então ordenar a si mesmo para
despertar fora do corpo. Este era o método favorito que ele usava
para as projeções noturnas.
A
estranha relação entre sonhar, dormir e a viagem fora do corpo
exerce um importante papel nos escritos de Mulddon. Ele ainda
desenvolveu um método de projeção por meio do controle de sonhos
e/ou do estado hipnagógico, que se assemelhava ao de P. D.
Ouspensky:
"Por
muitas noites, após você ir dormir, (muitas semanas seria melhor
dizer), observe-se durante o processo de entrada no sono. Tente
concentar seus pensamentos em si próprio. Pense em nada e em
ninguém, exceto em você mesmo. Tente manter uma observação
cerrada em você mesmo, enquanto sua consciência se turva. Tente
lembrar que você está desperto, mas ainda dormindo. Você perceberá
a significação disso quando você tentar - muito mais do que o
percebe agora, enquanto lê.
"Apos
você ter aprendido a manter a conciência brotar dentro do estado
hipnagógico, até você estar realmente envolvido pelo sono, você
deve ir um passo além e construir um sonho apropriado para manter na
mente, enquanto começa a dormir. Lembre-se: o sonho deve ser
construído, assim você estará ativo nele; mais ainda, ele deve ser
construído para que a ação que você desenvolverá correesponda à
rota tomada pelo fantasma quando projetado.
"O
que você deseja fazer ? Nadar ? Pilotar um avião ? Viajar em um
balão ? Trem ? Elevador ? Tenha certeza e faça (em seu sonho)
aquilo que você "deseja" fazer. Se você eleger algo que
não deseje, a sensação ficará interiorizada em você, e será
desprazeirosa. Faça aquilo que lhe der uma sensação que você
goste e, se você tornar-se plenamente consciente, uma vez que você
esteja projetado, você gostará da sensação que obterá do
fantasma flutuante no ar. Isto irá por um longo caminho em direção
ao supremo êxito - ter a ação do sonho de tal natureza que você
desfrute a sensação.
"Agora,
vamos supor que você goste de subir em um elevador. (Esta é a
fórmula que eu uso.) Você já aprendeu a manter a consciência até
o momento de dormir. Deite-se de costas. Pense em você mesmo. Você
está deitado de costas no chão do elevador. Você irá deitar ali
quieto e dormir e, uma vez que você entra no sono, o elevador começa
a se mover para cima. E você irá desfrutar a sensação de ir para
cima, enquanto você deita de costas no chão do elevador.
"Agora,
está vibrando um pouco, preparando-se para ir ao topo de um grande
edifício. Vagarosamente, calmamente, está subindo, subindo, subindo
! Você está consciente que você está se movendo para cima. Você
desfruta da sensação ao máximo. Está se aproximando do topo
agora. Parou. Você está se levantando e anda para fora do elevador
e dá uma volta pelo andar do edifício.
"Você
dá uma olhada, enquanto anda, observando tudo. Agora você irá
andar de volta para dentro do elevador e deitar-se de costas no chão.
Lentamente você está se movendo para baixo, lentamente para baixo,
e agora você está deitado no chão do elevador, no piso térreo do
edifício.
"Eu
afirmei que este foi o sonho que eu construí para o propósito de
induzir o corpo astral a emergir do físico. Agora, é importante
usar o mesmo sonho repetidamente; pois se você tentar primeiro um
sonho e depois outro, o subconsciente não ficará afetado com a
construção (do sonho) tão fortemente quanto se você repetir o
mesmo, de novo e de novo, cada noite, enquanto você entra no sono.
"Ter
realizado o sonho vividamente em sua mente e mantê-lo diante de si
enquanto sua conciência está lentamente diminuindo; mover-se para
dentro do elevador no exato momento em que "adormecimento"
toma conta de você; e o corpo astral subirá no elevador; irá
aprumar-se sobre o corpo, assim como você sonha em levantar-se
quando o elevador alcança o último andar; ele irá mover-se para
fora, assim como você sonha que está saindo do elevador.
Igualmente, na volta, enquanto você anda para dentro do elevador, o
(corpo) astral mover-se-á para uma posição diretamente sobre o
corpo (físico); enquanto você se deita, o astral reassume a posição
horizontal; enquanto o elevador desce, o corpo astral também
descerá."
Após
você ter aprendido a induzir e controlar com êxito sua projeção
onírica, você está pronto para usá-la para induzir a efetiva
separação.
Neste
ponto, não parece importar se o sonho é lúcido ou não. Para
induzir uma completa separação, entretanto, você deve se lembrar
de despertar-se de seu sonho após ter deixado o elevador. Então, em
algum momento, a lucidez deve existir no sonho. Isto deverá
automaticamente induzir o estado OBE. Você deverá achar-se pairando
sobre seu corpo.
Embora
Muldoon realmente não sublinhe este ponto, você deverá realmente
tentar fazer lúcido o sonho todo de forma que você fique envolvido
ativamente nele. Isso o permitirá ter uma OBE no tempo apropriado. A
técnica inteira parece representar uma forma de auto-sugestão
associada com vizualização.
Todos
esses exercícios podem soar difíceis de dominar, mas eles realmente
não são. A única coisa que você deve fazer é praticá-los com a
convicção de que eles realmente funcionarão. É mais como um
treinamento de biofeedback. Psicólogos aprenderam que nós todos
possuímos um certo grau de controle sobre o que pensamos ser funções
psicológicas automáticas - incluindo ondas cerebrais, pulsação
cardíaca, tensão elétrica da pele e temperatura corporal. A
maioria das pessoas podem aprender a controlar tais funções
meramente por meio de recepção feedback sobre as mesmas. Um método
comum de controle das ondas cerebrais, por exemplo, é conectar um
sujeito a um eletroencefalograma (EEG) linkado a um sistema de
campainha. Quando o sujeito momentaneamente produz um certo rítmo de
ondas cerebrais, como uma sequência de ondas alpha, a campainha
começa a tocar. Este feedback possibilita ao sujeito produzir
resultados desejados por tentativa e erro. O sujeito normalmente
começa tentando estratégias específicas, como "desejando"
ativamente ou criando certas imagens mentais para produzir as ondas.
Gradualmente, entretanto, ele ou ela aprenderá que uma abordagem
mais passiva é melhor. O controle biofeedback é mais exitosamente
praticado simplesmente sentando-se, relaxando-se e passivamente
"desejando" que uma apropriada mudança corporal tenha
lugar. Esta estratégia, chamada "volição passiva",
funciona para a maioria das pessoas, não importando qual tarefa de
biofeedback lhes são dadas.
Traduzindo
isso em termos mais práticos, parece que ficar alerta sobre suas
funções mentais/corporais fornece a você um grau automático de
controle sobre as mesmas.
Isso
parece ser verdade para os exercícios listados acima. Você
automaticamente desenvolverá algum controle sobre seus sonhos
meramente pela observação deles e dando a si mesmo as
auto-sugestões apropriadas. Seu inconsciente fará o resto. A razão
da maioria de nós não ter qualquer controle sobre nossos sonhos é
porque poucos de nós realmente prestam qualquer atenção a eles.
Como a Dra. Garfield sabiamente sublinhou, a chave crítica para
aprender o controle de sonhos é desenvolver uma atitude correta em
direção às cirações noturnas. O resto é fácil.
ComentáriosPara
ilustrar a utilidade dos exercícios descritos acima, vamos ver como
os grandes projetores do passado usaram os sonhos lúcidos como uma
rota para a OBE. Isto também revelará como a OBE frequentemente
envolve algumas relações simbióticas com este estado onírico
particular.
A
habilidade para sonhar lucidamente pode automaticamente causar OBEs
espontâneas; isto é bem ilustrado nos relatos do Dr. Frederick Van
Eeden, um médico holandês da virada do século XIX que
primeiramente descreveu o fenômeno. Van Eeden começou estudando
seus próprios sonhos em 1896 e manteve diários detalhados sobre
eles. Este processo de observação parece ter ocasionado seus sonhos
lúcidos, que começaram em 1897, e ele coletou cerca de 352.
Aparentemente, ele nunca tentou induzir sonhos lúcidos, nem
provavelmente percebeu que poderia fazê-lo. Ele primeiramente
descobriu os sonhos lúcidos quando uma incongruência o alertou para
o estado (onírico). "Eu sonhei que estava flutuando sobre uma
paisagem com árvores desfolhadas, sabendo que era abril", ele
explicou em uma leitura apresentada na Society for Psychical Research
muitos anos mais tarde, "e notei que a perspectiva dos ramos e
galhos mudavam muito naturalmente. Então eu refleti, durante o sono,
que minha imaginação nunca seria capaz de inventar ou fazer uma
imagem tão intrincada como os movimentos em perspectiva dos pequenos
galhos parecia realizar durante a flutuação." Após perceber
que era apenas um sonho, ele não acordou e então foi capaz de
continuar suas observações.
Esta
experiência inicial teve um peculiar efeito colateral. Van Eeden
começou a ter OBEs, embora o psicológo inicialmente não percebesse
o que estava acontecendo. Por acaso, seis meses após seu primeiro
sonho lúcido, ele teve a seguinte experiência:
"Na
noite de janeiro de 1920, eu sonhei que estava deitado no jardim
atrás da vidraça. Eu estava deitado em minha cadeira e observando o
cachorro muito penetrantemente. Na mesma hora, entretanto, eu sabia
com absoluta certeza que estava sonhando e deitado de costas em minha
cama. E então resolvi levantar-me vagarosa e cuidadosamente e
observar como minha sensação de deitar em minha cadeira mudaria
para a sensação de deitar-me de costas. E assim eu fiz, calma e
deliberadamente, e a transição - que eu passaria a ter muitas vezes
- é maravilhosa. É como sentir-se escorregando de um corpo para
outro, existe uma dupla recordação dos dois corpos. Lembrei-me o
que eu senti ao sonhar deitado em minha cadeira; mas voltando para
minha vida diária, eu me lembrei também que meu corpo físico
esteve tranquilamente deitado de costas enquanto isso. Esta
observação de uma dupla memória eu a tive muitas vezes desde
então. É tão fora de dúvida que isso nos leva quase
inevitavelmente para a concepção de um corpo de sonho.
"Em
um sonho lúcido, a sensação de ter um corpo - possuir olhos, mãos,
uma boca que fala etc - é perfeitamente distinta; ainda que eu saiba
ao mesmo tempo que o corpo físico esteja dormindo e esteja numa
posição muito diferente. Ao levantar-se, as sensações
misturam-se, quer dizer, eu me lembro tão claramente da ação do
corpo de sonho como do repouso do corpo físico."
Esta
experiência levou Van Eeden a perguntar-se se seu "corpo de
sonho" poderia ser de algum modo "real". Ele ainda
sugeriu que esse corpo e o corpo "astral" dos ocultistas
seriam o mesmo - indicando estar parcialmente consciente de que ele
estava literalmente fora-do-corpo. (A maioria dos sonhadores lúcidos,
embora conscientes de estarem sonhando, percebem seus corpos de
sonhos como seus únicos corpos reais. Um sonhador que se acha fora
do corpo e consciente de que seu corpo físico esteja localizado em
outro lugar está provavelmente passando por uma OBE.)
Após
essa aventura, Van Eeden começou a experienciar ativamente com o
corpo de sonho e com os sonhos lúcidos. Algumas vezes ele
"despertaria" para encontrar seu corpo de sonho parado em
seu quarto ao lado de sua esposa. Ele ainda tentou gritar a ela para
ver se ele poderia acordá-la. Essas experiências foram, é claro,
muito provavelmente genuínas OBEs e não sonhos lúcidos - os quais
ele tinha muitos. O passatempo favorito em seus (genuínos) sonhos
lúcidos era voar, encontrar pessoas que ele sabia que estavam
mortas, explorar paisagens maravilhosas e envolver-se em outras
aventuras. Ele também realizou pertinentes observações sobre a
natureza e a fenomenologia dos sonhos lúcidos. Ele percebeu que eles
normalmente ocorriam pela manhã entre às cinco e oito horas e
usualmente manifestavam-se um dia ou dois após ele ter experimentado
sonhos não-lúcidos de vôo. Ele também descreveu como ele
ocasionalmente "se levantaria" em seu quarto, somente para
ver que o quarto estava de algum modo diferente. Estranhas visões e
sons manifestariam, deste modo alertando-o que ele estava de fato
ainda dormindo e sonhando ! Ele ainda teria que "redespertar"
a si próprio.
A
maior contribuição de Van Eeden para o estudo dos sonhos foi
publicado pela Society for Psychical Research em 1913. Um perspicaz
estudante de pesquisas psíquicas, assim como de psicologia dos
sonhos, Van Eeden esperava ao final escrever uma história mais
completa de seus experimentos. Aparentemente ele nunca completou seu
trabalho. Talvez em seu projetado trabalho ele teria realizado mais
claramente a diferença entre seus sonhos lúcidos e suas OBEs. Lendo
seus escritos hoje, entretanto, parece óbvio que ele estava tendo
ambas as experiências, embora ele não percebesse a diferença entre
elas. Seus registros servem melhor como uma ilustração de como as
OBE existem em próxima relação com sonhos lúcidos e podem ser
consideradas como um co-produto ("by-product") deles.
Patricia
Garfield, cuja pesquisa sobre sonhos foi discutida anteriormente,
recomenda particularmente o uso de sonhos lúcidos para divertimento
e amadurecimento psicológico e espiritual. (Ou, como ela coloca, "um
tipo de aprendizado que não está contido em livros de psicologia".)
Ela experimentou uma dramática OBE durante o período de suas
experimentações. Em sua autobiografia Pathway
to Ecstasy,
a Dra. Garfield descreve como ela estava descansando um dia em sua
cama pronta para entrar no sono. Ela estava lendo um livro sobre OBE
e decidiu levar adiante seus experimentos um passo mais longe. Ela
percebeu que seu corpo estava vibrando suavemente e ouviu zumbidos em
seus ouvidos. Percebendo que ela bem poderia estar em um estado
pré-OBE, ela formulou o desejo a si mesma para que se suspendesse de
seu corpo. Ela desceu de volta e então induziu uma segunda OBE.
Dessa vez, entretanto, seu segundo "self" decolou por sua
própria conta, projetando-se para fora do corpo na velocidade da
luz. Garfield achou-se no vácuo e então perdeu a consciência.
A
experiência teve um estranho, quase mórbido efeito sobre ela, e ela
ficou apavorada. Por todo aquele dia, ela sentiiu-se como se tivesse
uma outra OBE caso ela descançasse e baixasse a guarda. Finalmente,
ela foi dormir de lado para inibir qualquer OBE que começasse a se
manifestar.
Somente
muito mais tarde, a Dra. Garfield compreendeu plenamente o que havia
ocorrido com ela. "Associando minha própria experiência com
sonhos lúcidos e comparando-a com os registros das experiências de
outras pessoas", ela escreveu em Pathway
to Ecstasy,
"eu vi que eu estava a caminho de uma inevitável experiência
fora-do-corpo". Ela aprendeu que as técnicas para induzir
sonhos lúcidos são idênticas aos modos de literalmente liberar o
"self" do corpo. Domina-se uma prática e obtém-se um
bônus !
Garfield
nunca ficou confortável com a perspectiva de deixar o corpo. Quando
eu a encontrei pela primeira vez em São Francisco em 1979, ela
admitiu que ela tinha tentado subsequentemente uma indução
conciente da experiência, mas com pouco sucesso. Sem dúvida, sua
reação negativa para a OBE reforçou sua "barreira de medo"
pessoal, que pode tê-la bloqueado de qualquer outra exploração.
Para
compreender a grande complexidade dos sonhos lúcidos e como eles se
relacionam com o controle consciente da OBE, entretanto, deve-se
voltar para os registros detalhados de Hugh Callaway. Ele
virtualmente dominou a arte da projeção consciente através do
estudo dos sonhos lúcidos.
Nós
sabemos relativamente pouco sobre Callaway. Nascido em 1886, ele
passou a maior parte de sua vida em Londres e finalmente tornou-se
advogado. Serviu nas forças armadas britânicas por dois anos
durante a Primeira Guerra Mundial e mais tarde envolveu-se bastante
com o "underground" ocultista de Londres, tornando-se
finalmente um teosofista. Callaway começou a experimentar OBE quando
tinha apenas 16 anos, o que sem dúvida conta para seu interesse
posterior pelo oculto. Seus primeiros relatos autobiográficos
apareceram em 1920 no Occult Review; eles foram mais tarde ampliados
tornando-se um livro escrito (como foram seus artigos) sob o
pseudônimo de Oliver Fox. Esse volume, Astral
Projection - a record of out-of-body experience,
tornou-se um dos clássicos no campo. Callaway viveu para ver a
erupção da Segunda Guerra Mundial e faleceu em 1949.
A
história psíquica de Callaway começa em sua infância, mas até
1902 ele não havia tido uma experiência que instigasse seu
interesse sobre sonhos lúcidos e projeção astral. Uma noite, ele
estava sonhando que estava entrando em uma casa quando a bizarra
configuração das pedras do meio fio prendeu sua atenção. Elas
rearranjaram-se a si próprias a partir de suas posições normais. O
surpreso adolescente repentinamente percebeu que ele estava sonhando.
Essa revelação produziu uma alteração tão notável no nível de
sua consciência que ele perdeu o controle do sonho. Ele acordou
apavorado e excitado. A experiência também levou o jovem Callaway a
indagar se ele poderia treinar a si próprio para tornar-se
consciente durante seus sonhos e prolongar a lucidez.
Finalmente,
ele descobriu uma técnica apropriada. "Antes de dormir, eu devo
imprimir em minha mente o propósito de não me permitir o direito de
adormecer", ele escreveu em sua autobiografia. "Deve-se
manter desperto, pronto para lançar-se sobre qualquer inconsistência
no sonho e reconhecê-la como tal." Houve centenas de
experimentos antes que Callaway tivesse sucesso em induzir sonhos
lúcidos, mas não mais tempo do que começasse a ter OBEs também.
Essas projeções, que Callaway inicialmente considerou meras
variações de seus sonhos lúcidos, começaram a se manifestar
quando ele tentou prolongar seus sonhos. Ele estaria explorando
alguns estranhos ambientes oníricos quando ele gradualmente tornaria
consciente da "arrancada" de seu corpo físico. Seu
ambiente onírico desbotaria e ele encontrar-se-ia paralisado em sua
cama em casa.
Nos
próximos três anos, Callaway sistematicamente realizou experiências
com seus sonhos lúcidos e isso o levou a fazer muitas descobertas
sobre a relação entre sonhos lúcidos e OBE. A primeira era sua
descoberta do "falso despertar" que Van Eeden estava para
descobrir e descrever poucos anos mais tarde. Callaway aprendeu que
às vezes ele "despertaria" após um sonho lúcido somente
para descobrir que ainda dormia. Ele reconheceria esse estado quando
ele se achasse vendo claramente seu quarto enquanto simultaneamente
consciente de que seus olhos estavam fechados. Não levou muito tempo
para perceber que meramente por um ato de vontade, ele poderia
induzir uma OBE a partir do falso despertar. Sua descoberta seguinte
foi que ele às vezes despertaria de um sonhos lúcido totalmente
cataléptico, um estado pré-projetivo que poderia ser facilmente
utilizado para deixar o corpo à vontade.
Entretanto,
por volta de 1905, Callaway não tinha certeza onde os sonhos lúcidos
terminavam e a real projeção astral iniciava. Seu interesse em
descobrir isso veio mais tarde naquele ano, como resultado do que
parecia uma ostentação negligente. Callaway estava cortejando uma
jovem chamada Elsie, que morava do outro lado da cidade. Um dia ele
estava se gabando de suas projeções, quando ela, numa brilhante
manifestação de superioridade sobre os homens (one-upmanship),
começou a alegar possuir a mesma habilidade. Ela ainda se gabou que
poderia visitá-lo naquela mesma noite - e fez essa prmessa !
Callaway ficou compreensivelmente chocado quando o espectro de Elsie
apareceu em seu quarto assim que ele estava pronto para entrar no
sono. Ele visitou-a no dia seguinte para relatar sua visita, mas
antes que ele pudesse dizer-lhe o que havia ocorrido, a jovem mulher
ofereceu-lhe uma minuciosa descrição de seu quarto - correta sobre
cada detalhe !
Esse
incidente encorajou Callaway a ir mais longe com as experiências
sobre projeção astral. Agora determinado a descobrir os parametros
da OBE como um fenômeno independente do sonho lúcido, ele queria
encontrar um modo de deixar o corpo sem entrar no sono e assim sonhos
de qualquer espécie não interfeririram.
A
primeira experiência crítica ocorreu em Julho de 1908 quando
Callaway descobriu que ele poderia livremente induzir uma catalepsia
pré-projetiva. (Ele a chamou de "condição de transe").
Sua técnica era deitar-se, fechar os olhos, respirar ritmicamente
até se tornar sonolento, mas reter a consciência desperta até que
ele pudesse ver seu quarto através de sua pálpebras fechadas. Então
ele simplesmente tinha que sugerir a si mesmo para deixar seu corpo.
Uma vez fora de sua prisão física, Callaway poderia se projetar
para qualquer lugar que desejasse simplesmente sugerindo a si mesmo
para viajar. Às vezes ele era literalmente catapultado para fora de
seu corpo, ou era conduzido como se fosse por um grande
vento.
Posteriormente ele aprendeu que poderia induzir o transe projetivo deitando-se e impetuosamente virando (squinting) seus olhos para cima até que a paralisia sobreviesse. Então ele visualizaria um portal acima de sua cabeça e imaginaria a si mesmo investindo sobre ele até que ele disparasse para fora de seu corpo. A experiência era frequentemente desagradável e mais tarde Callaway abandonou o método. (Esta técnica, chamada de método "porta pineal", é recomendada em muitos livros de evolução psíquica e é derivada diretamente dos escritos de Callaway. Poucos autores que sugerem esse método parecem atentar-se que Callaway especificamente alertou que ela é muito desagradável e pode trazer repercussões negativas para o corpo).
Posteriormente ele aprendeu que poderia induzir o transe projetivo deitando-se e impetuosamente virando (squinting) seus olhos para cima até que a paralisia sobreviesse. Então ele visualizaria um portal acima de sua cabeça e imaginaria a si mesmo investindo sobre ele até que ele disparasse para fora de seu corpo. A experiência era frequentemente desagradável e mais tarde Callaway abandonou o método. (Esta técnica, chamada de método "porta pineal", é recomendada em muitos livros de evolução psíquica e é derivada diretamente dos escritos de Callaway. Poucos autores que sugerem esse método parecem atentar-se que Callaway especificamente alertou que ela é muito desagradável e pode trazer repercussões negativas para o corpo).
Callaway
devotou o resto de seus experimentos, de 1907 a pelo menos 1937, a
explorar a natureza do mundo da OBE. Muitas de suas estranhas
aventuras estão relatadas em ordem cronológica em seu livro. Ele
experimentou visitar locais terrestres, viajando por grandes
distâncias em instantes e ainda logrou êxito em visitar novas
dimensões de realidade onde ele interagiu livremente com seus
habitantes. Sua fascinação com o oculto cresceu durante aqueles
anos, e seu objetivo final era usar suas OBEs para localizar um
mestre espiritual não-corpóreo que pudesse ajudá-lo no caminho
para a perfeição espiritual. Podemos apenas indagar se ele foi bem
sucedido.
Os
registros de Callaway são particularmente fascinentes pois ele
mostram como a plena habilidade em controlar OBE pode ser
desenvolvida pelo uso de sonhos lúcidos. Não há evidências que
Callaway fosse um projetor natural. Suas separações iniciais
manifestaram-se como um produto colateral de seus experimentos em
controlar os sonhos e não há razão para acreditar que ele era
único em sua habilidade de dominar a projeção astral dessa
maneira. Ele era sábio o bastante, entretanto, para ver o potencial
de suas experiências, que lhe permitiram usar seus sonhos lúcidos
como um tranpolim para maiores desenvolvimentos psíquicos. Suas
notas autobiográficas podem, portanto, servir como um modelo para
qualquer um que deseje usar sonhos lúcidos como um passo em direção
à OBE. Elas mostram como proceder, que fenomenologia esperar, como
usar o que se aprendeu para maior controle consciente etc. Mas,
lembre-se que Callaway levou uns cinco anos para aprender a arte. Não
é realmente tanto tempo; grosseiramente equivale ao tempo que se
leva para tornar-se razoavelmente proficiente em um instrumento
musical.
Embora
o estudante possa querer usar os métodos de Callaway como um guia em
sua própria prática, não é necessário aprender o controle total
do sonho lúcido para induzir a OBE. Breves momentos de lucidez podem
funcionar igualmente bem para estimular suas experiências iniciais.
A esse respeito, há muito o que dizer sobre o método de controle de
sonhos de Muldoon. De fato, eu aprendi uma técnica muito similar a
essa para induzir algumas de minhas próprias OBEs.
Como
explicado no Capítulo 4, minhas primeiras separações foram
aparentemente catalizadas pela minha dieta e pelo meu desejo por essa
experiência. Entre 1965 e 1967, essas projeções eram claramente
comuns e gradualmente eu aprendi a exercer algum controle sobre elas
por uma forma rudimentar de sonho lúcido.
Um
resultado de minhas OBEs iniciais foi que pela primeira vez em minha
vida, eu me tornei muito consciente de meu estado hipnagógico. Eu
nunca havia prestado atenção a essa imaginativa fase pré-sono, mas
agora eu me encontro imerso nela. Cada noite que eu caísse no sono,
eu observaria um panorama de cenas atrás de meus olhos - às vezes
concisas, às vezes tão elaboradas que se parecem como se eu
realmente estivesse sonhando. Quanto mais atenção eu prestasse a
essas imagens, mais eu desenvolvia a capacidade de prolongar o estado
hipnagógico. Uma noite eu estava muito próximo do sono, bem dentro
do estado hipnagógico e imerso em um "meio sonho" no qual
estava dirigindo freneticamente em uma auto-estrada. Eu estava bem
consciente que estava sonhando, mas a experiência era muito realista
e eu lutava para manter o controle do carro. Então ocorreu-me que
nada poderia ocorrer se eu batesse. Naquele momento eu tinha um
sentimento intuitivo de que se eu batesse o carro, eu deixaria o
corpo. Deliberadamente, desviei para fora da estrada e comecei a cair
no aterro. Senti um instantâneo e maravilhoso sentimento de alívio
como se eu me encontrasse flutuando sobre meu corpo.
Nos
poucos meses seguintes eu tive muitos desses "sonhos" de
estar dirigindo e devaneios hipnagógicos. Eu podia frequentemente
deixar o corpo pela manipulação deles. Minha teoria é que esses
sonhos muito especiais foram mensagens produzidas pelo meu
inconsciente quando eu entrei no estado projetivo. Bater o carro foi
um método de relaxamento (releasing) o controle de minha consciência
para que a OBE pudesse se manifestar. Eu nunca experimentei tentar
induzir esse imaginário particular, entretanto. Os sonhos de dirigir
sempre se manifestaram espontaneamente.
Como
um outro curioso sub-produto da minha nova consciência, comecei a
perceber certos símbolos em meus sonhos que pareciam alertar-me para
os modos de sair do corpo. Eu não experimentei exatemente essas
dicas como sonhos lúcidos, mas simplesmente obtinha um instante de
insight durante um sonho normal de um modo a experienciar uma OBE.
Esse tipo de insight normalmente vinha quando eu estava sonhando
acerca de uma rampa ou buraco em que eu podia me arremessar ! Um de
meus mais espantosos esforços veio durante um sonho no qual eu
estava andando por um corredor de um edifício. Uma grande rampa
encontrava-se na parede, ao meu lado e ainda que o sonho de fato não
tenha se tornado lúcido, algum instinto disse-me para saltar para a
rampa. Eu acordei completamente cataléptico e em um estado
projetivo. Após algum esforço, eu era capaz de induzir uma breve
OBE durante a qual pairava prazerosamente sobre meu corpo.
Essas
várias experiências resultaram de uma espontânea manifestação de
estratégias imaginativas do tipo que Muldoon sugeriu para as
projeções conscientes de separações noturnas. É, portanto,
provável que se possa aprender a deixar o corpo pelo uso de sonhos
especialmente preparados ou estratégias hipnagógicas. O problema é
como descobrir quais símbolos ou cenários oníricos funcionarão
melhor. Muldoon descobriu, ele próprio, que cenários precisos
variam de pessoa para pessoa. Minha própria opinião é que qualquer
técnica ou sequencia onírica pré-preparada funcionará, desde que
você forneça a si mesmo a sugestão que ela funcionará e
plenamente espere por isso.
A
lição aqui é que uma vez que você tenha inicialmente deixado o
corpo ou simplesmente esteja praticando, sua mente começará a
oferecer dicas ou sugestões sobre a melhor maneira de sair de seu
corpo. Durante o período de minhas ativas experiências com viagens
fora-do-corpo, eu utilizei muito pouco os métodos de indução
oníricas. Mas, assim que eu abri a porta, a experiência provocou
muitas alterações em minha vida onírica e hipnagógica (presleep).
Essa nova consciência forneceu-me dicas para novas possibilidades e
potenciais.
A
questão final é óbvia. Como você sabe quando uma OBE produzida
por meio de controle de sonhos é uma OBE e não apenas um sonho ?
A
maioria dos praticantes experimentados podem dizer a diferença por
experiência. Para eles a experiência subjetiva entre estar
fora-do-corpo e simplesmente ter um sonho lúcido é tão clara como
a diferença entre acordar e sonhar para a média das pessoas. S.
Keith Harary gosta de explicar que suas OBEs diferem em qualidade de
suas sonhos tão vividamente quanto seus sonhos de sua vigília. Não
há razão para duvidar da validade central desse tipo de avaliação
subjetiva. Primeiramente, entretanto, os viajantes novatos podem
passar por um período duro para distinguir uma OBE de um sonho
lúcido. Tanto Hugh Callaway como Frederick Van Eeden originalmente
confundiram as duas experiências e consideraram-nas análogas. Um
fator complicador é que como você experimenta, você pode realmente
sonhar que viaja fora do corpo.
Com
a prática, entretanto, você deverá ser capaz de dizer a diferença.
Alguns sinais podem ajudá-lo a discriminar entre esses dois níveis
de experiência mental. Celia Green, que realizou um estudo profundo
sobre sonhos lúcidos, assim como sobre OBE, resumiu como se segue:
1.
A OBE normalmente ocorre a partir do estado desperto ou quando se
acorda de um sonho, enquanto que o sonho lúcido normalmente evolui a
partir de um sonho normal.
2.
O sonhador lúcido geralmente acha incongruências no ambiente
onírico; o viajante fora do corpo normalmente se vê em um ambiente
coerente, como se ele ou ela estivesse em um mundo real.
(Isso
não é um princípio absoluto, uma vez que incongruências são
conhecidas por ocorrer uma vez que se esteja fora do corpo. Por
exemplo, um quarto escuro pode parecer perfeitamente iluminado. Mas o
ambiente será muito mais auto-coerente que tende a ser o de um mundo
onírico.)
3.
Sonhadores lúcidos frequentemente incluem elementos oníricos
fantásticos. A maioria das OBEs convencionais são mais mundanas.
4.
OBEs são usualmente experienciadas como mais vívidas, "reais",
e emocionalmente intensas que os sonhos lúcidos que, não importa
quão consciente se torna, permanecem sonhos.
5.
Os sonhadores lúcidos invariavelmente experienciam como possuindo um
corpo, enquanto muitos viajantes-fora-do-corpo acham a si mesmos
"desemcarnados" (disembodied).
Para
repetir o que foi dito no início deste capítulo, outro ponto de
diferença é como se experiencia enquanto se passa por um sonho
lúcido. A média dos sonhadores lúcidos experienciam o corpo de
sonho como sua forma única. Embora o sonhador lúcido possa levitar
e voar, normalmente não há a consciência verdadeira que seu corpo
físico real esteja "em algum outro lugar". Uma pessoa que
passa por uma OBE normalmente está profundamente consciente de
ter-se separado de seu corpo físico. Ele ou ela pensa sobre seu
corpo, o que o sonhador lúcido não faz. Este sentido de estar fora
de seu corpo físico, que pode estar descançando a milhas de
distancia, é um atributo definitivo da OBE. Eu tive, por exemplo,
muitas OBEs noturnas enquanto viajava a trabalho. Normalmente, eu
repentinamente "me achava" de volta em minha casa em Los
Angeles sem nenhuma consciência de realmente ter deixado o corpo. Em
cada ocasião, a experiência foi acompanhada por uma reação
inicial de "O que estou fazendo aqui ? Meu corpo está em New
York (ou onde quer que estivesse visitando) !" Esta consciência
de separação virtual do corpo sempre me alerta para meu estado
fora-do-corpo e raramente ocorre durante simples sonhos lúcidos. Por
essa razão, eu também penso que muitos dos "sonhos lúcidos"
de Van Eeden foram de fato OBEs.
Entretanto,
ao longo do caminho e com a experiência, você será capaz de dizer
a diferença entre um sonho e uma OBE. Então essa questão toda
parecerá acadêmica para você.