Apollo Thanatos
Por
Pythio
Apollo
Thanatos ou como a luz pode ser terrivelmente obscura e a escuridão
incrivelmente esclarecedora.
Bem
que todos conhecem Apollo, certo? Aquele jovem olimpiano, “Deus do
Sol” (errado, Hélios é o Sol – Apollo é a Luz Solar e seus
efeitos - ). Mas como todo Deus, Apollo é muito mais do que isto,
indo além do conceito de que Deuses são representações humanas,
interpretações de nuances energéticas na terra/universo, vamos
falar de Apollo como se ele fosse uma pessoa, um amigo – no meu
caso e também uma dinâmica.
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Apollo
é a representação de tudo o que a luz pode fazer/trazer. A luz por
si só não é boa nem má, estes são conceitos humanos. A luz é o
que é e ponto. A luz não tem a consciência julgadora que os
humanos tem, lidar com a luz é simples pois trabalha com quem souber
trabalhar com ela, a luz é uma Prostituta. Apollo é o cara da luz,
é Ele quem vem quando buscamos “nos iluminar” e “esclarecer”
as idéias. Mas como a Luz, Apollo é o que é, não se importa com
quem o busca, Ele realiza seu trabalho e ponto.
Então
eu lhes convido para um belo banho de sol. Agora, meio-dia de um
verão atípico brasileiro. Fiquem 1h hora e depois voltem.
(tic-tac). Agora me digam, quão gostosa é essa luz solar? Posso
tentar adivinhar que o maior desejo de vocês foram 2 – água e
sombra -, certo?
Apollo
é esse cara que esclarece tudo, sua luz desbrava horizontes, seus
raios – flechas – rasgam o céu todas as manhãs... Apollo é
caçador, é assassino de Python, conquistador. Mas como um dos seus
principais ensinamentos - μηδεν αγαν (meden agan, "nada
em excesso") – devemos saber dosar o que buscamos, o quanto
nos expomos e aos poucos ir nos aprofundando nos mistérios do
universo e de nós mesmos, por mais redundante que isto possa
parecer.
Eliphas
Lévi tem uma frase em seu “Dogma e ritual de Alta Magia” que
expõe muito bem a natureza de Apollo – Dizer a verdade para
aqueles que não a entendem é mentir para eles, explicar esta
verdade é profaná-la! – eu não acredito em profanação, para
falar a verdade, mas esta frase é a explicação para a metáfora do
corvo e a luz, onde a luz mostrada ao um corvo na noite o cega e o
espanta. Numa relação e conceito dicotômico, Apollo – A luz –
seria a verdade, de fato um de seus maiores atributos e seu oposto
Apollo Thanatos (morte) – A Escuridão – é a dúvida, por mais
irônico que pareça, sendo a morte a única certeza da vida – cada
coisa leva em si a semente do seu oposto – como numa fita de
Moëbius, a verdade inevitavelmente leva a dúvida e a dúvida
inevitavelmente leva à verdade.
Nesta
relação entre um e outro a dinâmica de existência acontece, pode
ser cíclica ou mesmo horizontal. Só não pode ser assimétrica! E
essa é uma lição que Apollo vem trazer nestes últimos tempos.
Quem busca somente a luz acaba cego, acaba rígido, acaba aprisionado
em conceitos sem entendê-los ou compreendê-los. O mesmo acontece
para quem busca somente as Sombras. O caso aqui é que Luz e Sombras
– Apollo Aegletes e Apollo Thanatos são duas faces da mesma moeda.
Na verdade não existe moeda. Existe a experiência.
Uma
das máximas mais famosas de Apollo é γνωθι σεαυτον
(gnothi seauton, "conhece-te a ti próprio"), isso
significa que em nossa inteireza refletimos o cosmos, o padrão e
dinâmica de tudo que é, foi e será. É um convite –
(Re)Conheça-se Deus!! – Conheça a sua essência! Em nossa
inteireza somos luz e sombra, nuances cósmicas. Em nosso âmago (ou
nem tanto) está tudo o que precisamos saber.
Inteiração
é a palavra chave quando o assunto é libertar-se. É necessário
interagir com a verdade e com a mentira, com a loucura e com a
sanidade. Nunca iremos reconhecer verdadeiramente alguma coisa lendo
sobre ela. Precisamos experiênciar tudo o que o universo carnal tem
a oferecer em sua pluralidade, fazendo sempre um contraponto, estando
pautados em nosso centro, por que do contrário é ignorância pura
se entregar aos prazeres da carne sem que se esteja firmado em seu
centro, sem que se saiba quem se é. Eu estou no centro do Universo e
para que o Universo gire realmente ao meu redor isto precisa estar
bem claro.
Apollo
é um Deus da comunidade, foi adorado juntamente com os processos
inter-relacionais, é a “ordem” política (de polis – cidade) é
o poder da razão, então Thanatos é o incentivo a ir além dos
conceitos humanos, a dúvida. Questione tudo aquilo que se tem como
certo. As coisas mais banais – E se o Sol não nascer amanhã? E
se a Terra parar de girar? E se na verdade for o sol que gira em
torno da terra e não ao contrário? Você já parou para pensar
nisso? Você acredita nisto por que alguém te disse para acreditar e
como “fez sentido” para a sociedade, “faz sentido” para você.
Apollo é o bom pastor, Apollo cuidou do rebanho do rei de Tróia
como um castigo de Zeus. Você é uma ovelhinha que acredita em tudo
o que dizem sem questionar. Você acha que o sol vai nascer amanhã,
por que desde que você nasceu – e antes – isso aconteceu.
Quantas vezes as coisas que temos como certas nos decepcionam? Um
dia, eu te garanto, o sol não irá nascer.
Ao
nos entregar a este conceito de Thanatos nos abrimos ao
maravilhamento mágico/espiritual que a vida ao nosso redor oferece!
As coisas não precisam ser sempre iguais por que foram assim desde
sempre! Você é livre para buscar a interação com o novo desde que
saiba quem se é, caso contrário o novo sempre será uma ameaça a
integridade desta falsa imagem que você tem de si mesmo. Não
existem verdades – é tudo diversão – como citou belamente nosso
Inkubus King. Mas só quem sabe se divertir é quem sabe o que
precisa para se divertir e isto vem com auto-conhecimento, do
contrário é excesso e o excesso leva a ignorância, a alienação –
a humanidade. A entrega, o re-conhecer-se leva a sabedoria – a
vir-a-ser – Deus.
Papus
em “Tratado elementar de Magia prática” diz que se alguém quer
aprender Magia, deve começar a analisar o mundo ao redor. Eu apoio
esta idéia. Tudo está ai, para quem tem olhos de ver e ouvidos de
ouvir. Então pare de ouvir somente o que você quer ouvir e ler
somente o que você quer ler. Pare de ver o mundo como você é e
comece a fazer um esforço e se colocar no lugar do outro, no lugar
da pedra, do sapo, do prego, da árvore... Rompa com este conceito
minúsculo que você tem do que é real e do que não é, do que é
certo e do que é errado. No final das contas nada disto importa por
que o Universo não se importa (Sinto muito ser eu a te dizer isto).
Esta idéia de Deus-Cristão é a maior furada! Não existe ninguém
escutando suas preces, não existe ninguém julgando suas ações. O
Universo é muito melhor que isso, é muito mais esperto e sábio.
Existem Leis – Apollo – que regem o Universo justamente para que
ninguém se preocupe com ninguém, para que cada um faça o que é de
sua natureza fazer. Então eu te pergunto – Qual é a sua Natureza?
Qual é sua Vontade (com V maiúsculo como coloca Crowley) – Faça
o que for de sua Vontade pois é o todo da Lei! Falta você descobrir
qual é a sua Vontade e não o seu capricho. O mundo está cheio de
hipócritas caprichosos, poucos conhecedores de suas vontades.
Apollo
Thanatos é o amigo que te incentiva a reivindicar o poder de sua
sombra e a se tornar inteiro. É a escuridão acolhedora depois de
uma longa jornada num deserto escaldante que é a nossa sociedade –
cheia de não podes e não deves – rígida e dura, implacável como
somente a luz do sol pode ser. Esteja preparado para encontrar nesta
sombra tudo aquilo que renegou e ao invés de batalhar com seus
demônios, convide-os para dançar. Você vai ver como a vida pode
ser muito mais divertida para quem realmente transita entre mundos.
Somente assim você será o Xamã, o Bruxo, o Mago que busca ser.
Quando olhar fundo nos olhos do abismo e reconhecer ele te olhando de
volta. E se engana se você pensa que acolher a sua sombra é ser
cruel, estúpido ou doente mental. A sua sombra é o tudo aquilo que
te controla mas que faz você pensar que está no controle, a Sombra
é aquele hábito podre, é aquela resposta automática, é aquela
erva daninha tão enraizada que você achou que nasceu com ela e
pronto. É o seu medo de mudar, é o seu medo de crescer, é o seu
medo de ver que está errado e todas as defesas e desculpas, todos os
argumentos bem armados pela sua mente para provar que você está
sempre certo. É aquele orgulho besta que te faz atacar o dedo que
cutuca a sua ferida ao invés de tratá-la devidamente, isto é a
Sombra, isto é Thanatos – é deixar morrer quem você pensa que é
para renascer inteiro.
E
para encerrar deixo outra frase célebre de Papus – “Todas as
palavras mágicas do mundo, todos os talismãs, todas as cerimônias,
postas em uso por tal homem, só produzirão efeitos nulos e
ridículos, pois um cavalo de raça não tem o hábito de deixar-se
conduzir por um menino inexperiente”. Quem você quer ser? Um
cavalo de raça ou um menino inexperiente?
Que
Apollo lance uma luz sobre isso.