ENCICLOPÉDIA DOS ELEMENTAIS IV



AS ILHAS FEÉRICAS
Não há mapa que nos conduza até as ilhas e regiões féericas. Os meios de chegarem até elas não é dado a todo mundo e a viagem de regresso não sempre está assegurada.
Nos relatos da Idade Média há muitos relatos sobre o mundo das fadas e dos elfos. Esses reinos se denominam ilhas Encantadas, ilhas Bem-aventuradas, ou ilhas Afortunadas. Frente à costa de Bristol, em Somerset, se encontra, ao que parece, uma ilha feérica, chamada de "Terra Verde do Encantamento", que é invisível ao olho humano. E, ainda acredita-se que exista várias ilhas invisíveis frente a costa galesa.
Mas, há ilhas reais que também são ilhas feéricas, como é o caso da ilha de Man, antiga morada do Deus  Manannam Mac Fir, cujas freqüentes brumas são fruto de um encantamento. Essa ilha alberga numeroso contingente de fadas e elfos, assim como espíritos terríveis, os "sangres", que têm por costume de deslocar suas moradas subterrâneas na noite da festa de São Martim, em 11 de novembro. Se aconselha a não passear só nessa noite.

É nessa ilha, onde a Wicca, organização oficial das bruxas do século XX, elegeu em 1951, uma "Rainha das Bruxas", Monique Wilson. Essa fundou um museu de bruxaria em Castletown e propagou durante toda a sua vida a prática do naturalismo, fundamento de um contato harmonioso entre o ser humano e a natureza.
Entretanto, a ilha feérica mais conhecida é a de Avalon, um paraíso acessível unicamente a seres do Reino das Fadas e aos valentes cavaleiros que, por sua pureza e seu amor, se tornam dignos de ser admitidos nela. O lendário rei Artur, a quem o poeta Lydgate do século XV descreve com um "rei coroado no país das fadas", foi levado mortalmente ferido para que o assistissem quatro rainhas fadas.
Dessa ilha veio o povo élfico de Tuatha De Dannan, ou seja, a "tribo de Dana". Esse povo foi expulso da ilha pelos Firbolgs e foram para a Irlanda, onde reinaram por longo tempo, até que novos invasores da raça humana, os expulsaram da superfície da terra e os condenaram a invisibilidade, como resultado da batalha de Tailtenn. Os nobres elfos edificaram suas novas moradas embaixo das colinas e nos lagos da Irlanda a fim de perpetuar sua espécie longe dos humanos.
Os elfos também são chamados de "Daoine Sidhes", o povo das colinas. "Sidhe" quer dizer "colina" em gaélico.
Evans Wentz, nos indicou: "Dois povos que co-habitam hoje na Irlanda: um povo visível, ao qual chamamos de celtas, e um povo invisível, que chamamos de elfos. Existem relações constantes entre esses dois povos, inclusive hoje em dia; pois os videntes irlandeses dizem que podem perceber os belos e majestosos Sidhes, e segundo eles o povo dos Sidhes é diferente do nosso, igualmente vivo e sem dúvida mais poderoso".
COMUNICANDO-SE COM OS ELFOS
Os elfos não são seres que possam ser subjugados para se obter algo, pois sua natureza é bem diversa dos outros elementais. Eles são muito independentes e jamais alimentarão desejos humanos torpes e egoístas. Para entrar em contato com os elfos, deve-se dirigir a lugares onde costumam habitar: bosques, dólmenes, templos abandonados, rios, lagos, lugares que não costumam ser visitados pelos seres humanos. Ao se chegar ao local, deve-se sentar-se no solo ou em uma pedra e chamá-los com amabilidade. Se for possível, deve-se recitar algum poema, realizar um rito ou cantar uma canção élfica. Pode-se também levar alguns presentes como doces, cervejas, etc. Não peça nada, apenas desfrute da mágica companhia dos elfos. Se conseguir despertar atenção, já será uma grande vitória.
REINO SUBTERRÂNEO DOS ELFOS
Quando não residem em suas ilhas encantadas, os elfos vivem embaixo da terra, especialmente na Irlanda, Escócia, a ilha de Man e o País de Gales. Parece que em certas épocas do ano, e em determinadas circunstâncias, é possível ver os "sidhes" e entrar em contato com eles.

Em função das fases da lua, as moradas ocultas dos elfos de Highlands surgem da terra e permanecem sustentadas na cúspide de colunas. Então é possível distinguir as silhuetas de seus habitantes e perceber o som de sua voz e da sua música.
Para se ver a entrada das casas dos sidhes, é recomendável realizar nove vezes a volta na colina e na noite de lua cheia. Então a porta de sua morada se abrirá. Senão, é possível colocar a orelha no solo. Se estiver dotado de boa audição, poderá perceber os ecos das diversões que animam ao Povo Pequeno.
As "Colinas Ocas" servem de residência para os elfos, de esconderijo para os tesouros dos anões, de cemitério das fadas, e também  de campos santos. Tem-se notícia de que o rei Artur, assim como o rei Sil, costuma cavalgar sobre seu cavalo, vestindo uma armadura de ouro, na colina de Silbury, em Wiltshire. Há uma lenda parecida que envolve uma colina em Bryn, perto de Mold, Clyd Flint, onde também foi visto um cavaleiro que vestia uma armadura de ouro.
O povo comenta que as casas dos elfos são muito grandes e belas, embora invisíveis para os olhos ordinários, mas como em outras ilhas encantadas, possuem luzes de abeto, lâmpadas que ardem sem interrupção e fogos que não têm nenhum combustível que os mantenha acesos.
Entretanto, os elfos da colina não gostam de ser molestados e não permitem serem vistos por simples humanos. Os observadores devem ter paciência e serem discretos. Se conseguirem ganhar a amizade e a cumplicidade do povo invisível, tudo irá bem. Dormir no alto da montanha enquanto os elfos celebram suas festividades era um meio muito bom de obter um passaporte para o seu país.


A CORTE DOS ELFOS
Giraldus Cambrensis, autor galês do século XII, descreve os elfos como um pequeno povo de cabelos claros, belos rostos e porte digno, que vivem em uma região escura em que não há sol, nem lua, nem estrelas. Falam pouco e sua maneira de expressar-se é através de um sibilo claro. As mulheres fiam habilmente, tecem e bordam.
Os Sidhes da "tribo de Dana" possuem em sua corte magníficos palácios subterrâneos sepultados embaixo das colinas da Irlanda. Dagda, o soberano supremo dos Thuatha De Dannan", vivia no mais belo deles, o palácio de "Brug na Boinne", no qual se dizia conter três árvores que davam frutos em todas as estações, um copo cheio de um néctar delicioso, um caldeirão mágico e dois porcos, um vivo e outro assado a ponto de ser comido a qualquer hora do dia e da noite. Nesse palácio nada envelhecia ou morria. Imortais e eternamente jovens, os Thuatha De Dannan não conheciam a doença e a velhice.


Se diz que os mortais que têm acesso aos seus palácios encantados, podiam saborear a plenitude do eterno presente e da primavera permanente. Assim foi o que aconteceu com o célebre herói irlandês Finn e seus seis companheiros quando foram atraídos para um dos palácios secretos por uma fad que havia se metamorfoseado em cervo quando eles estavam caçando. Nesse palácio viviam belas ninfas e seus apaixonados. Se tocava uma música maravilhosa, havia abundante comida e bebida, e os móveis eram feitos de cristal. As vezes, esses palácios estavam dissimulados no fundo dos lagos; quando a água estava clara e pura, podia-se ver na superfície os reflexos das torres das belas construções submarinas.
A MÚSICA DOS ELFOS
Os maravilhosos palácios dos elfos servem de morada para poetas e músicos extraordinários. O próprio São Patrício que cristianizou a Irlanda declarando uma verdadeira guerra contra os sidhes, escutava maravilhado a música dos elfos. Um dia, sentado em um monte, em companhia do rei de Ulidia e alguns nobres, viu aproximar-se um homem vestido com um manto verde com pregas presas a uma fivela de prata e uma camisa de seda amarela, carregando uma espécie de harpa.

-"De onde vens?" - lhe perguntou o rei.
-"Do palácio subterrâneo de Bodhb Derg, do sul da Irlanda".
-"E quem tu és?"
-" Meu nome é Cascorach, filho de Cainchinn, e eu sou como meu pai, bardo da corte dos Tuatha De Dannan".
De imediato pegou sua harpa e dela saiu sons tão belos que tanto o rei como toda a sua corte caíram em um sono mágico. Ao despertar, São Patrício confessou ter apreciado muito o concerto da Cascorach:
-"Era uma música verdadeiramente bela, por desgraça infestada com alguns sortilégio feérico, fora isso, nenhuma música me parece mais próxima da harmonia celestial."
Essa música encantada dos elfos era tão famosa na Irlanda que mais de um humano tentou ser admitido na corte dos Tuatha De Dannan, só para poder receber educação musical. Ao que parece, os melhores violinistas e gaiteiros da Irlanda obtiveram seu saber entre os elfos.
O povo conta a história de um violinista medíocre que tinha o costume de ir até às sombras das colinas encantadas, só para aprender melodias novas. Quando regressava ao povoado, retirava de seu violino uns tons endiabrados que faziam dançar as moças e os moços durante noites inteiras. Inspirado pelas fadas e os elfos, esse músico tornou-se uma grande celebridade, porém não tardou a ficar deprimido e desejar morrer. A música dos elfos é belíssima, mas melancólica e desperta naqueles que a escutam uma nostalgia tão profunda que acabam perdendo o gosto pela vida normal.
Os elfos e as fadas tocam vários instrumentos musicais: o violino, a harpa, o pandeiro, o címbalo e a guimbarda (harpa de boca). Acredita-se que toda a música acompanhada de canções teve sua origem no mundo feérico.
O TEMPO DO AMOR
As fadas são grandes apaixonadas como nós. E uma estranha fatalidade faz com que experimentem suas maiores paixões por simples mortais, bem mais que por outros seres do Reino das Fadas. Desse modo, os homens que por azar do destino, venham a conhecer uma fada, não podem escapar do amor louco que ela desperta neles.
Mas de onde vem esta atração mútua e irresistível? Ninguém sabe, mas as lendas, relatos ou crônicas populares abundam em histórias de amor que colocam em cena o homem e a fada.
Eis aqui o testemunho, coletado no ano de 1849, de uma senhora que vivia em Arinthod (região pertencente a França):
"Um de nossos criados, chamado Félicien, foi levar os cavalos para o pasto no prado da ilha onde vivo e avistou pequenas senhoritas brancas. Era época da seca do feno.
Havia pilhas de feno amarrados e soltas na pradaria e lindas sílfides dançavam ao seu redor, tão rápidas, de um modo tão gracioso, que era uma maravilha. Nosso bom Félicien ficou fascinado com o grande espetáculo. Voltou para casa com um ar de encantamento inexplicável e nos descreveu o melhor que pode a beleza, a graça e a natureza diáfana daquelas pequenas criaturas de Deus; e tão belas eram que havia se apaixonado por elas no ato. De bom grado havia pedido uma em casamento, por seus traços, por sua elegância, pelos diamantes de todas as cores que brilhavam em seus dedos, seus braços, no pescoço, na cintura...."

O s amores que ligam as fadas e os homens a maioria das vezes, estão fadados ao insucesso, pois os seres dos Reinos das Fadas e os humanos pertencem a universos diferentes e só podem encontrar-se em lugares incertos que determinam a fronteira entre esse mundo e o outro.
Nos relatos e contos novelísticos, a fada sempre aparece ao herói no coração de um bosque sombrio, perto de uma fonte ou de um arroio. O homem está sempre só, perdido, debilitado, e não tem nenhuma possibilidade de resistir a ela, bela como nenhuma, e se oferecendo desse modo. No mesmo instante esquece qualquer outra paixão terrena e se entrega de corpo e alma a sua nova Dulcinéia. Pede sua mão e nada parece poder desfazer o sucesso dessa mútua paixão.
O amor da fada por seu companheiro humano é total, e é de uma fidelidade a toda prova. Pode permanecer com seu eleito até o final dos tempos. Evans Wentz evoca um caso de uma fada que não vacilou a acompanhar seu amante mortal até a América do Sul.


REGRAS FEÉRICAS
Entretanto, a felicidade dos apaixonados em geral, é de curta duração. A aliança com a fada está sujeita a condições que os mortais costumam desrespeitar. Não que sejam particularmente complexas ou difíceis de satisfazer, ao contrário. As regras que regem o Reino das Fadas são banais e inclusive insignificantes. Os mortais as tomam como caprichos da fada e não lhes prestam muita atenção. Não demoram muito para transgredi-la, sem se darem conta, violando assim seu juramento, perdendo para sempre o amor da fada e deixam de ter acesso definitivamente ao Reino das Fadas, que lhes havia entreaberto a porta de seus domínios encantados. De volta a sua condição primitiva de simples mortais, vagam pelo mundo como almas penadas antes de morrer de tristeza e nostalgia.
Entre os tabus que regulam as relações entre fadas e mortais podemos citar a proibição de chamar o ser do Reino das Fadas pelo nome, de evocar sua existência diante uma terceira pessoa, de pronunciar certas palavras ou aludir a certas pessoas em sua presença, de recordar-lhe suas origens, pegá-lo ou tocá-lo com um objeto de ferro. A menor infração, a fada desaparece e abandona seu amante de carne e osso a sua triste sorte.


O AMOR ÉLFICO


Também os elfos buscam ardentemente o amor das mortais. Na Irlanda se conhece um elfo chamado Ganconer, nome que significa "o que fala de amor", jovem de olhos negros e brilhantes, cujas belas palavras seduzem as jovens que andam sozinhas pelos bosques, ao cair da noite. Pobre daquelas que se deixam abraçar por ele, pois não tardarão a morrer de languidez, depois que seu amante élfico a saciar de carícias! Um provérbio irlandês afirma: " Quem encontra Ganconer pode tecer seu sudário".
Outro elfo, esse originário da Escócia, se vingou cruelmente de uma mortal que havia lhe jurado amor. O elfo desapareceu por sete anos, contando com a fidelidade de sua amada. Entretanto, essa terminou por cansar-se de esperar e casou com outro homem, do qual teve um filho. Ao seu regresso, o elfo fez de tudo para seduzir novamente a jovem. Propôs raptá-la e fugir em um navio de ouro que navegaria empurrado por um vento mágico. A mulher abandonou o marido e o filho para embarcar com o amante. Mas, assim que zarparam, o elfo suscitou uma terrível tempestade. O barco afundou e a mulher infiel com ele.
Os elfos nem sempre são belamente jovens, muitas vezes possuem alguma deformação física, podem apresentar os pés tortos ou voltados para trás, orelhas pontiagudas, rabo de vaca, não terem nariz ou serem estrábicos.



Desde os primeiros tempos clássicos, as lendas das visitas de deusas e ninfas a mortais humanos e sua relação com amorosa com eles sempre comoveu a humanidade por sua tragédia e esplendor; pois o final de todas essas relações entre imortalidade e mortalidade têm sido trágico.

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