VAMPIROS (Parte 4)
Intacto e puro na morte
Ritos,
fumaradas, incensos, aspersões, manipulações mágicas, sempre
acabam por fazer os seus adeptos mesmo em pleno século XX como o
provam numerosos casos de possessão, feitiçaria e outras sombrias
histórias que alimentam a vida quotidiana.
Os
vampiros ainda mantêm as missas vermelhas, em tecnicolor, nos
ecrãs de cinema, e vêem-se atores como o romeno Bella Lugose
identificar-se com o conde Drácula e desequilibrar-se na
extravagância.
Lugosi
foi o primeiro grande ator do cinema americano a encarnar Drácula no
ecrã.
Pode
dizer-se que o veneno do vampirismo correu pelas suas veias, inundou
o cérebro até lhe criar a terrível obsessão. Ele já não era
Bella Lugosi, mas Drácula, e para reforçar esta suspeita saiba-se
que se vestia de capa preta forrada a encarnado, comprou um caixão
acolchoado no qual se deitava e dormia todas as noites.
Lugosi
era também viciado em heroína, para acalmar angústias e evitar os
terríveis pesadelos que tinha.
Morreu
louco, com o cérebro minado pela demência. Christopher Lee, que
igualmente encarnou o conde Drácula num trabalho para a sociedade
Hammer Films, confidenciou que o papel põe à prova, aflige, e que é
necessário um grande equilíbrio interior para não acontecer
usurpação da pessoa que representa, pelo conde Drácula.
Já
não estamos nos mosteiros de Athos, protegidos por cortinas de
incenso ou barreiras de orações, mas na vida do dia a dia,
vulneráveis no meio de uma esquizofrênica sociedade, despojados de
crença, presos às nossas obsessões, arpoados pelas nossas
angústias, tendo como única fuga o sonho ou o tubo de soporíferos.
Os
feiticeiros das antigas civilizações sabiam que o sangue e a
luxúria se associam para manipular a alma humana.
O
sexo e a morte, os impulsos devoradores, a necessidade de morder, de
devorar, no amor, são apenas fantasias, mas para um cérebro fraco
poderá acontecer que esses monstros tomem forma e comecem realmente
a viver dentro dele.
Jean
Boullet na revista Medicina, Arte e Saber, de Abril de
1960, cita o exemplo de um porto-riquenho de 16 anos que, procurado
pelos seus crimes, quando a polícia de Nova Iorque o prendeu, disse:
«Eu sou o conde Drácula, diverte-me a idéia da vossa cadeira
elétrica porque sou imortal e unicamente vos peço que me considerem
o rei dos Vampiros.»
O
aspecto do jovem assassino chegou para surpreender os agentes da
polícia. Capa preta forrada de cetim encarnado, sapatos com fivela
de prata, peitilho rendilhado, anel largo e achatado representando
uma caveira, bengala de castão...
A
zona de ressonância do conde Drácula espalhou-se para além das
montanhas da Transilvânia com a ajuda extremamente ardilosa do
cinema e da literatura.
«E
tudo isto», escreverá Bram Stoker, «foi feito por ele sozinho, a
partir de um túmulo em ruínas num qualquer lugar, numa região
esquecida.»
Drácula,
o homem vestido de preto. O vampiro veste-se sempre com as cores da
noite. O preto é para ele a ausência da cor, a ausência de vida, a
impenetrabilidade fascinante para além da qual a morte pode ser
vencida.
Certas
lendas populares européias falam de um estranho visitante
estrangeiro, vestido de preto, cuja aparição traz sempre consigo a
morte ou a doença. Muitas vezes, crianças e adolescentes foram
surpreendidos de noite, nas cercanias de suas casas. Stiker descreve
o rei dos vampiros no seu Drácula. «Diante de mim estava um
homem grande e velho, com um grande bigode branco num rosto que
parecia acabado de barbear, vestido de preto da cabeça aos pés, sem
o mais pequeno sinal de cor onde quer que fosse...
Não
estamos já na Europa do século XV, e os feiticeiros da Idade Média
estão há muito reduzidos a pó e a cinzas. No entanto as aparições
do Homme en Noir continuam. Os fantasmas e as superstições
conferem-lhe sempre poderes diabólicos. Aparições reais ou reais
poderes?
Ninguém
o sabe. Apesar do avanço científico, há ainda regiões do universo
e da alma humana que continuam obscuras e impenetráveis.
Uma
das mais recentes aparições remonta ao dia 20 de Fevereiro de 1968.
Ela teve como testemunha e vítima Rosinha Aguardiente, uma
adolescente de 17 anos. Foi a 20 de Fevereiro quando Rosita entrou
num autocarro que logo a seu lado se sentou um homem de alta
estatura, vertido de preto. «Eu notei», disse ela, «que ele tinha
uma cor esverdeada e os olhos ligeira- mente rasgados. Sem saber
porquê, senti medo, algo sinistro emanava dele. Desci, desceu atrás
de mim. Quando cheguei ao campo senti uma enorme confusão na minha
cabeça e perdi o conhecimento de repente. Quando acordei, estava num
descampado com o vestido em desalinho. Ao dar os meus primeiros
passos, tropecei numa pequena caixa que apanhei e meti no meu saco de
mão.» Rosita Aguardiente relatou o caso à polícia, que o definiu
como uma tentativa de violação.
Mas
dias depois a jovem rapariga levada pela curiosidade provocou que o
assunto voltasse de novo à baila, pois abriu a caixa que encontrara
quando voltar a si naquele dia...
A
caixa era toda ela hieróglifos! Assim que levantou a tampa, uma luz
como que elétrica escapou intensa. A rapariga assustou-se e
apressou-se a fechar a caixa.
O
homem vestido de negro intervinha sob vários aspectos. A 20 de Julho
de 1967, o France Soir et L’, Republicain relataram
os seguintes casos:
Em
Arc-Sous Ciçon, quatro criaturas vestidas de preto e com mais
ou menos um metro de altura movendo-se rapidamente, meteram-se num
silvado deixando amedrontadas algumas crianças que por ali andavam.
Tinham uma cor de pele escura, os olhos enormes e falavam
entre si um dialeto estranho e melodioso.
Os
cemitérios das grandes cidades são evidentemente locais
predestinados ao vampirismo contemporâneo.
Highgate,
ao norte de Londres, et le Pére Lachaise em Paris, são hoje teatros
de estranhas e fúnebres peças. Assim que cai a noite... levanta-se
o pano. As personagens aparecem pelas bermas, tornam-se príncipes
das trevas no espaço de uma noite, oficiando sobre os túmulos,
evocando as divindades do vampirismo. Já não se trata de vivos que
vêm ver os seus mortos. Uns e outros, numa curiosa comunhão,
representam os seus papéis e, através de danças macabras bem
esquematizadas, o mundo dos vivos e dos mortos interpenetra-se. Surge
uma outra dimensão.
Ao
nascer da aurora, os mortos recolhem às suas moradas secretas,
enquanto os vivos, extenuados e olheirentos, saem do mortuário
recinto passando perante os guardas surpreendidos e amedrontados!
Não
é raro descobrir em Pere Lachaise o túmulo de um adepto do
vampirismo. É muitas vezes à volta este que se agrupam e fazem
cerimônias secretas. Citemos, por exemplo, o túmulo de Madame Berte
Courrieres, aliás Madame Chantelouve, inspiradora do escritor
Huysmans e discípula do satânico Abbé Boulan, bem conhecido dos
ocultistas do século passado. A laje do seu túmulo – não longe
da de Chopin, álea Denon – está freqüentemente coberta de
cadáveres de animais, como pássaros e ratos de que se serviram para
misteriosas práticas.
As
áleas do Pere-Lachaise parecem-se com as avenidas silenciosas de uma
cidade barroca, rodeada de passeios, tendo de um lado e de outro
pitorescas fachadas de monumentos funerários. Mas há sítios a que
essas áleas retilíneas não chegam; os lugares dissimulados pelas
sombras dos sicomôros e das tílias onde as sepulturas tomam um ar
de antigos navios encalhados, de fundo cinzento e fendido sob o
mistério de todos aqueles arbustos. Nenhuma daquelas áleas nos leva
diretamente a tais lugares quase impenetráveis. É necessário errar
ao acaso pelos túmulos, descer, subir, escalar por vezes em vão
pelo meio de toda aquela vegetação.
O
cemitério é uma cidade ciclopeana. Cada mausoléu esconde-se numa
sombra. As ruas sucedem-se às ruas, os túmulos aos túmulos, as
áleas têm nomes estranhos: caminho do dragão, álea Errazu,
avenida Feuillant...
Em
certos cemitérios, à noite, todo um mundo de presença... pedaços
de ossos fumegam no incenso, libertando um cheiro pavoroso. Na cripta
saturada de incenso, os partidários do vampirismo erguem os punhais
e os pentáculos:
«Senhor!
Tu que desejas o sangue e trazes o medo aos mortais, recebe de novo
este sangue que representa vida.» Durante vários segundos o
celebrante transpõe milênios, vive com intensidade a sombria lenda,
sobre a pedra dum túmulo, em qualquer cripta abandonada. E assim se
passa até ao nascer do Sol.
«O
nascer do Sol», escreve Ribadeau Dumas1[25],
«afugenta as más influências da noite. Em certas terras, o galo
representa a vigilância guerreira, ele vigia o horizonte, e alerta
também!
»Símbolo
cristão como a águia e cordeiro, ele anuncia luz e ressurreição.
Drácula empalidece quando o ouve, e foge... antes que seja tarde! A
noite favorece o vampiro. Ela gera nas suas trevas o sono e a morte.»
Os sortilégios de Neaufles
Gilles
de Rais, adepto do diabo, autor de várias centenas de crimes nas
caves do seu castelo de Tiffauges não é o único a competir com a
figura aterradora de Drácula.
Na
França dos primeiros séculos da era cristã desfilaram hordas
guerreiras de um príncipe cruel, que as crenças populares depressa
transformaram em vampiro.
A
história de Viridomar – chefe guerreiro de uma tribo germânica –
cruza-se com a epopéia dos templários de Gisors para desembocar na
misteriosa torre Heaufles, que domina o cemitério de Nucourt. Este
perímetro fúnebre conserva ainda a marca ensangüentada de
Viridomar e da sua «rainha branca» cujo fantasma ainda paira –
diz-se – pela torre de Neaufles e pelo cemitério de Nucurt.
E
partindo de esboços históricos vai crescendo a lenda, no meio de
túmulos e violências...
Um
grupo de cavaleiros galopa pelo caminho escuro que vai dar a Gisors.
À frente vem um homem, cuja presença aterroriza as legiões de
César amontoadas na planície de Vaxin, perto de Nucout. «Um
autêntico demônio» exclamam os lugar-tenentes do proconsul...Um
deus Odin...»
Este
personagem infernal galopa de dia e de noite ao lado de Vercingétorix
«o Grande Rei das cem batalhas». Seu nome é Virodomar, vem
diretamente da Germânia comandando uma horda de guerreiros
pertencentes a causa do chefe alvernio. Mas Viridomar não tem o
espírito nacional dos Celtas. Ele combate por si próprio, para
cumprir no dia a dia esta «liturgia» da guerra à qual se
consagrou.
As
legiões romanas afirmam ter visto um «demônio sanguinário», um
«portador da morte» fazendo-se acompanhar da sua «matilha»
diabólica. Têm razão os sobreviventes do massacre quando dizem que
o aliado de Vercingétorix, vive a guerra como um ritual sangrento e
permanente.
Os
druidas satisfazem-se com o benzer das armas dos guerreiros celtas
antes do combate. Viridomar acha que o ritual druida não é
suficiente vigoroso para se tornar eficaz. Ele não compreende que os
deuses gauleses possam proteger o homem que não ofereça sacrifícios
que envolvam sangue.
Antes
do ataque, ordena que as lâminas sejam encharcadas no sangue das
vítimas oferecida aos deuses. Afirma ainda que a energia vital passa
assim do corpo mutilado para a lâmina, tornando-a «viva»...
A
frente da sua cavalaria, Viridomar faz lembrar as antigas lendas
germânicas, sempre recordadas por todos com pavor, como a Caça
Selvagem.
Conta-se
que uma noite de Inverno um oficial romano que voltava para o
acampamento sentiu um exército que se aproximava. Julgando tratar-se
de uma carga de cavalaria gaulesa, procurou esconder-se atrás do
arvoredo, mas um «homem de enorme estatura, armado de uma moca,
obrigou-o a permanecer junto dele. Passaram então soldados de
Infantaria carregados de tudo o que haviam pilhado, seguindo-se mais
carregamentos de cinqüenta caixões e por fim um grupo de ‘gatos
pingados’ aos quais o gigante se juntou; depois também desfilaram
a cavalo. Mulheres que, blasfemando, confessavam os seus crimes; um
grande exército de cavaleiros vestidos de negro, com insígnias da
mesma cor, montados em enormes cavalos, prontos a combater...»
Era
um cortejo saído do nada com o estrondo de uma tempestade...
Viridomar, à frente da sua horda de cavaleiros, voltava a fazer
reviver a «caça infernal» de que todas as lendas falam!
Estamos
nas planícies de Vexin. Justamente onde passaram os cavaleiros
argonautas para partirem à conquista do Toison
d’or2[28]
situado
pela mitologia para lá dos Cárpatos, na Transilvânia. Os
camponeses comentam que naqueles campos os rochedos, os menires, os
dólmenes, como que sonhando, voltam-se sobre si mesmos durante o
solstício de Inverno, e as pedras côncavas são habitadas pelo
homem sem cabeça, o Blaiseau
l’ Ardent (homem
que se foi mantendo nas velhas histórias da antiguidade. «O homem
sem cabeça aparece nos cemitérios sobre a forma de fogo-fátuo»,
dizem os velhos camponeses ao serão, antes de apagar a candeia!
No
terrível séqüito do rei Viridomar destaca-se uma ágil e loira
mulher do comandante, detentora de segredos, portadora de magia.
As
lendas de Vexin falam de uma «rainha branca» que aparecia perto do
cemitério de Nucourt, nas ruínas da torre de Neaufles.
No
século XV, pelos mesmos sítios, uma outra «rainha branca»
tornava-se presente no espírito dos habitantes de Gisor. Para
aqueles que tentavam decifrar o mistério, tratava-se de uma mulher
fantasma, imortal, errante através dos séculos e entre escoltas de
homens e mulheres vampiros.
A
Rainha Branca tinha um amante (segundo a história). Surgiu deste
amor uma filha que não agüentava a luz do dia. Mantiveram-na
recolhida num subterrâneo que ligava Gisors à torre de Neaufles,
até ao dia da sua morte. O rei ao tomar conhecimento de tal
infortúnio, mandou prender o seu rival na torre do castelo de
Gisors, chamada tempo depois a «torre do prisioneiro». Ferido
tempos depois ao tentar evadir-se, acabou por morrer nos braços da
sua amada que o mandou sepultar no tão famoso subterrâneo (mandado
fazer por Viridomar em tempos passados) ao pé da filha, produto dos
seus amores.
É
neste local que as lendas apontam como existindo um verdadeiro
tesouro!
Tal
como acontece com Drácula, também Viridomar e a sua dama foram
considerados vampiros depois das suas mortes ocorridas nas ruínas da
torre de Neaufles.
No
século XV a Rainha Branca e o seu cavaleiro e amante vivem a mesma
maldição. «Conheço o chão onde dorme a Rainha Branca, pisei-o
com os meus próprios pés, escavei com as minhas mãos o negro pó,
procurando nos restos da estrela outrora iluminada a recordação de
antigos esplendores!», terá dito algures um poeta.
O
amante da Rainha Branca, chamava-se Wolfang Polham, e era o homem de
confiança de Maria de Bourgonha, filha de Carlos V, e fez parte da
ordem militar Tosão de Oiro, instituída em 1429 pelo duque de
Borgonha cujo fim era restabelecer os laços desfeitos, após o
aparecimento dos templários, entre o Oriente e o Ocidente.
O
caminho de Vexin era a pista deixada pelos argonautas quando
perseguiam o tosão de ouro e procuravam o «Vale dos imortais»
situado na Transilvânia, reino dos príncipes vampiros.
Wolfang
Polham instituiu o Carneiro como centro místico da Ordem. O
sangrento sacrifício do animal tornou-se rito central do chamado
«banquete encarnado».
«No
dia em que esta Ordem se instituiu, em Bruges, repartiram pelos
convivas um carneiro vivo cujos chifres foram pintados de dourado e
todo o resto do corpo de azul.
»Esta
ordem, misteriosamente desaparecida, era constituída por vinte e
dois capítulos.
»O
subterrâneo que serve de sepultura a este cavaleiro, assim como à
Rainha Branca, tem além de ligação com o castelo Gisors uma outra
com o cemitério de Nucourt.» (D. Réju.)
O
tesouro de Neaufles é um acumulado de pedras preciosas e ouro, para
alguns produto de pilhagens de Viridomar. Para outros, influenciados
pela cabala simbólica, «essas riquezas são mais alegóricas que
materiais». Até mesmo o segredo do Fogo que os deuses enterraram no
solo de Vexin... Vexin que foi batizada com o nome Pagus
Vulcasinus na Idade Média, e que quer dizer «o país do fogo
secreto».
Há
dois séculos «um habitante de Gisors chamado Francisco teria
tentado encontrar o tesouro. Metendo-se pelo subterrâneo, ao
contornar uma parede esquinada vislumbrou um clarão encarniçado,
que a cada passo dado mais intenso se tornava e mais se assemelhava a
um incêndio refletido na umidade das paredes. Por entre um
gradeamento levado ao rubro pelo infernal calor que se sentia, ele
pôde observar jóias, pérolas, montes de pedras preciosas e
diamantes, contidos em enormes cofres encarnados. Mas essas
rutilantes riquezas jaziam num permanente braseiro. Uma multidão de
diabos cor de púrpura, verdes, viscosos, armados de lanças e
tridentes de um metal reluzente, eram os carrancudos guardas destes
incandescentes tesouros...», escreve Jean Jacques Dubos em A
lenda de Gisors.
De
manhã, os camponeses de Neaufles deram com um corpo estendido num
silvado, perto das ruínas da Torre. Aproximaram-se. O homem
apresentava uma palidez extrema. Não tinha uma gota de sangue e
apresentava ferimentos estranhos como que provocados por garfos
extremamente aquecidos, digamos que «levados ao branco»... Um caso
de vampirismo, segundo a opinião da população local.
A
poucos passos da torre de NeaufIes surge o cemitério de Nucourt que
está ligado àquela através de um corredor subterrâneo. Os túmulos
típicos de aldeia, pesados, de alinhamento monótono, nada de
secreto sugerem. O que inspira terror está noutro sítio...
justamente na falsa tranqüilidade que vos convidará a entrar.
Ao
meio do cemitério, destaca-se a maciça silhueta de uma capela. Na
parte de trás surgem três túmulos diferentes dos demais, em pedra
escura. Eles guardam os restos mortais dos grandes senhores de
Neaufies – que aliás já foram referidos nas páginas de La
France
Secrète3[29],
«o
que prova não serem desconhecidos por todos». Outros episódios
inexplicáveis se desenrolam à volta da pequena Vexin, inundada de
mistério. Por exemplo este, um tanto arrepiante e que acontece em
Nucourt.
Quem
visitar o cemitério local, se se aproximar da capela aí construída
descobrirá surpreendido que existem várias sepulturas abertas e sem
caixão. Mais admirado ficará ao verificar que todas elas têm a
marca de uma cruz que faz lembrar a dos Templário...
Com
efeito, as três pedras tumulares estão fendidas a meio, como se o
machado de um terrível deus tivesse agredido o granito.
Através
da abertura, vislumbra-se no fundo da sepultura restos de plumas de
animais sacrificados Reza a lenda que os espectros de Viridomar e da
sua dama encarnaram na Rainha Branca e no seu cavaleiro Wolfang
Polham, freqüentando depois a torre de Neaufles e o cemitério de
Nucourt.
A
caça selvagem – que tanto horrorizava os viajantes da Idade Média
– rompe pelas aldeias. Ela surge à hora em que o sono desce sobre
as choupanas, tal como uma enorme pálpebra, e paralisa totalmente a
natureza.
O
homem imobiliza-se diante do mudo ecrã da televisão enquanto nas
quintas os cães vão despertando. Eles bem sentem que a morte
acompanha sempre a noite...
A
loucura e o sangue ainda permanecem na memória dos homens.
Os vampiros de Londres
Highgate,
ao norte de Londres, é um dos mais surpreendentes cemitérios da
época vitoriana, com túmulos barrocos, colombário, pórticos
egípcios, álea a perder de vista, os caixões pousados mesmo no
solo dos jazigos subterrâneos. Um cenário digno dos filmes de
terror da Hammer, lá no alto de uma das colinas Londres.
Em
Highgate, as histórias de «não mortos» e de profanação de
sepulturas fazem quase parte da tradição. Um dos profanadores mais
conhecidos – amigo de Bram Stoker – é o pintor e poeta Gabriel
Rossetti que (sem dúvida profundamente marcado pela morte de sua
jovem mulher) acaba por se envolver sem o desejar em sortilégios de
Highgate.
Lizzie
Rossetti morreu em 1862, após uma overdose de láudano. Foi
enterrada num dos jazigos subterâneos de Highgate, mas, por mais
estranho que nos pareça, Gabriel Rossetti recusou acreditar na sua
morte.
Certas
pessoas pensam que Stoker o tivesse influenciado, uma vez que este
era um profundo conhecedor da vida noturna em Highgate, como veremos
adiante.
Uma
noite Rossetti saltou o muro do cemitério, do lado que dá para o
lado de Swaine Lane, e arrombou o caixão da sua mulher. Como que
dormindo, ali estava havia sete anos, intacta, espantosamente
conservada com o parecer daqueles a quem ainda o sangue circula nas
veias. Os louros cabelos, iluminados pela tocha de Rossetti, ficaram
luminosos a tal ponto que esse corpo parecia ter estado a receber
vida através de uma via secreta com acesso ao caixão.
Highgate,
a verdadeira cidade-vampiro durante dois séculos! É esta a opinião
que hoje tem Sean Manchester, o mágico inglês sempre na pegada dos
vampiros. Manchester trabalhou durante os anos 70 para a sociedade
funerária inglesa A. E. Bragg, na Mackenzie Road. As investigações
que fez, levaram-no à seguinte conclusão: No século XVIlI foi
sepultado um «vampiro» em Highgate.
Jean
Claude Asfour, que também investiga sobre vampiros de Highgate, na
época em que este assunto tomou primeira página dos jornais
londrinos, diz-nos: «No século XVIII, um caixão vindo da Turquia e
trazendo no seu interior um vampiro teria sido colocado no cemitério
de Highgate, desde então tornado o centro do vampirismo na Europa.»
Presentemente,
seitas satânicas tentaram já, através dos rituais próprios,
restituir à vida o «rei vampiro». Na opinião de outros, este
misterioso caixão seria aquele a que se refere Bram Stoker, no seu
livro Drácula, que desde então se tornou um romance
verdadeiramente real. Contudo, no século XVIII, a censura religiosa
não permitia que se falasse impunemente de histórias de vampiros.
Pode
ler-se, no Drácula de Bram Stoker, acerca de «O horror de
Hampstead: Acabamos de ser informados que outra criança
desaparecida ontem à noite só voltou a aparecer esta manhã já um
tanto tarde, numa junqueira de Shooter’s Hill, na parte mais
isolada da charneca de Hampstead. O miúdo apareceu com as mesmas
feridas das primeiras vítimas. Quando descoberto, o seu estado de
fraqueza assim como a palidez era enorme. Logo que recuperou os
sentidos, explicou ter sido arrastado pela ‘Dama de Sangue’».
Bram Stoker, que afirmava ter encontrado vampyrs personnalities em
Londres, no decorrer dos anos 1880, conhecia toda esta raça de «não
mortos» como aliás fica provado através das suas descrições.
Também,
e mais uma vez, não é por acaso que ele faz deslocar as
mulheres-vampiro a Hampstead, e que instala o conde Drácula em
Carfax, numa velha casa do norte de Londres, muito perto de Hampstead
Hill, e coloca o cemitério onde repousa Lucie Westenra, vítima do
príncipe dos vampiros, sobre esta mesma colina de Hampstaed.
Jonathan Harker – o herói do livro – transporá clandestinamente
o muro da cidade dos mortos e trespassará o coração dos adeptos do
culto da noite.
Não
existe nenhum cemitério em Hampstead. O mais próximo é em
Highgate. Por muito estranho que possa parecer, nada mudou desde o
século obscuro de Bram Stoker e das práticas mágicas de Golden
Dawn.
Entre
os muros do cemitério de Highgate habitará um Poder monstruoso que
terrificou Stoker e que serviu de ponto de partida para a sua
narração terrível. Desde há quase dois séculos que os habitantes
da aldeia de Highgate vivem na obsessão do «vampiro» que ronda a
parte norte do cemitério, perto do portal de Swaine Lane.
As
últimas aparições ter-se-iam dado em Outubro de 1970. Várias
pessoas dignas de crédito afirmam ter visto um vulto escuro e cuja
altura andaria pelos sete pés (mais ou menos dois metros) pairando
por entre túmulos. Uma noite, certa mulher entrou precipitadamente
no posto da polícia de Highgate, com os olhos desvairados e muito
perturbada.
Contou,
titubeando, que se cruzara com a entidade monstruosa, descrevendo o
olhar que a fulminou através do gradeamento do cemitério: «Uma
forma escura com dois olhos que pareciam queimar.», terá ela dito.
Organizaram-se
patrulhas de polícia à luz de projetores. Para a gente da
beira-rio, foi «a grande noite de Highgate». Mas o cemitério nada
revelou do seu mistério; homens e cães encontraram apenas veredas
de emaranhada vegetação, túmulos silenciosos como se fosse um
cenário de uma peça trágica, esvaziado repentinamente dos seus
atores.
São
muitos os testemunhos que atestam a existência de um «vampiro» em
Highgate. Continuaram a acontecer de há um século a esta parte,
embora com pequenos intervalos de silêncio, o que de certo modo
ainda concede mais força ao poder do invisível noturno.
Um
outro feiticeiro inglês, David Farrant, presidente da famosa British
Psychic and Occult Societh, galgando a norte o muro do cemitério
para fazer a invocação do vampiro teve de apresentar-se ao Supremo
Tribunal de Londres. Foi algemado e condenado a cinco anos de prisão.
A invocação do vampiro
A
maior percentagem de testemunhos sobre a aparição em Highgate
surgiram na imprensa inglesa:
Noites
houve, quando voltava a casa pelas entradas de Highgate, em que vi
três vezes um fantasma atrás do gradeamento de Swaine Lane. A
primeira vez foi na noite de Natal, um rosto de cor parda durante
o espaço de alguns segundos. A segunda vez aconteceu uma
semana depois e foi muito rápido. Na semana passada, a aparição
deu-se exatamente atrás das grades, e foi suficientemente demorada
para que eu conseguisse observá-la claramente não vendo outra
explicação que não seja de caráter sobrenatural.
Highgate
and Hampstead Express, 6 de Fevereiro de 1970
Uma
noite, há mais ou menos um ano, detectamos uma coisa estranha que
parecia deslizar por entre o atalho. Ainda a ouvimos por mais
um instante, mas não voltou a aparecer. Ainda bem que havia mais
alguém comigo e que provei a mim mesma não ser produto da minha
imaginação.
Miss
Andrey Connelly
H
and H Express, 13 de Fevereiro de 1970
Em
Julho do ano passado, ao voltar para casa pelas 10 horas, parei de
repente ao ver algo que, sem fazer barulho, se dirigia a mim. Desatei
a correr e, quando olhei para trás, já a aparição se fora...
Daniel
Osborne
H
and H Express, 6 de Março de 1970
Já
em 1968, o Evening Standard relatava no dia 1 de Janeiro
alguns factos, pelo menos estranhos:
Túmulos
violados, caixões descobertos e arrombados, cruzes partidas, parecia
ter ali havido à meia-noite uma reunião de feiticeiros, tal era a
aparência que de manhã o cemitério de Londres apresentava
(Highgate). O conservador, que acumula com o cargo de vigário,
declarou-nos: «Nunca vi nada igual. Não é vandalismo grosseiro.
Tudo foi feito com imenso cuidado e segundo algum ritual diabólico.
Estou em crer que se assistiu aqui a uma cerimônia de magia negra, o
que também já não é a primeira vez.»
Um
ano antes, duas alunas de liceu, com 17 anos de idade, tinham vivido
uma estranha experiência, cujo relato foi feito pelo jornalista J.
C. Asfour, que investigou o caso Highgate:
«À
noite, ao voltarem para casa, Elisabeth Wojdila e a amiga bárbara
desciam pela encosta de Swaine Lane quando, chegadas à entrada norte
do cemitério (aquela que vai dar ao Colombarum), viram vários
corpos erguer-se dos túmulos. Bastante mais tarde, Elisabeth veio a
ter perturbações noturnas e pesadelos. Passados dois anos começou
a ter um aspecto anêmico e dizia sentir o gelo do seu quarto e a
presença de alguém que a seguia. Contudo tinha medo e não
conseguia voltar-se. Tinha crises freqüentes de sonambulismo que a
levavam até ao cemitério de Highgate.»
É
neste clima de terror, mantido pelos meios de comunicação que se
desencadeou a caça ao vampiro, rapidamente levada a cabo pela
polícia de Highgate.
Uma
noite, em Junho de 1974, David Farrant, a companheira e alguns
adeptos, galgaram os altos muros do cemitério a fim de invocarem o
«vampiro».
A
cerimônia teve lugar no interior de um pentagrama, traçado no chão
do jazigo subterrâneo, rodeado de um círculo de proteção. Perto
deste, um triângulo para receber o «astral» do vampiro. «É neste
triângulo que a entidade, em nome de ‘Asmodée’, devia
materializar-se», declarou Farrant, mais tarde, no tribunal da
polícia... «Asmodée é um dos oito príncipes invocados no ritual
de Abramelin, o mágico.»
Ergueu-se
o altar na parte norte do pentagrama: recipientes de água
purificada, talismãs, punhais do ritual, velas de cera, óleos
purificadores e rolos de papel contendo fórmulas de invocações...
Acabadas
as partes preliminares, o ritual começou pelos salmodías ao «sumo
sacerdote». Pela meia-noite, deveria acontecer o essencial, isto é,
a aparição do monstro!
Estas
invocações, segundo Farrant, permitem criar uma via psíquica que
possibilita a materialização. Por outro lado, evitam interferências
de forças negativas que poderiam retardar a aparição.
Às
onze horas e quarenta e cinco, Farrant colheu do peito da
«sacerdotisa» algumas gotas de sangue que deitou para o cálice
(onde havia água com poderes mágicos) enquanto proferia exortações
especiais. Farrant começou a despir a sua companheira e com o sangue
desenhou-lhe no corpo secretas marcas: primeiro na boca, depois no
peito e em cada um dos orifícios do corpo. No meio do círculo
traçado, estenderam-se e praticaram o ato sexual (símbolo das
forças mágicas) sem deixar de visualizar a entidade invocada para
evitar assim que ele se apoderasse dos seus corpos.
«Nós
sentíamos a energia do monstro sobre os nossos corpos», explicava
Farrant, «e foi nesse instante que ele nos apareceu.»
Será
o vampiro de Highgate produto de um fantasma coletivo sabiamente
mantido pelos meios de comunicação social? Se ele teve honra de
primeira página durante longo tempo nos jornais ingleses era porque
respondia à doentia necessidade desta zona obscura da alma, onde a
morte e os desejos sexuais se agitam, fervilham, como demônios e
diabos nos sabbats4[30]
da
Idade Média.
O
medo da morte provocou sempre no homem o despertar dos seus fantasmas
e espectros, dentro de si e à sua volta, ao contrário do que
acontece numa religião, que por ser do amor, tudo dissipa e aclara.
Signo astrológico do vampirismo, o escorpião curvando-se sobre si
próprio e tentando fugir da morte acaba afinal por se entregar a
ela...
No
outro extremo espiritual, o escorpião sublimado torna-se águia,
desenvolvendo-se, espalhando-se, quebrando a sua angústia.
Na
sua lúcida e libertadora visão, Teillard de Chardin fala-nos num
local de transparência, onde os espectros e os fantasmas se
transformam e se transfiguram, e onde o homem, escapando às seduções
mórbidas, desprende as garras e ousa enfim libertar-se de si mesmo:
«Serão
salvos aqueles que tiverem a audácia de amar os outros mais que a si
próprios, transferindo de dentro para fora todo o seu ser
tornando-se o outro, isto é, atravessarão a morte para encontrar a
vida... o princípio incorruptível do Cosmos está encontrado
doravante e expandir-se-á por toda a parte. O mundo estará pleno de
Absoluto.»
Este
regresso ao espiritual é a resposta às obsessões do vampirismo:
transformar as forças da morte em luz, como nas práticas de
alquimia quando a matéria maciça e negra se purifica e se
transforma em ouro.
«Protegei-nos
do mal»
Nos
séculos XVI e XVII apareciam nas histórias de vampiros os caçadores
de prêmios, que prestavam juramento sobre a Bíblia e localizavam o
túmulo do monstro, no cemitério da aldeia, a soldo de moedas de
ouro ou de prata. Bastava que uma epidemia devastasse a região e
logo se contavam pelos dedos os casos de túmulos suspeitos. Mas os
tempos mudaram, e desde o século passado que os caçadores de
vampiros procedem liturgicamente, ao combater o que eles chamam «as
possessões nefastas».
Invocam
outras divindades, utilizam fumigações, estranhos e mágicos
exorcismos. Não se trata de padres mandados pela igreja, mas sim de
médiuns, de feiticeiros um tanto bizarros que acreditam nos
mortos-vivos e afirmam conhecer as técnicas de «desfazer o feitiço»
e de destruir o «vampiro». Os praticantes, destes cultos dividem em
três os gêneros de feitiços: O feitiço do ódio (ou da morte), o
feitiço do amor, e o auto enfeitiçamento.
«Nós»,
afirmam eles, «servimo-nos do primeiro para combater o vampirismo.»
O
ritual processa-se à maneira das cerimônias mágicas antigas,
apoiando-se em textos manuscritos, alguns dos quais podemos encontrar
nos Arquivos da Biblioteca do Arsenal, em Paris, ou no Museu
Britânico de Londres. Altar forrado a branco (por oposição à cor
preta), uma longa agulha metálica, uma espada com caracteres (de
proteção) gravados, um turíbulo, duas estatuetas de cera
envolvidas em seda, representando respectivamente uma mulher e um
homem.
«As
estatuetas são envoltas em seda que serve para isolar», explica o
celebrante...
Elas
representam o vampiro fêmea e macho que será preciso destruir.
Um
grande círculo traçado no solo como que enclausura as estatuetas.
Atuando sobre as duas estatuetas, destruindo-as pelo fogo, destrói-se
o duplo astral do vampiro, que acabará por ser destruído também.
À
volta do círculo, os oficiantes escreveram os nomes de divindades
protetoras, fazendo uma espécie de muralha intransponível: Adonay,
Iah, Elohim.
O
sumo-sacerdote asperge o centro do círculo com água benta e
pronuncia:
«Senhor,
através do poder atribuído ao carneiro, dá poder a este círculo,
e que ele se torne armadilha mortal, de forma a que todos quantos
utilizam os objetos do mal sejam para sempre destruídos. Em nome d’
Adonay, de Iah, Shadaie Elohim, em nome das energias cósmicas,
solares, astrais e terrestres faz que o nosso inimigo presente neste
círculo não possa sobreviver ao meu ato de morte para além de uma
Lua.»
Uma
vez pronunciadas estas palavras, o celebrante baixa a mão e pegando
na longa agulha espeta-a numa e noutra estatueta, como se estivesse a
perfurar um coração que ainda pulsasse. Seguidamente desenhou, com
um pedaço de carvão, um círculo à volta dos assistentes,
espalhando punhados de pregos de ferro.
Na
tradição da Europa central, aqueles que traziam consigo pregos de
ferro e um pedaço de carvão consideravam-se eficazmente protegidos
contra o vampirismo.
No
século XIX, Stanislas de Guaita, o Sâr Péladan e o escritor Joris
Karl Huysmans, celebravam rituais idênticos a estes e contra os
espíritos a quem chamavam «demoníacos».
Muitas
vezes estes vampiros fêmeas e vampiros machos não surgiam senão
das angústias e dos cérebros febris dos participantes, e então o
celebrante acabava por se envolver numa situação infernal que ele
próprio tecera.
Alguns
conseguem livrar-se dessa situação através de delírios
cosmogônicos, para explicar as origens cósmicas do vampirismo, e
mostrar que o mal vem de uma outra região do espaço: «Em tempos
idos, um planeta situado entre Marte e Júpiter explodiu!... Esse
planeta tinha o nome de ‘Lúcifer’. Os habitantes atingiram a
Terra, trazendo consigo todo o tormento do abismo. Estes
extraterrestres foram os ‘anjos destronados’, os exilados do
planeta ‘Lúcifer’. Colonizaram a Terra, e iniciaram os homens na
magia negra, instaurando o crime e a loucura como regras da
existência. Foram eles os primeiros vampiros.»
Estas
explicações esquizofrênicas nunca atenuaram os terrores e as
angústias do mundo da magia. Quando muito – como com muitas
teorias fantásticas – reforçam a convicção de que existem seres
malfazejos vindos de algures e detentores de sabedoria diabólica. E
permanecemos nisto...
Esta
fantasmagoria não se trata de uma fantasia com cenário de castelo
em ruínas, próprio das grandes obras de romantismo trágico.
Perigosa para o ser humano (facilmente sugestionável) ela chega
mesmo a ir desenvolver forças que este já não controlará,
acabando por lançá-lo num autêntico caos mental.
Os
mágicos da Idade Média chamavam a este fenômeno de autodestruição,
um «enfeitiçamento».
O
licor da imortalidade
Nas
neves do Tibete e de Bouthan, nas cavernas do monte Kallasha – onde
ainda hoje vivem devotos do deus Shiva – velhos monges-férus
da magia negra preparam uma original bebida a que chamam «licor da
imortalidade».5[31]
Estes ascetas fazem horríveis experiências para se tomarem
imortais. Eles não vivem à luz, nem no esplendor dos ascetas da
Índia; basta vê-los nas aldeias de Cachemira ou em Bouthan.
As
caras deles, são autênticas máscaras da morte, «olhos
flamejantes», e as vozes são cavernosas, como -que vindas do fundo
de um terrífico abismo (dizem-no os guias da montanha). As portas
fecham-se à sua passagem. Certos turistas vindos de Kallasha
comentam as suas monstruosas técnicas de atuação.
Dizem
que em algumas grutas se encontra a cave dos rituais, onde sobressai
a meio uma mesa de pedra retangular. O tampo da mesa está cheio de
vários e largos orifícios. Para alguns esotéricos, esta mesa
mágica é dedicada ao deus da montanha mas não servirá somente
para honrar os demônios subterrâneos. Ela é também uma mesa de
oferendas e transformação.
Todas
as descrições feitas pelos que voltavam das cavernas do Himalaias
permitem imaginar a cena: o sumo-sacerdote Bom6[32],
assim
que entra na cave mágica, deixa cair as suas roupas e aparece nu,
esquelético. Pega numa colher de forma redonda mas com um cabo muito
comprido e mergulha-a num dos tais buracos existentes no tampo.
Extrai de lá algo com que esfrega várias partes do corpo,
friccionando-se e recitando salmos ao deus dos mortos.
«Esta
é a verdadeira bebida da imortalidade», diz ele. «A vitalidade dos
homens novos e robustos está dissolvida aqui. Ela seria mortal caso
não se tratasse de um iniciado, para o qual se tornará uma fonte de
inesgotável energia. Desta forma, o mais graduado suplantará os
deuses...»
O
feiticeiro leva a colher à boca e engole o líquido. Em certas
aldeias do Himalaia conta-se que a mesa é oca. No interior, os Bons
colocam homens que eles escolhem para o sacrifício, que,
deixando-se morrer de fome começam lentamente a decompor-se. Os
cadáveres nunca são removidos dali. De vez em quando, um monge
junta àqueles um homem vivo. O líquido resultante das carnes
putrefatas será a bebida da imortalidade, o suco da morte, por assim
dizer, pois que alguns monges morrem envenenados. Encontram-se os
corpos deles ao fundo das grutas, e a superstição local
considera-os vampiros, «não mortos», rakshasas.
Os
rakshasas
são
os vampiros da magia indiana. São cruéis e ferozes. Acusam-nos de
tudo devorar, queimar e ferver.» Os longos caninos fazem lembrar
vampiros...»
A
sete mil metros de altitude eleva-se o monte Kallasha onde o gelo
forma como que uma cúpula que protege cavernas e templos
subterrâneos, onde os eremitas se entregam ao culto dos mortos.
Estes adeptos das trevas vêm errar pela noite, à volta do lago
Râkshastal, o «lago das forças hostis».
Espalham
cinzas por todo o corpo, descoloram os cabelos com cal e vão rezar
para os locais de cremação. A maior parte, depois de ter bebido o
«licor da imortalidade», não teme o envenenamento. Eles estão ali
a cumprir um rito mais velho que a própria humanidade, dedicado ao
deus Shiva sob a forma de Rudra, o Uivador.
«A
partir da ocasião em que os deuses e titãs criaram o mundo, pela
agitação do oceano cósmico saiu o néctar, mas também o veneno. O
veneno ficou bloqueado na garganta do deus, que se tornou azul. Por
esta razão, chamam a Shiva o deus do pescoço azul ‘Nilakanta’.»
Shiva
é Nishichâra – o errante noturno – porque tem a cabeça cortada
e pendura no pescoço colares de caveiras. Aqueles que professam
estes cultos utilizam cinzas das fogueiras funerárias para
construir, para fabricar «um novo corpo», um corpo que seja
incorruptível, e entrarem assim vivos no reino dos «não
mortos».
Shiva,
sob o seu aspecto terrífico (Bhaivara) de uivador (Rudra),
dá indicações quanto ao estado do Universo no seu movimento e
transformação. Os praticantes da magia negra fizeram dele o deus
dos mortos e dos cultos do mal. O homem julga e mede segundo as suas
crenças pessoais, os seus medos e o seu tipo de consciência.
Justifica as práticas diabólicas a partir de textos sagrados, tal
como o de Bhâgavata-Purâna, no qual se diz:
Como
um demente, Shiva erra pelos horríveis cemitérios rodeados de
fantasmas e espíritos malignos. Nu, com os cabelos em desordem, ri,
Chora, cobre-se de cinzas e usa como ínuco ornamento um colar de
caveiras de ossadas humanas. Pretende ser um bom agouro, mas é
um mau agouro! Louco e adorado por loucos, reina entre os
espíritos que habitam as trevas. Que este dito soberano, o
último dos deuses, não possa jamais nem uma parte das oferendas
advindas dos sacrifícios.
(IV.
Capítulos 2 e 7)
Os
desvios mágicos da Índia fizeram do «Senhor do Yoga» um mestre
dos vampiros e dos «não mortos», sem compreender que a morte –
no Shivaísmo – não existe. «Morre-se um milhar de vezes por
dia», dizem os ascetas. Este rápido movimento mata e ressuscita,
destrói e salva o universo. Rudra o uivador amedronta o homem
que tem medo de morrer. No além, ele reina e resplandece em todos os
mundos visíveis e invisíveis. «Ele é a Porta de Ouro dos santos
mistérios», revelam os seus devotos.
O
medalhão-vampiro de Montague Summers
A
crença dos vampiros é construída à custa do medo. O vampiro vive
na angústia da estaca que poderá a trespassar-lhe o coração. Teme
o nascer do dia e as orações do exorcista, que podem reduzi-lo a
cinzas e pôr termo à sua existência de «não morto».
Os
aldeões temem o vampiro; munem-se de pentágonos e recitam fórmulas
de proteção. O terror é a pedra angular do vampirismo. Sem ela, o
edifício ruiria e com ele os seus cortejos de monstros e de
superstições. Toda a história do vampirismo é um entrelaçado de
orações, súplicas, enfeitiçamentos a contra-enfeitiçamentos,
maldições. Um combate o outro, que por sua vez combate o outro, e o
mundo dos homens e dos espíritos situa-se numa região crepuscular
onde as leis do medo dominam.
O
reverendo Auguste Montague Summers nasceu em 1880, época essa em que
Bram Stoker referia ter encontrado em Londres vampyrs
personnalities. Teria
estudado no Trinity College onde se apaixonará pela literatura
gótica antes de escrever sobre o vampirismo7[35].
A sua paixão pelo vampirismo ocasionou várias descobertas, das
quais a mais espantosa foi, sem contestação, um misterioso talismã
com a efígie do príncipe Vlad Drakul. Trata-se de uma medalha
circular onde caracteres romanos, misturados certamente com dialetos
eslavos, estão gravados. Ao centro da medalha pode ver-se a cara de
um homem, que lembra o famoso retrato de Drácula existente no
castelo de Bran.
Para
Montague Summers, que passou a vida a estudar os hábitos dos
vampiros, este medalhão, escondido, é uma arma de proteção para o
vampyr hunter (caçador de vampiro).
O
papel protetor dos medalhões em ferro, espadas, punhais, é muito
antigo, mas todos estes objetos mágicos podem servir o vampiro ou
aquele que procura destruí-lo...! Tudo depende, explica Montague
Summers, da natureza do metal assim como dos caracteres gravados:
«Um
vampiro gravado num fragmento de pedra, heliotrópico, transforma-se
em pedra de sangue. Ela dará àquele que a trouxer consigo, segundo
os ritos próprios, o poder de dominar demônios, íncubos e
súcubos8[36].
Estará sempre presente nas suas conjuras e evocações.»
Outros
livros mágicos de necromancia chamavam a esta «pedra do vampiro» a
«pedra da Babilônia». Conta-se que, esfregando-a no suco do
«girassol» ou «héliotropo», essa pedra teria o poder de
escurecer o Sol, como num eclipse, e fazê-lo também ficar da cor do
sangue.
«Bastava
fazê-la ferver em cacho dentro de uma caldeira cheia de água
mágica. O vapor, adicionado às palavras e caracteres do mundo da
magia adensavam suficientemente o ar para velar o Sol e fazê-lo
ficar da cor do sangue. Podia-se então distinguir os espectros,
manes e vampiros!» (Robert Ambelain. O vampirismo)
Usar
um objeto protetor, era costume nas boas famílias da Europa central,
que levavam para a sepultura um anel de prata com uma pedra-de-sangue
cravada, ou qualquer outro talismã dotado de propriedades
misteriosas: para proteger o seu «duplo» nas saídas do túmulo
ocorridas durante a noite (como aconteceu com a família Drácula,
Cillei, Garai, e também com o imperador Segismundo da Hungria).
Temiam,
evidentemente, o aparecimento de caçadores de vampiros. A estaca
aguçada e o fogo que podia destruir em poucos segundos o corpo do
«não morto».
Protegido
assim, o vampiro considerava-se rei da noite, agindo segundo a sua
vontade apesar do suceder dos séculos e da evolução material
operada no mundo. Diz-se que teria a perpetuidade inacessível ao
comum dos mortais, salvo se o homem que o desconhece penetra na zona
sagrada do vampiro um pouco como acontece ao inseto que choca, mesmo
sem querer, com uma teia de aranha. Uma pequena e subtil vibração
basta para que toda essa teia seja sacudida. Ao centro, a aranha
encontra-se adormecida mas recebe o aviso da onda de choque...
Em
poucos instantes ela atinge a parte mais larga da sua teia. A sua lei
é inexorável. E a morte, a morte para o imprudente que foi apanhado
dentro do perímetro mágico.
Esta
crença explica os curiosos acidentes que tiveram lugar na expedição
às ruínas do castelo de Drácula, em Curtea de Arges.
Em
1969, dois cineastas americanos atraídos pela atmosfera sulfurosa
das ruínas tentaram filmar as pedras que restavam do Ninho da Águia.
Um deles, desequilibrando-se partiu uma anca, seguindo para o
hospital de Ambras. O segundo magoou-se passado um mês sobre a
expedição. E óbvio que o filme não se pôde realizar.
Proteção
oculta do castelo ou muito simplesmente uma coincidência? Os
camponeses de Arefu, que vivem muito perto das ruínas, referem-se
muitas vezes ao castelo maldito, mas hesitam ir até lá pela razão
– dizem – de que Bram Stoker assombra com freqüência esses
locais.
A
mais antiga das crenças do vampirismo – aquela que horroriza ainda
os velhos da Transilvânia – passa-se no mundo dos que,
adormecidos, sofrem obsessão, imagens fixas que se tornam presentes
nos seus sonhos. O mistério do sonho permanece para lá do espaço e
do tempo nesta zona intermédia que nos escapa apesar da evolução
do mundo moderno, dos séculos de civilização, das abordagens da
psicanálise. Os feiticeiros da Sibéria diziam que o sonho era o
meio de que os mortos se serviam para comunicar com os vivos.
As palavras de Abremelin o Mágico
Este
manuscrito – disponível na biblioteca do Arsenal de Paris é um
documento essencial para aqueles que desejem compreender a doutrina e
a prática do vampirismo, às quais se dedicavam algumas das grandes
famílias da Europa central.
Segismundo,
imperador da Hungria, utilizou as revelações de Abremelin, o mágico
para tentar roubar à morte bárbara Cillei. Ele fundou a Ordem do
Dragão usufruindo para tal dos conselhos do seu mágico, Eleazar, a
quem Abremelin teria confiado os seus segredos. Drácula tornou-se
ponta de lança dessa Ordem misteriosa, seguido por outros príncipes
romenos como Hermann de Cillei, Minéa Garaï, Erzsébet Bathory que
se isolaram nos seus ninhos de águia para perpetuar obscuras
alianças com os poderes da noite.
Apresentamos
ao leitor uma página inédita do manuscrito de Abremelin o Mágico,
um dos textos importantes escritos por Aléazar – este manuscrito
pode também ser visto na Biblioteca Marciana de Veneza.
No
dia seguinte apresentei-me a Abremelin, que sorrindo me disse:
«quero-te sempre assim...» e conduziu-me ao seu apartamento privado
onde copiei dois manuscritos. Ele então perguntou-me se na verdade e
sem receios eu desejava aprender a Ciência Divina e a Magia Negra.
Respondi-lhe que, se empreendera tão longa e fatigante viagem, o
motivo fora o de querer saber toda a verdade.
«E
eu», disse Abremelin, «forneço-te esta Ciência Sagrada,
permitindo que a pratiques respeitando as leis destes dois pequenos
livros, sem omitir a mais pequena coisa, por mais inconcebíveis que
elas possam parecer-te. Servir-te-ás desta Sagrada Ciência para
reencontrar os antigos poderes, e voltar a ser um deus
imortal, vencedor da vida e da morte.
»Então
as trevas não te vencerão porque tu serás o vencedor, e
hás de entrar na cadeia das trevas que habitam a Eternidade. Não
ofereças esta ciência senão àqueles cujo olhar pode desafiar a
obscuridade sem tremer aqueles cujo coração é tão forte
que suportam a força do infinito sem que sobre o fardo se
dobrem. Mas quero que saibas que esta verdadeira Ciência não
durará em ti nem na tua geração para além de setenta e dois
anos e tão pouco se manterá na nossa seita. Outras
virão e, retomando o facho, hão de levá-lo cada vez
mais longe, através do mundo, em nome do Supremo Senhor detentor da
Pedra Sagrada. Que nunca a curiosidade te arraste a saberes os
porquês de tudo isto, a não ser que o teu coração seja
suficientemente forte para receber a vida infinita nos seus
vastíssimos limites. Imagina tu que a nossa maldade fez da nossa
seita uma seita insuportável, não só a todo o ser
humano como também aos deuses venerados pelos homens.»
Fiz
menção de me ajoelhar ao receber os livros mas,
repreendendo-me, Abremelin avisou-me de que apenas perante o
Senhor deveria fazê-lo. «Estes dois livros estão
escrupulosamente escritos, e depois da minha morte poderás
lê-los, meu querido Lamech.» Instruído por Abremelin, despedi-me
dele e parti pelo caminho de Constantinopla depois de receber
a sua bênção. Em Constantinopla surgiu-me uma estranha doença que
me esgotou. Foi como se num sonho a alma saísse e fosse
substituída por uma luz forte. Retomando as minhas forças,
espantado com a minha transformação, com a vitalidade de um jovem e
o saber de Abremelin, tomei um barco e parti para Veneza.
Cheguei
a esta cidade onde amigos meus me receberam... e foi nesta
mesma cidade que invoquei os quatro espíritos superiores, que
me entregaram um espírito familiar, a chave e o número que
permite prodígios!
Seguidamente
na Hungria dei ao imperador Segismundo, príncipe muito clemente, um
espírito também familiar da segunda hierarquia satisfazendo assim
um seu anterior pedido.
Ele
queria dominar toda esta operação, mas foi prevenido de que essa
não era a vontade do Senhor, pelo que teve de contentar-se
que tudo acontecesse como se se tratasse de uma pessoa simples, e
não de um imperador.
Esse
espírito facilitou o casamento com uma mulher linda. E foi
ainda o mesmo que ajudou a encontrar bárbara de Cillei, ainda
mais bonita que a primeira. Mas bárbara de Cillei morreu e foi
enterrada no castelo de Vazradin. Confidenciei ao meu imperador que a
morte não existe para aquele que possui a Ciência Sagrada de
Abremelin. Pediu-me então o imperador para que lhe
ressuscitasse a bela e maravilhosa jovem. Assim o fiz,
invocando de novo os quatro espíritos já invocados em Veneza, em
circunstâncias diferentes e segundo a Ciência Mágica de
Abremelin.
Informei
o imperador sobre o perfume que deveria fazer parte da
cerimônia do despertar do cadáver: uma porção de incenso, uma
meia parte de Stoelas do Levante, e uma quarta parte de
madeira do bosque de Aloés.
Estes
produtos, reduzidos a pó, deveriam ferver numa caçoleta, perto do
cadáver. Expliquei em seguida ao imperador que seria necessário
invocar os quatro espíritos do décimo terceiro quadrado mágico:
Oriens, Paymon, Ariton, Amaymon, porque só eles poderiam conseguir o
regresso do morto à vida, tirando-o das trevas que acorrentam
corpo e espírito.
No
fim do manuscrito de Abremelin, o mágico Eléazar conclui:
A
sagrada magia que Deus deu a Moisés, Aarão, David, Salomão e a
outros profetas ensina a verdadeira sapiência divina, deixada por
Abraão a seu filho Lamech, traduzido do hebraico em Veneza no ano de
1458.
É
estranho que se veja este texto tomar as suas raízes na Bíblia, uma
vez que servia de manual prático aos adeptos do vampirismo da Europa
central. Uma vez mais o culto do vampiro aparece como uma blasfêmia
organizada e uma magia anti-Deus, reclamando-se o poder dos profetas
com fins puramente materiais.
Este
desvio da força espiritual é obsessivo em todos os praticantes de
magia negra, que vêem Jesus Cristo como um mágico, capaz de
ressuscitar Lázaro, de multiplicar os pães, as riquezas, e de
ultrapassar a morte num corpo que fica incorruptível.
Este
desafio não pode trazer senão ódio, a desagregação e finalmente
um vazio de alma como diz Simeão, o grande místico ortodoxo, nos
Capítulos Teológicos.
Cada
vez que a inteligência é arrastada pela presunção
mergulhando nela, e quando imagino que o que é a si o deve,
logo a graça que invisivelmente irradia a alma parte
deixando-a vazia.
(Centúria
capo 75)
Os santos e os condenados
Em
numerosos casos de vampirismo, a abertura do túmulo revela um
cadáver em perfeito estado de conservação «pele fina e flexível,
corpo sem alteração».
Este
prodígio do após morte não é uma vaga superstição dominada pelo
medo aos vampiros. Um corpo enterrado desde há séculos não é mais
que um magma informe de pó de terra e de ossos. É a lei da
decomposição do corpo do mortal. Uma das grandes leis da natureza:
Todas as coisas perecem, voltam à terra, tornando-se pó e
cinzas. No entanto, em certos casos o corpo aparece intacto ou
quase. Os cientistas explicam este fenômeno como sendo causado pela
composição do terreno onde está enterrado o cadáver, as variações
de temperatura do sub solo, a ausência de insetos ou de roedores que
provocam uma proteção natural, impedindo o seu apodrecimento.
Simples hipóteses científicas quando se conhecem outros fenômenos
que acontecem na incorruptibilidade de certos cadáveres: um perfume
agradável do corpo, suor de sangue, humores do cadáver,
luminosidades na parte superior da sepultura, como aconteceu quando
Charbel morreu, com a idade de 78 anos, no seu eremitério do Líbano.
Tanto
milagre que a natureza química do terreno não pôde explicar! Há
toda uma lógica que não pertence a este mundo.
Os
santos e santas do cristianismo apresentam muitas vezes um bom estado
de conservação quando passaram séculos sobre o dia da sua
inumação. Uma vez mais, os não mortos, os nosferatu do
vampirismo passam por cima dos milagres do mundo cristão. Os cultos
demoníacos imitaram sempre a magia e os prodígios da religião,
como por exemplo na missa negra que não é senão uma inversão da
missa cristã, um derrubar da liturgia, das orações do culto.
O
não morto, intacto no seu túmulo, aparece pois nas superstições
como uma espécie de Santo diabólico que, também ele, apresenta os
mesmos sintomas de imortalidade, incorruptibilidade, suor de sangue
umedecendo todo o corpo, fenômenos luminosos à volta do túmulo.
Mais
que por pura imitação, eles, os adeptos do vampirismo foram mais
longe e para dar forma aos seus não mortos e sugadores de sangue
ter-se-iam servido mesmo dos milagres do mundo cristão.
Para
as pessoas ingênuas, os casos de incorruptibilidade não serão
exclusivos dos santos, pois que também os adeptos do diabo podem ser
alvo de tal milagre, uma vez que Deus não existe sem a ameaça dos
infernos que tantas vezes os padres focam e a que chamam «condenação
eterna».
Também
a religião tem o seu inferno, os seus demônios, os seus padres
malditos. Basta que aconteça uma maldição e logo das entranhas da
Terra se libertarão espíritos malignos cujas forças em muito
ultrapassarão as dos homens. Apareciam assim os vampiros tão reais
quanto os santos do paraíso...
Em
cada família havia lugar para Deus na Igreja da aldeia, e um outro
para o demônio por entre os túmulos do velho cemitério. O Bem e o
Mal nunca deixaram de partilhar a alma humana, como a luz e as
trevas, o excelente e o vil, o amor e o ódio. O vampirismo nasceu
desta oposição.
Terá
sido preciso a existência de grandes ascetas do deserto, e figuras
espirituais como S. João da Cruz ou Simeão o novo teólogo, para
entender que a humildade em Deus salva-nos e Deus é um Deus de Luz,
que enche o universo, destrói a morte e o seu cortejo de demônios e
não deixa lugar à obscuridade.
O
medo fixa-se sempre no espírito do homem, e raros são os que
fizeram esta experiência estática da luz. O medo, quando anoitece,
tranca as portas. Ele força que se recitem salmos, pedindo auxílio.
O coração contraído não deixa entrar a luz e o medo cria então
as suas obsessões, os seus fantasmas.
Corpos incorruptíveis
Imediatamente
após a morte de S. Francisco Xavier, a 2 de Dezembro de 1552,
meteram o seu corpo num caixão cheio de cal viva para que, o mais
rapidamente possível, a sua carne fosse consumida e se pudesse assim
levar os seus ossos para Goa.
A
17 de Fevereiro de 1553, as autoridades religiosas indianas abriram o
caixão com a convicção de aí encontrarem tão somente os restos
do Santo. Mas eis que ao retirar a cal que lhe cobria o rosto, este
apresentava o aspecto rosado, tendo a frescura de alguém apenas
adormecido. O corpo estava completamente intacto, sem qualquer sinal
de decomposição.
Para
confirmação do estado em que se encontrava o cadáver, foi-lhe
retirado um pequeno pedaço de carne acima do joelho, começando
imediatamente a sangrar. Transportado por mar, foi enterrado em
Malaca, a 22 de Março de 1553.
Mas
o miraculoso fenômeno não ficou por aqui e, como que causado por
uma força misteriosa, alguns meses depois mantinha o mesmo estado da
incorruptibilidade. Transportado para Goa, foi sepultado na igreja de
S. Paulo. Em 1612, quando se lhe amputou um dos braços para ser
enviado para Roma, o sangue correu vermelho e fluido!
Nos
Evangelhos, assim como no Antigo Testamento, o sangue é portador do
espírito de Deus. No jardim das Oliveiras, na Noite Divina, Jesus
suou sangue como se o Espírito sangrasse e sofresse.
Durante
a ceia que precede a hora em que se entregaria, Ele tomou o cálice e
dando graças o abençoou e deu aos seus discípulos dizendo: «Tomai
e bebei todos, este é o meu sangue, o sangue da nova e eterna
aliança...»
Na
cruz, sangue e água escorreram do lado que fora trespassado pela
lança do centurião. E a terra foi inundada pelo seu Espírito.
O
caso dos corpos incorruptíveis de santos evoca a presença
misteriosa do Espírito sob a forma de suor de sangue jamais
coagulado, sempre fluido dentro e fora do corpo. Ele umedece o
cadáver, transfigura-o, ilumina-o, conserva-o intacto. Vários
fenômenos inexplicáveis envolvem muitas vezes o milagre:
aparecimento de luz à volta do túmulo, exalações perfumadas,
curas de doentes. O cadáver de um santo resplandece, vibra, envia
moléculas de luz. Ele cria como que uma zona sagrada onde, tudo pode
acontecer.
Em
1582, Santa Teresa d’ Ávila morre na sua cela do convento de Alba
de Tormes. O rosto de Santa Teresa de Jesus, segundo afirmou a
duquesa d’Alba, ficou após a morte lindo e resplandecente,
dir-se-ia como Sol brilhando. Metido num caixão cheio de cal e
tijolos, foi o corpo transportado ao cemitério. Mas no dia seguinte
à sua morte, do túmulo de Santa Teresa de Jesus emanava um perfume
de tal forma intenso e delicioso que os monges teriam tido a sensação
de estarem de novo na presença da sua Madre.
Abriu-se
o túmulo a 4 de Julho de 1583. A tampa do caixão estava partida,
meia apodrecida e cheia de bolor. Era forte o cheiro a bafio e as
vestes encontravam-se putrefatas. O santo corpo, também ele, tinha
bolor, mas mantinha a frescura como se tivesse sido enterrado na
véspera.
As
monjas despiram-na quase totalmente, para a vestirem de novo. Segundo
afirmaram, um maravilhoso odor se espalhou pelo convento.
Em
Novembro de 1585, três anos passados sobre a sua morte, os médicos
de A vila examinaram o corpo, tendo chegado à conclusão de que
apenas um milagre, e não uma causa natural, teria permitido que um
corpo fechado três anos (sem estar embalsamado) se mantivesse
intacto, continuando a exalar o mesmo perfume de sempre.
Fenômenos luminosos
O
sangue do cadáver dos santos, passados anos sobre a sua
exumação, deverá ser considerado de natureza humana ou
sobrenatural?
Os
bioquímicos que o analisaram em laboratórios atestam tratar-se de
sangue humano, mas esbarram com fato incompreensível: como é que o
sangue se mantém, se renova, não coagula?
Esta
pergunta atordoa e fica sem resposta. Em certos casos desencadeiam-se
sentimentos descontrolados, noutros, porém, é a resposta embebida
em amor e em certeza. Inquietação, para outros tantos...
Não
há provas irrefutáveis, apenas fenômenos inexplicáveis como que a
interpor um véu entre o homem e a natureza secreta do milagre.
Por
exemplo, o caso de manifestações luminosas: J. Moschus, depois de
ter feito um inquérito entre monges do Oriente9[38],
testemunha:
«Há
sete anos vimos à noite, no cume da montanha, luz que parecia um
incêndio. Pensamos que fosse para afugentar certos animais, mas
durou tantos dias que acabamos por subir até lá. Não encontramos o
mais pequeno sinal, nem algum ponto de luz ou algo queimado na
floresta.
»
Na noite seguinte, voltamos a ver a mesma claridade, repetindo-se
durante todo um trimestre. Decidimo-nos então fazer-nos acompanhar
de alguns companheiros e, munidos de armas, voltamos a subir a
montanha na direção da tal claridade. Ficamos até de manhã. Vimos
então aí uma pequena gruta onde logo entramos, deparando com um
anacoreta morto. Vestia um casaco feito de corda e segurava um
crucifixo de prata. Perto dele uma folha onde se escrevera: Eu,
pobre Jean, morri na quinta indicação.
Fizemos
então o cálculo e chegamos à conclusão de que teria morrido havia
sete anos. Pois o seu estado de conservação era como se tivesse
morrido no dia em que o descobrimos!
Voltamos
a encontrar estes fenômenos de luzes noturnas nos pormenores
miraculosos que envolveram a morte do padre Charbel Makhlouf, eremita
maronita, que morreu a 24 de Dezembro de 1898 no Líbano.
Por
exemplo: na noite seguinte a ser sepultado e nas quarenta e cinco que
se seguiram apareceram sempre sinais luminosos à volta do seu
túmulo.
Também
o irmão George Emmanuel Abi-Sassine testemunhará junto das
autoridades religiosas, no dia 14 de Julho de 1926: «Nós podíamos
ver diante de nós a pouca distância, para Sul, uma luz brilhante
sobre o túmulo, mas uma luz no gênero da luz elétrica apagando e
acendendo. Manteve-se tanto tempo assim que foi possível observá-la
bem. A cúpula do mosteiro, e todo o lado oposto ao túmulo, a
Oriente, pareciam iluminados pela claridade do dia. Dirigimo-nos ao
mosteiro e contamos aos monges o que se passara, sentindo porém que
a nossa história não lhes merecia qualquer credibilidade. Voltamos
a ver o mesmo espetáculo maravilhoso sempre que em noites de vigília
passávamos junto do túmulo, assim como o observaram todos aqueles
que nos acompanhavam.»
A
15 de Abril de 1899 abriu-se o túmulo na presença das autoridades
eclesiásticas e de dez testemunhas civis. Todos disseram que devido
às chuvas o túmulo do irmão Charbel era um imenso lamaçal.
O
corpo flutuava na lama, e sob a água que do alto caía em
abundância. Apesar de tudo continuava flexível, sem rigidez de
membros. De mãos postas sobre o peito segurava um crucifixo. No
rosto e nas mãos havia sinais de bolor, que Saba Moussa retirou,
reaparecendo aos nossos olhos como que um homem apenas adormecido...
sangue encarnado vivo misturado com água escorreu do seu lado...
«O
corpo flexível, transpirando sangue, nenhum sinal de corrupção,
como que acabado de ser enterrado nesse momento.» (Testemunho do
irmão Elie Abi-Ramia.)
Passado
um ano sobre a sua morte, declara o professor Teófilo Maroun: «um
curandeiro tirou-lhe as vísceras a fim de pôr termo àquela
transpiração aquo-sangüínea. Mas foi em vão...»
Em
1900 o corpo do irmão Charbel foi exposto ao Sol durante seis meses
no terraço da Igreja esperando-se que secasse. Em vão, novamente,
pois que nos sete anos a seguir o cadáver manteve a mesma
transpiração.
Sessenta
e quatro anos depois da sua morte, isto é, a 7 de Agosto de: 1952, o
corpo foi de novo exposto. O irmão Daher escreverá: Vi com os
meus próprios olhos esse corpo intacto, umedecido, ele e as
vestes sacerdotais, assim como o próprio caixão...
Os
corpos incorruptíveis revelam os mistérios do sangue após a morte
e a conservação completa do corpo. Poderemos evocar a força
fantástica que retém os átomos do cadáver, evita a sua
desagregação e o seu regresso ao pó.
Esta
força cria uma nascente de sangue, cura os doentes, ilumina o
túmulo. E como se o sangue sofresse uma transformação química que
o transformasse em luz.
Para
os místicos, esta força rodopia, sondando o coração do homem. A
sua presença é universal.
Tu
não tens onde te esconder, tu, cuja glória tudo invade...
Salmos
de David
É
o espírito que fala e se exprime e se comunica ao mundo.
Não
teria assim o vampirismo sido senão uma fantasmagoria, uma tendência
obsessiva, uma doença da alma que derrubaria a imagem de Deus,
procurando apropriar-se do Seu poder.
A
luz tornada obscuridade, as orações blasfêmias e o corpo
ressuscitado, um fantasma errando fora do túmulo na busca do sangue
que contém a vida.
Um
monstruoso zombar da força espiritual que liberta o homem dos
impulsos de ódio e de amor, levados até à obsessão que envenena.
Cronologia dos casos
De vampirismo
Segundo
os processos verbais, Desde a origem até os nossos dias.
Não
é possível fazer-se um levantamento completo de todos os casos de
vampirismo ou presumíveis como tal, mas podemos elaborar uma lista
das principais manifestações que originam o processo verbal ou
crônica de época.
Snornik,
em Engic: Ao morrer, a mulher de um padre ortodoxo russo
confessou-se vampiro.
Morávia,
perto de Olmütz, em Liebava: O vampiro era uma pessoa
considerada no local. Um húngaro caçador de vampiros subiu à noite
ao campanário da igreja, perto do cemitério, a fim de espiar a
saída do vampiro, a quem roubou a mortalha o que provocou uivos de
revolta do vampiro. O húngaro convidou-o a vir buscar o seu fato de
defunto e, quando este fez menção de subir ao campanário, o
húngaro deitou-o da escada abaixo e cortou-lhe a cabeça com a ajuda
de uma pá.
Sjonica:
Uma noite, um homem chamado Ibro armou-se de uma faca e foi na mira
de um vampiro. A luta não durou quase nada e o morto-vivo
escapou-se. Perto da ponte da aldeia o homem volta a apanha-lo,
apunhalando-o. No dia seguinte, no sítio onde o vampiro fora ferido,
apenas foi encontrado um pouco de sangue, e na lâmina do punhal
alguém escreveu uma oração em turco.
Paris,
1310:
A seguir ao concílio de Troyes, em Maio de 1310, Filipe O
Belo
fez exumar o cadáver de Jean de Turo, construtor da torre, e
iniciado no «Le Temple», mandando lançar ao fogo o seu corpo um
século depois da sua morte.
Boémia,
em Blow, perto de Cadar-1337: Manifestações vampíricas no
claustro de Opatowicze.
Boémia,
em Lewin-1345: Morte de uma mulher que se dedicava à feitiçaria
(morte natural ou suicídio), tendo sido sepultada num cruzamento de
duas estradas.
Alta-Estíria,
em Gratz, 1451: bárbara de Cillei ou Barbe de Cillei - amada por
Segismundo da Hungria. O seu cadáver foi arrancado à morte graças
ao ritual de Eléazar, que detinha o poder Abramelin o Mágico.
Shéridan le Fanu inspirou-se em bárbara de Cillei para o personagem
principal da sua obra-prima Carmila, o Drácula feminino.
Transilvânia,
Curtes de Arges-1476: Vlad Draculya – Senhor da Valáquia, rei
dos vampiros e cavaleiro da Ordem do Dragão foi enterrado na ilha de
Snagov, na Romênia. Segundo investigações arqueológicas recentes,
o seu túmulo encontra-se vazio.
Morávia,
em Egwanschitz-1610: Manifestações de vampiros anos a fio.
Cracóvia,
Fevereiro de 1624: Mulher vampiro em Clapardia, perto de
Cracóvia.
Istrie,
em Khring (ou Krinck)-1672: A 17 milhas de Laybach, no ducado de
Miterburgo, um certo Giure Grando foi enterrado no cemitério local e
atormentou durante longo tempo as gentes daquela região.
Hungria,
Medreiga (Medwegya)-1690: Arnold Paole, heiduque de Medreiga, foi
importunado por um vampiro nos arredores de Casanova, nas fronteiras
da Sérvia turca. Afirmou que só depois de Ter ido ao túmulo do
vampiro, comido terra do sepulcro e esfregado o corpo com sangue
daquele, se viu livre de tal obsessão...
Pouco
tempo depois morreu num acidente. Dias depois de ser enterrado,
fenômenos de vampirismo aconteceram na aldeia. O corpo foi desfeito
mas estava perfeitamente conservado; porém os fenômenos
continuaram!
Arnold
Paole viria a localizar mais dezessete cadáveres de heiduques
iniciados em vampirismo. Um verdadeiro desfile de cavalaria das
trevas.
Comuna
rural de Metwett sobre Morava-1731: Treze óbitos em seis
semanas. São acusadas duas mulheres, mortas há pouco tempo, que
durante a sua vida se dedicaram ao culto do vampiro. Miliza, que
morreu em idade avançada, e Stanno ainda jovem. A primeira chegada
de Montenegro (ocupada então pelos turcos), onde fora contatada por
um vampiro. A Segunda vinda da Turquia.
Hungria,
Kisilova, a três léguas de Gradish-1738: Um vampiro de nome
Peter Plogojowitz espalhou o terror em 1738 na aldeia de Kisilova.
Morreram nove pessoas em oito dias.
Banat,
Transilvânia-1755: Uma aldeia de Olmütz é citada, por um
escritor, pelos numerosos casos de vampirismo aí ocorridos.
Sérvia,
em Novi-Bazar-1827: As crônicas da época falam de fatos
concretos passados com vampiros, sem contudo darem pontos de
referência.
La
Pierre-Sèche, perto de Salbris, França: Um dos casos mais
espantosos relativos a um casal: Paul de Gièvres e Virginie
Blanchet, cujo túmulo está visível à beira do lago de Sologne.
Tucchla
(tuchela)-1873: O vampiro era o senhor ilustre da aldeia: Nicolai
Macevko.
District
de Stry-1873: Na sequência do caso de vampirismo de Tucchla, o
povo do distrito de Stry dirigiu-se (ao fim de se registrarem várias
mortes) a um túmulo suspeito em Slavka, destruindo o cadáver.
Sérvia,
Pléternika-1888: Manifestações sangrentas de um vampiro, que
foi abatido pela gente da aldeia.
Hungria,
Krasznahorta-18...: No distrito de Rozsnyo, junto à pequena
aldeia de Palotz, ergue-se o castelo de Krasnahorka. Em 1241, um
pastor descobre uma pedra singular assim como um pequeno tesouro com
o qual fez construir um castelo. Numa das salas, num caixão de
vidro, está uma mulher vestida de preto, não reduzida a pó, com o
braço direito ligeiramente levantado e o dedo indicador
misteriosamente apontando...
Romênia,
Crassova-1889: Trinta cadáveres foram trespassados por estacas
no seguimento de manifestações vampíricas.
Transilvânia,
Curtes de Arges 19...: Narração de Tinka, velha cigana de
pequena aldeia de Capatineni, junto ao castelo de Drácula (narrado
ao historiador Florescu). Logo a seguir à morte de seu pai se
aperceberam estar-se na presença de um vampiro, uma vez que não se
lhe manifestou qualquer rigidez cadavérica. Segundo Tinka,
atravessaram-lhe o coração com uma estaca.
Romênia,
Préjam (distrito de Vilces)-1902: Uma criança de 13 anos morto
há pouco tempo foi decapitado, depois de lhe trespassarem o coração.
Jugoslávia,
Kneginecc 1936: Diversos casos de vampirismo, atribuídos ao
cadáver de uma mulher nova, enterrada no século XIII no castelo de
Herdody, em Varazdin.
Sérvia,
Kosovo-Mtohija, de 1936 a 1940 de 1947 a 1948: Emtre os Tziganes
da província de Kossovo-Métohija, aconteceram muitos casos de
vampirismo.
França,
Nucourt, a 12 km de Gisors, século XIX: Descobre-se na torre
templária de Neaufles um cadáver exangue apresentando no corpo
marcas que lembram as que são feitas por tridentes. (Algumas pessoas
localizaram este caso como tendo ocorrido no século XVIII.)
Em
1974, três túmulos do cemitério de Nucourt foram abertos e
esvaziados.
Grã-Bretanha,
Londres, Highgate-1974: Sean Manchester acaba de publicar
recentemente um livro sobre o caso do vampiro de Highgate (este livro
não está traduzido para francês). Várias testemunhas falam de
manifestações de origem vampírica, no cemitério de Highgate.
Fala-se de um misterioso caixão, vindo da Turquia para Highgate, no
século passado.
David
Farrant, presidente da British Psychic and Occult Societh, que numa
noite celebrou o ritual de invocação ao vampiro, esteve preso
durante quatro anos. Repetiram-se os casos de vampirismo em 1979.
Segundo a imprensa britânica, surgiram mais casos de animais
exangues nas imediações do cemitério. Farrant está neste momento
elaborando um livro sobre o caso de Highgate.