VIAGEM PARA FORA DO CORPO - Revista "Nova" - Out/93
VIAGEM
PARA FORA DO CORPO
Lídice Severiano
Fonte:
Revista "Nova" - Out/93 (Págs. 76/77)
A
idéia de atravessar paredes, voar além dos oceanos, conhecer vários
países numa só noite ou até reencontrar parentes que já morreram,
parece, e é, coisa de outro mundo. A novidade é que paranormais
dos quatro cantos do planeta juram que qualquer pessoa pode "viajar"
para fora do corpo.
Quando
eu tinha 18 anos (Lídice Severiano), dois tiros perdidos acertaram
minha perna. Enquanto me socorriam não senti dor alguma. Só
conseguia pensar: estou morrendo, vou morrer. E comecei a subir em
direção ao céu, como se fosse vapor. E como subia rápido!
Quanto mais me afastava do carro onde tinham me deitado, da rua, da
cidade, mais pensava que aquela não podia ser minha hora, que não
era justo eu morrer tão cedo. Aí resolvi me beliscar para ver se
não estava sonhando. Minha mão não se mexeu. Desesperada, tentei
de novo. Alívio geral. Eu não era mais vapor e estava de novo no
carro. Desmaiei e só acordei no hospital. Seis anos depois, quando
uma amiga me apresentou ao paranormal Wagner Borges, fundador do
Instituto de Pesquisas Projeciológicas e Bioenergéticas (IPPB) de
São Paulo, SP, descobri que o que acreditava ter sido um delírio
foi simplesmente uma experiência fora do corpo.
Segundo
relatos de ‘viajantes’ como eu, não há limites para o que se
pode perceber fora do corpo. Podemos levitar até o teto do quarto e
contemplar nossos corpos deitados na cama. Podemos saltar no tempo,
nos flagrar em vidas passadas ou futuras. Podemos visitar outros
países. E também ter experiências sexuais inesquecíveis com
parceiros igualmente fora do corpo.
Pesquisas
apontam que de 10% a 15% dos americanos acreditam ter viajado fora de
seus corpos. A ciência, no entanto, ainda está à procura de algum
indício conclusivo de que as Experiências Fora do Corpo (EDFC),
como dizem os americanos, Viagem Astral ou Projeção Astral, como
preferem os brasileiros, não são fruto da imaginação humana. Mas
isso não chega a tirar o sono de paranormais que estudam este
fenômeno. Para eles, todos nós podemos projetar nossas mentes para
fora do corpo. Livre, a mente viaja para onde quiser - não só para
o presente, o passado e o futuro como também para onde hoje estão
nossos amigos e parentes mortos.
Segundo
seus estudiosos, a Viagem Astral não está ligada a seitas místicas,
religiões ou superstições. Eles acreditam que se trata de mais um
fenômeno entre os vários potenciais oculto do ser humano - como,
por exemplo, a telepatia e a clarividência. Uma regra, porém, é
fundamental para aceitá-la: acreditar que o limite do ser humano não
se restringe apenas ao corpo físico.
“Projeção
Astral é a saída temporária do corpo-espírito para fora do
corpo-físico”, resume o paranormal Wagner Borges. Neste caso, os
dois corpos “se despregam mas permanecem ligados por um condutor
energético, uma espécie de cordão prateado (cordão de prata)” -
que é invisível, atravessa matérias sólidas e tem tamanho
infinito.
Infinitas
também são as histórias sobre o assunto. Wagner Borges ensina que
graças ao cordão de prata não há perigo de o corpo físico ‘se
perder’ no cosmo durante a viagem astral. E, sem nunca ter posto
os pés num aeroporto internacional, garante ter conhecido o Chile, a
França e a Índia. Sempre cruzando os oceanos por conta de seu
espírito.
Agora,
no que diz respeito aos relacionamentos sexuais extrafísicos, Wagner
Borges alerta: é tudo muito diferente do que conhecemos. Primeiro,
porque precisa existir afinidade ou um sentimento muito forte entre
os dois seres. Segundo, porque a relação em si pode ser feita num
abraço ou apenas num toque de mãos. “O sexo no plano astral é
uma fusão espiritual de energias e essa troca provoca uma sensação
superior ao orgasmo”, diz.
Impossível
? Pode ser. Mas muita gente está sendo seduzida pelo assunto.
Wagner Borges começa seu curso no IPPB com uma advertência: “Viagem
Astral não é brincadeira de turismo extrafísico e quem sai do
corpo tem algumas responsabilidades”. Uma delas é prestar ajuda
por meio de projeções de energia. “Muita gente morre em acidentes
graves, como quedas de avião, e os espíritos chegam no plano astral
precisando de energias como as nossas”, observa Wagner Borges.
Segundo
os pesquisadores, todo ser humano involuntariamente viaja para fora
do corpo durante o sono. ‘Só que não se recorda’, diz Wagner
Borges. ‘Ou então, acha que sonhou.’
Um
dos mais importantes pesquisadores mundiais do fenômeno, o médico
Waldo Vieira, que introduziu o estudo da experiência no Brasil,
aponta estatísticas internacionais. Segundo elas, a projeção
inconsciente acontece a 89% das pessoas, enquanto 9,8% têm projeções
semiconscientes e apenas 1,2% da população mundial pratica a
projeção lúcida.
“É
uma pena porque todos poderiam ter sucesso se tentassem com vontade”,
diz Waldo Vieira, fundador do Instituto Internacional de
Projeciologia e Conscienciologia (IIPC), com sede no Rio de Janeiro.
Mas tentar para quê ? Segundo Wagner Borges, para descobrir que
somos imortais. “Quem experimenta a Projeção Astral e encontra no
plano astral um parente que já morreu, perde completamente o medo de
morrer, de sentir dor”, explica, comentando que a hora da morte é
bem parecida com o que acontece no filme “Ghost - Do Outro Lado da
Vida.”
O
filme conta à história de um jovem executivo que é assassinado a
tiros durante um assalto. Seu corpo morre mas seu espírito (a
consciência) continua ali, sem entender nada, acompanhando a dor da
namorada. “A sensação irremediável de perda com a morte acaba
com a Projeção porque você tem a certeza da possibilidade de
reencontro”, resume Wagner Borges.
Um
sintoma inequívoco da projeção inconsciente, segundo o paranormal,
é aquele momento do cochilo, em que a pessoa se sente escorregando
da cama mas em vez de cair, ela desperta. Outro, é o caso de quem
costuma acordar com o corpo totalmente paralisado. “Isso acontece
porque a pessoa acorda antes ou durante o encaixe do corpo-espírito
no corpo-físico”.
Foi
o susto causado por esta ‘paralisia’ que levou a médica
homeopata Denise Costa Carezzato ao IIPC. A história começou numa
aula de ioga, há vinte anos. Ela conta que relaxou e de repente se
percebeu no teto, observando a sala, os alunos e a si própria. “Na
hora pensei: Será que morri ?” “Mas voltei ao corpo e... nunca
mais apareci nas aulas.” Tempos depois, passou a ter sensações
desconfortáveis. Acordava e não conseguia levantar da cama. “Me
virava para os lados e meu corpo não se movia de jeito nenhum”,
conta. Seu pânico acabou com os cursos de Projeção Astral “fora
do corpo minha lucidez é tanta que nem preciso de provas
científicas”, diz Denise.
Enquanto
isso, os interessados contam com uma farta bibliografia. A
biblioteca do IIPC tem 5.100 obras, onde são contadas centenas de
casos de projeções, os mais conhecidos foram escritos pela atriz
norte-americana Shirley MacLaine. O IIPC já cadastrou 41.000
associados entre suas sedes paulistas e cariocas. Elas costumam
demorar de seis meses a um ano para viver suas experiências de
maneira consciente. "Depende de força de vontade de cada um",
diz Wagner Borges.
A
psicóloga Maria Regina Ramos de Andrade, professora da Faculdade de
Educação da Universidade de São Paulo (USP), e autora de dois
estudos sobre Reiki (Transferências de Energia por Imposição das
Mãos), já se acostumou a atender pacientes que relatam viagens para
fora do corpo. Mas nunca os aconselha a cultivá-las. "Percebo
que o fenômeno não é uma farsa, mas não dá para sair ‘voando’
sem lembrar a parte médica, alerta, observando que as pessoas que
relatam esse tipo de experiências em geral estão anêmicas, com
deficiências hormonais ou passando por um stress violento”.
A
bordo de seus 32 anos de estudos parapsicológicos, o padre católico
Oscar Quevedo, fundador do Centro Latino-Americano de Parapsicologia,
admite que a experiência fora do corpo existe. Mas garante que ela
acontece exclusivamente em estados ‘muitíssimo’ alterados de
consciência, como os casos de coma ou de pessoas que tomam
anestesia, uma droga qualquer ou sofrem um acidente. "Nestas
situações, a energia corporal, que é matéria, se exterioriza e
assume outras formas. Mas ela nunca ultrapassa a distância de 50
metros”.
Quem
rebate a opinião do padre Quevedo é a inscrição ‘materialista’
das plaquetas penduradas em todas as salas do IIPC. As enormes
letras vermelhas dizem: “Não acredite em nada, nem mesmo no que
você vai ouvir aqui. Experimente. Tenhas suas próprias
experiências pessoais.”
UM FENÔMENO MUITO ANTIGO
Embora
conhecida desde a Antigüidade, durante séculos a Projeção Astral
foi estudada apenas por místicos. Isso só começou a mudar no
final do século passado, com o surgimento da Society for Psychical
Research (Sociedade de Pesquisas Físicas), de Londres, Inglaterra,
entidade científica especializada em fenômenos parapsíquicos.
As
pesquisas modernas tiveram ênfase na década de 60, quando o
estudioso norte-americano Charles Theodore Tart levou para seu
laboratório homens e mulheres que juravam "viajar" para
fora de seus corpos. Mais recentemente, a atriz Shirley MacLaine
voltou a colocar o assunto em discussão. No livro "Minhas
Vidas" (também em filme), ela fala de suas viagens espirituais.
Na
década de 80, o médico brasileiro Waldo Vieira criou o neologismo
"Projeciologia" para denominar o estudo das experiências
fora do corpo. Waldo Vieira é autor dos livros "Projeciologia"
e "Projeção da Consciência". Nas obras está o resumo
de quase trinta anos dedicados ao tema.
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