Da Magia Negra dos Tipos Principais das Operações de Arte Mágica e dos Poderes da Esfinge





Da Magia Negra
dos Tipos Principais das Operações de Arte Mágica
e dos Poderes da Esfinge

I

Único Supremo Ritual é a consecução do Conhecimento e Conversação do Sagrado Anjo Guardião. Consiste em elevar o homem todo numa linha reta vertical.

Qualquer desvio desta linha tende a se tornar magia negra. Qualquer outra operação é magia negra.

Na Verdadeira Operação, a Exaltação é equilibrada por uma expansão nos outros três braços da Cruz. Assim, o Anjo imediatamente dá ao Adepto poder sobre os Quatro Grandes Príncipes e os seus servidores. [1]

Se o magista necessita executar qualquer outra operação que esta, será legítima apenas se for um preliminar necessário Àquele Trabalho Único.

Há, no entanto, muitas nuances de cinzento. Nem todo magista está bem a par da teoria. Talvez um desses invoque Júpiter com o desejo de curar outra pessoa de mazelas físicas. Este tipo de coisa é inofensivo,[2] ou quase inofensivo. Não é maligno em si; é o resultado de um defeito de compreensão. Até que a Grande Obra tenha sido executada, é presunçoso da parte do magista pretender compreender o universo, e ditar-lhe a política. Somente o Mestre do Templo pode dizer se qualquer particular ato é um crime. “Matar aquela criança inocente?” (Eu ouço o ignorante gritar.) “Que horror!” “Ah!”, replica o Conhecedor, com presciência da História, “mas aquela criança será Nero. Apressai-vos em estrangulá-la!”


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Há um terceiro, acima destes, que compreende que Nero era tão necessário quanto Júlio César. [3]

O Mestre do Templo, consequentemente, não interfere com o esquema das coisas a não ser no quanto ele está executando o Trabalho que ele foi enviado para executar. Por que deveria ele lutar contra aprisionamento, banimento, morte? É tudo parte do jogo no qual ele é um peão. “Era necessário que o Filho do Homem sofresse estas coisas, e entrasse em Sua glória.”

O Mestre do Templo está tão longe do homem em que Ele se manifesta que todas essas coisas são sem importância para Ele. Pode ser necessário ao Trabalho d’Ele que aquele homem se sente sobre um trono, ou seja, enforcado. Em tal caso, Ele informa seu Magus, que exerce o poder que Lhe foi confiado, e tudo ocorre de acordo. No entanto, tudo ocorre naturalmente, e necessariamente, e em toda aparência sem uma palavra por parte d’Ele.

Nem presumirá o mero Mestre do Templo, em regra, de agir sobre o Universo, salvo como servo de seu próprio destino. É apenas o Magus, Aquele do grau acima, que atingiu Chokmah, Sabedoria, e assim ousa agir. Ele deve ousar agir, se bem que Ele não goste. Mas Ele deve assumir a Maldição do Seu grau, como está escrito no Livro do Magus.

Existem, claro, formas inteiramente negras de magia. Para aquele que não deu toda gota do seu sangue para a taça de Babalon, todo poder mágico é perigoso. Há formas ainda mais degradadas e malignas, coisas negras em si mesmas. Tais como o uso de forças espiritual para fins materiais. Cientistas cristãos, curandeiros mentalistas, adivinhos profissionais, psiquistas e tais, são todos ipso facto Magistas Negros.

Eles trocam ouro por lixo. Eles vendem seus poderes mais elevados para obter benefícios temporários e grosseiros.

Que a mais crassa ignorância da Magia é a principal característica deles não é desculpa, mesmo se a Natureza aceitasse desculpas, o que ela não faz. Se você bebe veneno por engano como se fosse vinho, seu “engano” não lhe salvará a vida.

Abaixo destes em um sentido, no entanto muito acima deles em outro, estão os Irmãos do Caminho da Esquerda.[4] Estes são aqueles que se “fecham”, que recusam dar seu sangue à Taça, que espezinham o Amor na corrida por auto-engrandecimento.

Até o grau de Adepto Exemptus, eles estão no mesmo caminho que a Fraternidade Branca; pois até aquele grau ser atingido, o fito não é desvelado. Apenas, então, são os bodes, os solitários puladores mestres da montanha, separados dos gregários, tímidos carneiros presos ao vale. Estão aqueles que aprenderam bem as lições do Caminho, estão prontos a serem despedaçados, a entregarem sua vida inteira ao Bebê do Abismo que é – e não é – eles.

Os outros, orgulhosos em sua púrpura, recusam. Eles se fabricam uma coroa falsa do Horror do Abismo; eles colocam a Dispersão de Choronzon sobre suas testas; eles se vestem nos robes envenenados da Forma; eles se fecham; e quando a força que os fez o que eles são se gasta, eles se tornam os Comedores de Esterco no Dia de Sê-Conosco, e seus farrapos, espalhados no Abismo, perdem-se.

Não assim os Mestres do Templo, que estão sentados como pilhas de pó na Cidade das Pirâmides, esperando a Grande Flama que os fará em cinzas. Pois o sangue que eles entregaram está entesourado na Taça de Nossa Senhora Babalon, uma poderosa medicina para despertar a Velhice do Pai de Tudo, e redimir a Virgem do Mundo de sua virgindade.

II

Antes de deixarmos o assunto da Magia Negra, podemos tocar de leve na questão de Pactos com o Diabo.

O Diabo não existe. É um falso nome inventado pelos Irmãos Negros para implicar uma Unidade em seu ignorante amontoado de dispersões. Um diabo que tivesse unidade seria um Deus. [5]

Foi dito pelo Feiticeiro do Jura que a fim de invocar o Diabo é apenas necessário chamá-lo com a nossa vontade inteira.

Isto é uma verdade mágica universal, e se aplicada a todo e qualquer outro ser tanto quanto ao Diabo. Pois a vontade inteira de cada homem é na realidade a vontade inteira do Universo.

É, porém, sempre fácil chamar os demônios, porque eles estão sempre chamando você; e você tem apenas que descer ao nível deles e fraternizar com eles. Eles, então, despedaçarão você a bel prazer. Não imediatamente; eles esperaram até que você tenha rompido por completo o elo entre você e seu Sagrado Anjo Guardião antes de pularem, a fim de que você não escape no último instante.

Antônio de Pádua e (em nossa própria época) “McGregor” Mathers são exemplos de tais vítimas.


No entanto, todo magista deve firmemente estender seu império às profundezas do inferno. “Meus adeptos estão eretos, suas cabeças acima dos céus, seus pés abaixo dos infernos”. [6]

Este é o motivo por que o magista que executa a Operação da Magia Sagrada de Abramelin o Mago, imediatamente após atingir o Conhecimento e Conversação do Sagrado Anjo Guardião, deve evocar os Quatro Grandes Príncipes do Mal do Mundo.

Obediência e fé Àquele que vive e triunfa, que reina sobre vós em palácios como a Balança de Retidão e Verdade” é o dever de você para com o seu Sagrado Anjo Guardião, e o dever do mundo demoníaco para com você.

Estes poderes de natureza “má” são bestas selvagens; devem ser domados, treinados para a sela e o freio; eles carregarão você bem. Nada há de inútil no Universo: não embrulhe seu Talento em um guardanapo porque é apenas “vil metal”!

Quanto ao assunto de Pactos, eles raramente são permissíveis. Não deveria haver nenhuma barganha feita. A Magia não é comércio, e vigaristas não precisam se candidatar. Assenhore-se de tudo, mas de generosamente aos seus servos, uma vez que eles se tenham submetido incondicionalmente. [7]

Existe também o problema de aliança com diversos Poderes. Novamente, tais alianças são raramente permissíveis.[8] Nenhum Poder que não seja em si mesmo um microcosmo – e mesmo arcanjos raramente atingem este centro de equilíbrio – está habilitado a tratar com o Homem em pé de igualdade. O estudo próprio à humanidade é Deus; com Deus é o negócio dela; e com Deus apenas. Alguns magistas contrataram legiões de espíritos para algum propósito especial; isto sempre provou ser um sério erro. A inteira ideia de troca é alienígena à magia. A dignidade do magista proíbe compactos. “A Terra é do Senhor, e a fartura dela.”

III

As operações de arte mágica são difíceis de classificar, pois emergem umas nas outras, devido à unidade essencial de seu método e resultado. Podemos mencionar:

Operações como a evocação, em que um espírito vivo é levantado de matéria morta.
Consagrações de talismãs, em que um espírito vivo é encerrado em matéria “morta”, e vivifica a mesma.
Trabalhos de adivinhação, em que um espírito vivo é encarregado de controlar as operações da mão e do cérebro do Magista. Tais obras são consequentemente perigosíssimas, e devem ser praticadas somente por magistas avançados, e então com grande cuidado.
Obras de fascinação, tais como operações de invisibilidade, e transformações da aparência física da pessoa ou coisa interessada. Isso consiste quase sempre em distrair a atenção, ou perturbar o julgamento, da pessoa que desejamos enganar. Há, no entanto, “verdadeiras” transformações do adepto mesmo, que são muito úteis. Veja o Livro dos Mortos quanto a métodos. A assunção de Formas-Divinas pode ser levada ao ponto de atual transformação.
Obras de Amor e Ódio, que são também executadas (em regra) por uma fascinação. Estas obras são demasiadas fáceis, e raramente úteis. Elas têm uma desagradável tendência de retornarem sobre o magista.
Obras de destruição, que podem ser executadas de muitas maneiras diversas. Podemos fascinar e dobrar à nossa vontade uma pessoa que tem como direito destruir. Podemos empregar espíritos ou talismãs. Os magistas mais poderosos dos séculos mais recentes têm empregado livros.
Em assuntos privados, essas operações são todas muito fáceis, se forem necessárias. Um adepto conhecido do Mestre Therion achou preciso em certa ocasião matar uma Circe que estava enfeitiçando irmãos. Ele meramente foi até a porta do quarto dela e desenhou um T astral (“traditore”, ‒ “traidor” ‒ e o signo de Saturno) com uma adaga astral. Dentro de quarenta e oito horas ela se suicidou. [9]
Trabalhos de criação e dissolução, e as invocações mais elevadas.
Há também centenas de outras operações;[10] para trazer objetos requeridos – ouro, livros, mulheres e outros tais; para portas fechadas; para descobrir tesouros; para nadar debaixo d’água; para termos homens armados ao nosso comando – etc. Tudo isto são, na realidade, detalhes; o Adeptus Major facilmente compreenderá como executar tais operações se necessário. [11]

Devemos observar que todas essas coisas acontecem “naturalmente”.[12] Execute uma operação para lhe trazer Ouro – seu tio rico morre e lhe lega seu dinheiro;[13] livros – naquele mesmo dia você vê o livro que queria num catálogo, se bem que você anunciou nos jornais, em vão, durante um ano inteiro; mulheres – mas se você fez com que espíritos lhe trouxessem ouro em quantidade suficiente, esta operação não será necessária. [14]

Devemos dizer, além do mais, que é absoluta Magia Negra usar qualquer desses poderes se o objetivo pode possivelmente ser conseguido de outra forma. Se seu filho está se afogando, você deve pular na água e tentar salvá-lo; não adianta invocar as Ondinas.

Nem é direito, em todas as circunstâncias, invocar as Ondinas mesmo quando não há outro jeito; talvez seja necessário a você e à criança que ela morra. Um Adepto Exemptus que vai à direção certa não cometerá erro aqui – um Adepto Maior muito provavelmente errará. A completa absorção do significado deste Livro Quatro armará adeptos de quaisquer graus contra os mais sérios desacertos consequentes à infortunada posição deles.

IV

A necromancia é de suprema importância para exigir uma seção própria.

É justificável em certos casos excepcionais. Suponhamos que o magista não consiga acesso a Instrutores vivos, ou necessite algum detalhe especial de conhecimento que ele tem motivo para crer que desapareceu com algum instrutor [15] do passado; pode ser útil invocar a “sombra” de um tal, ou ler o “registro akásico” da mente dele.

Se isto for feito, que seja bem feito, e de acordo com as linhas da invocação de Apolônia de Tiana que Eliphas Lévi executou. [16]

O máximo cuidado deve ser tomado para evitarmos uma personificação da “sombra”. É, está claro, fácil, mas raramente pode ser aconselhável, evocar a sombra de um suicida, ou de alguém cuja morte foi violenta ou súbita. De que utilidade é tal operação, salvo para satisfazer curiosidade ou vaidade?

Devemos acrescentar uma palavra sobre espiritismo, que é uma espécie de necromancia indiscriminada – a gente preferiria a palavra necrofilia – por amadores. Eles se tornam perfeitamente passiveis e, longe de empregar quaisquer métodos de proteção, deliberadamente convidam todo e cada espírito, demônios, cascões, todo excremento e imundície da terra e do inferno, a que espirrem sua gosma sobre eles. Este convite é prontamente aceito, a não ser que um homem limpo esteja presente com uma aura suficientemente boa para amedrontar essas imundas criaturas do abismo.

Nenhuma manifestação espiritista ocorreu jamais na presença sequer de Frater Perdurabo; quanto mais na de Mestre Therion! [17]


De todas as criaturas que ele já encontrou, o mais proeminente dos espiritistas ingleses (um jornalista e pacifista de fama internacional) tinha a mente mais imunda e a boca mais suja. Essa pessoa interrompia qualquer conversação para contar uma estúpida anedota obscena, e não podia conceber qualquer sociedade secreta que se congregasse para outro propósito que “brigas fálicas,” o que quer que elas sejam. Completamente incapaz de se concentrar num argumento, ele arrastava a conversação repetidamente para a única coisa que o interessava – sexo, e perversões sexuais, e sexo e sexo e sexo e sexo outra vez.

Isto era o evidente resultado do espiritismo dele. Todos os espiritistas são mais ou menos similarmente afligidos. A gente sente a sujeira deles mesmos do outro lado da rua; suas auras são rotas, enlameadas e mal cheirosas; eles segregam o lodo de cadáveres em putrefação.

Nenhum espiritista, uma vez que esteja completamente enredado em sentimentalismo e nos freudianos fantasmas de medo, é capaz de concentrar o pensamento, ou de vontade persistente, ou de caráter moral. Desprovido de toda centelha da luz divina que era seu direito de nascer, uma presa antes da morte dos horrendos habitantes da sepultura, o desgraçado, como o corpo mesmerizado e vivo do Monsieur Valdemar de Poe, é “uma massa quase líquida de repugnante, de detestável putrescência.”

O estudante desta Magia Sagrada é seriamente avisado a não frequentar as “sessões” deles, e mesmo a não admiti-los a sua presença.

Eles são tão contagiosos quanto às sífilis, e mais mortíferos e repugnantes. A não ser que a aura de você seja suficientemente forte para inibir qualquer manifestação das detestáveis larvas que os infestam, evite-os como você não precisa evitar meros leprosos! [18]

V

Dos poderes da Esfinge muito já foi escrito.[19] Sabiamente, eles têm sempre sido mantidos na primeira linha da verdadeira instrução mágica. Mesmo o principiante pode sempre recitar que ele deve saber, ousar, querer e calar. É difícil descrever sobre este assunto, pois estes poderes são realmente compreensivos, e o intercâmbio deles uns com os outros se torna mais e mais evidente à medida que penetramos mais profundamente em seu estudo.

Mas há um princípio geral que merece ênfase especial aqui. Estes quatro poderes são assim complexos porque são poderes da Esfinge, isto é: são funções de um único organismo.

Agora, aqueles que compreendem como organismos crescem estão cônscios de que evolução depende de adaptabilidade ao meio ambiente. Se um animal que não pode nadar é ocasionalmente jogado n’água, ele poderá escapar por um golpe de sorte; mas se ele é continuamente jogado n’água, ele mais cedo ou mais tarde se afogará a não ser que aprenda a nadar.

Organismos sendo, até certo ponto, elásticos, eles depressa se adaptam ao novo ambiente, contanto que a mudança não seja brusca a ponto de destruir aquela elasticidade.

Agora, uma mudança de meio ambiente implica num repetido contato com novas condições, e se você quer se adaptar a qualquer complexo de condições o melhor que você pode fazer é se colocar cautelosa e persistentemente entre elas. Isto é a base de toda educação.

Os pedagogos antigos não eram tão estúpidos quanto alguns educadores modernos nos quereriam fazer pensar. O princípio do sistema deles consistia em transmitir constantes choques ao cérebro até que a consequente reação se tornasse um reflexo do organismo.

Não é desejável usar ideias que excitem interesse, ou que possam mais tarde ser utilizadas como armas, neste treino fundamental da mente. É muito melhor compeli-la a se ocupar com ideias fundamentais que não terão grande significado para a criança, porque você não está tentando excitar o cérebro, mas sim treiná-lo. Por isto, todas as melhores mentes foram treinadas por estudo preliminar dos clássicos e da matemática.

O mesmo princípio se aplica ao treino do corpo. Os exercícios no começo deveriam ser de um tipo que treine os músculos em geral para executarem qualquer tipo de trabalho, mais que algum trabalho especializado, concentração no qual incapacitaria esses músculos para outras tarefas, desprovendo-os daquela elasticidade que é a condição própria à vida. [20]

Na Magia e na meditação este princípio se aplica com tremenda força. É completamente inútil ensinar as pessoas a executarem operações mágicas, pois pode ser que tais operações, quando eles tiverem aprendido a executá-las, não estejam em harmonia com as vontades deles. O que devemos fazer é treinar o Aspirante na dura rotina dos elementos da Régia Arte.

No que concerne ao misticismo, a técnica é extremamente simples, e foi claramente descrita em Parte I deste Livro 4. Não pode ser dito com demasiada ênfase que qualquer quantidade de sucesso místico não compensa negligência quanto à técnica. Pode uma época em que Samadhi não será parte do trabalho do místico. Mas o caráter desenvolvido pelo treino original permanece uma vantagem. Em outras palavras, a pessoa que se “afiou” um cérebro de primeira classe, capaz de elasticidade, é competente para enfrentar qualquer tipo de problema, enquanto aquela que meramente se especializou entrou num círculo vicioso, e não pode mais se adaptar a novas condições.

O princípio é universal. Você não treina um aluno de violino para tocar o concerto de Beethoven; você o treina a tocar qualquer concebível sequência de notas com perfeita facilidade, e você o mantém ocupado com a prática mais monótona possível durante anos e anos antes de permitir que ele suba ao palco. Você faz dele um instrumento perfeitamente capaz de se ajustar a qualquer problema musical que seja posto diante dele. Esta técnica de Yoga é o detalhe mais importante de todo o nosso trabalho. O Mestre Therion mesmo se expôs a censura por apresentar está técnica como de valor apenas porque ela conduz às grandes recompensas, tais como Samadhi. Ele teria sido mais sábio se tivesse baseado seu ensino somente na teoria da evolução das espécies. Mas provavelmente ele pensou nas palavras do poeta:

Sacuda uma cenoura na cara dela,
E onde quer que a cenoura vá, lá vai ela.

Pois, afinal de contas, não se pode explicar a necessidade do estudo do latim, quer à crianças tolas, quer à educadores tolos; pois não tendo aprendido latim, eles não desenvolveram o cérebro para aprenderem o que quer que seja.

Os hindus, compreendendo estas dificuldades, assumiram uma atitude de Deus-Todo-Poderoso quanto ao assunto. Se você vai a instrutor indiano, ele trata você como uma minhoca. Você tem que fazer isto, e você tem que fazer aquilo, e não lhe é permitido saber por que você está fazendo tudo isso. [21]

Após anos de experiência no ensino, Mestre Therion não está completamente convencido de que esta não é a melhor atitude. Quando os alunos começam a discutir as práticas, em vez praticá-las, eles se tornam absolutamente impossíveis. Suas mentes começam andar à roda e à roda, e eles saem pela mesma porta pela qual entraram. Permanecem grosseiros, volúveis e sem compreensão.

A técnica da Magia é tão importante quanto a do misticismo, mas aqui temos um problema muito mais difícil, porque unidade original da Magia, o Corpo de Luz, já é alguma coisa com a qual a pessoa média não está familiarizada. No entanto, este corpo deve ser desenvolvido e treinado exatamente com a mesma rígida disciplina com que é o cérebro no caso do misticismo. A essência da técnica da Magia é o desenvolvimento do Corpo de Luz, que deve ser expandido até incluir todos os membros do organismo, e em verdade, do cosmo.


As mais importantes práticas para treino são:

A fortificação do Corpo de Luz pelo constante uso de rituais, pela assunção de Formas-Divinas, e pelo reto uso da Eucarística.
A purificação, consagração e exaltação daquele Corpo pelo uso de rituais de invocação.
A educação daquele Corpo pela experiência. Ele deve aprender a viajar em todo plano; a quebrar todo obstáculo que possa confrontá-lo. Esta experiência deve ser tão sistemática quanto possível; é inútil viajar apenas até às esferas de Júpiter e Vênus, ou mesmo explorar os 30 Æthyrs, e negligenciar meridianos inativos. [22]
O objetivo é possuir um Corpo capaz de executar facilmente qualquer particular tarefa à sua frente. Não devemos escolher experiências especiais que apelam aos nossos desejos imediatos. Devemos atravessar metodicamente todos os portais possíveis.

Frater Perdurabo foi muito infortunado em que não teve instrutores mágicos para lhe explicarem estas coisas. Ele foi antes encorajado a trabalho errático. Muito afortunado, por outro lado, foi ele ao encontrar um Guru que o instruiu nos retos princípios da técnica da Yoga; e ele, tendo suficiente senso para reconhecer a aplicação universal desses princípios, foi capaz, até certo ponto, de corrigir seus defeitos originais. Mas até hoje, apesar do fato que sua inclinação original é muito maior para a Magia que para o misticismo, ele é muito menos competente em Magia.[23] Um traço disto pode ser visto mesmo no seu método de combinar as duas divisões de nossa ciência, pois ele faz da concentração a base da Obra.

Isto é possivelmente um erro, provavelmente um defeito, certamente uma impureza de pensamento, e a raiz disso está na sua falta de disciplina original quanto à Magia.

Se o leitor examinar agora o relato das suas viagens astrais, Equinox, I:2, ele verificará que esses experimentos foram bastante erráticos. Mesmo quando, no México, ele teve a ideia de explorar os 30 Æthyrs sistematicamente, ele abandonou a visão após ter investigado apenas dois Æthyrs.

Muito diferente é o seu registro após o treino de Yoga em 1901 e.v. tê-lo colocado no caminho da disciplina. [24]

Concluindo esta parte deste Livro Quatro, podemos resumir a coisa toda nestas palavras: Não há qualquer objetivo digno de ser desejado senão o desenvolvimento regular do ser do Aspirante através de trabalho metódico e científico; ele não deve tentar correr antes de poder andar; ele não deve desejar ir à parte alguma até que saiba ao certo aonde é que ele quer ir.


Traduzido por Frater Ever

[1] Veja O Livro da Magia Sagrada de Abramelin o Mago.

[2] Existe, no entanto, a objeção genérica contra desvio dos rios da Iniciação do Mar da Consecução para servirem como canais de irrigação nos campos da vantagem material. É mau negócio pagar moedas de ouro por produtos perecíveis; como por dinheiro, ou prostituir o gênio poético a fins políticos. O curso oposto, se bem que igualmente objecionável por poluir a pureza dos planos, pelo menos é respeitável por sua nobreza. O asceta da Tebaida ou do Mosteiro Trapista é infinitamente mais merecedor que o curandeiro mentalista e o pregador de “fortuna pela oração” de Boston ou Los Angeles; pois o primeiro oferece lixo temporal para ganhar riqueza eterna, enquanto os outros encaram substância espiritual apenas como um meio de obter melhores condições físicas, e engordar sua conta bancária.

[3] N.T.: “Sucesso é tua prova.” Se Nero não fosse necessário, ele não teria sido coroado. Nunca é demais repetir que em toda e qualquer época o povo tem exatamente o governo que merece.

[4] Veja Liber 418, e estude-se bem este assunto. Equinox I, 5, Suplemento.

[5] O “Diabo” é, historicamente, o deus de qualquer povo hostilizado por quem usa o termo. Isto causou tanta confusão que a Besta 666 preferiu deixar os nomes como estão, e proclamar simplesmente que Aiwass – o “Lúcifer” solar-fálico-hermético – é seu próprio Santo Anjo Guardião, e “O Diabo”, Satã ou Hadit de nossa particular unidade do Universo de Estrelas. Esta serpente, Satã, não é o inimigo do Homem, mas Aquele que fez deuses de nossa raça, conhecendo o Bem e o Mal; ele comandou “Conhece-te a Ti mesmo!” e ensinou a Iniciação. Ele é o “Diabo” no Livro de Thoth, e seu emblema é Baphomet, o Andrógino que é o hieróglifo da perfeição secreta. O número de seu Atu é XV, que é Yod (y) He (h), o Monograma do Eterno, o Pai um com a Mãe, a Semente Virgem uma com o Espaço que tudo contém. Ele é, portanto, Vida e Amor. Mas, além disto, sua letra é Ayin ((), o Olho; ele é Luz, e sua imagem zodiacal é Capricórnio, aquele bode pulador cujo atributo é a Liberdade. (Note-se que o “Jehovah” dos hebreus está etimologicamente relacionado com estes. O exemplo clássico desta antinomia, uma que tem causado tantos desentendimentos desastrosos, é aquele entre Nu e Had, Norte e Sul, Jesus e João. O assunto é demasiado abstruso e complicado para ser discutido em detalhe aqui. O estudante deveria consultar os escritos de Sir Richard Payne Knight, do General Forlong, de Gerard Massey, Fabre d’Olivet, etc., para os dados sobre os quais as considerações acima estão fundamentalmente baseadas.)

[N.T.: Veja Carta a um Maçom, de Marcelo Motta, para mais detalhes quanto a este assunto.]

[6]Liber XC, verso 40.

[7] N.T.: Aspirantes à A...A... não devem interpretar o parágrafo acima como significando que as generosas (em aparência) promessas de riqueza, poder, amor, etc., no Livro da Lei lhes serão “dadas” tão cedo eles aceitem a Lei e se dediquem ao Serviço da Estrela e da Serpente. “Sim! não penseis em mudança: vós sereis como sois, e não outros.” Probacionistas da A...A... são homens e mulheres, isto é, estrelas. O Serviço é voluntário, e sua única e suficiente recompensa é desempenhar o papel de adulto num jogo de adultos. Riquezas, poderes, amores, etc., tem que ser conquistado por nosso próprio esforço e de acordo com nossa verdadeira natureza. Não existe lei além de Faze o que tu queres!

[8] No entanto, existem certas organizações de seres espirituais, em cujas fileiras estão não apenas forças angélicas, mas elementais, e até demônios, as quais atingiram tal reta Compreensão do Universo que se organizaram com o objetivo de se tornarem Macrocosmos, e percebem que a melhor maneira de conseguir este fito é dedicarem-se ao serviço dos verdadeiros interesses da Humanidade. Sociedades de forças espirituais, organizadas nestas linhas, dispõem de enormes reservas. O Magista que está, ele mesmo, jurado ao serviço da humanidade pode contar com o mais caloroso auxílio dessas Ordens. A sinceridade delas sempre pode ser assegurada pondo-as ao teste da aceitação da Lei de Thelema. Quem nega que “Faze o que tu queres há de ser tudo da Lei” confessa que ainda está apegado ao conflito em sua própria natureza; ele não é, e não deseja ser, verdadeiro para consigo próprio. A fortiori, ele se provará falso para com você.


[9] Como foi explicado acima, noutra conexão, quem “destrói” qualquer ente deve aceitá-lo, com todas as responsabilidades decorrentes, como parte de si mesmo. O Adepto deste caso foi, portanto, obrigado a incorporar o espírito elemental da moça (ela não era humana, um invólucro de uma Estrela, mas um demônio planetário avançado, cuja a temerária ambição capturara um corpo além de sua capacidade de conduzir) em seu próprio veículo mágico. Ele assim se prontificou a subordinar toda a acessão súbita de qualidades – apaixonadas, caprichosas, impulsivas, irracionais, egoístas, improvidentes, sensuais, inconstantes, doidas, e desesperadas – em sua Verdadeira Vontade; a discipliná-las, coordená-las e empregá-las na Grande Obra, sob pena de ser despedaçado pelos cavalos bravios que ele ligara a seu próprio corpo pelo ato de “destruir” a consciência e controle independentes que eles tinham do veículo por eles escolhido. Veja o Relatório Mágico desse Adepto, An XX, Sol in Libra, e daí em diante.

[10] Exemplos de Rituais para diversos desses fins são dados em Equinox.

[11] Moral: Torne-se um Adeptus Major!

[12] O valor da evidência de que as operações de você influenciaram o curso dos acontecimentos só pode ser medido pela aplicação das leis da probabilidade. O Mestre Therion não aceitaria qualquer caso particular como conclusivo, não importa quão improvável uma coincidência pudesse parecer. Um homem poderia dar um palpite certo numa chance em dez milhões, não menos que numa em três. Se apanhamos um pedregulho do chão, a chance era infinitamente grande contra aquele particular pedregulho; no entanto, qualquer pedregulho que tivéssemos escolhido, a chance teria sido a mesma [N.T.: Isto é um fato matemático importante, que estudantes farão bem em assimilar!]. É necessário que haja uma sequência de eventos antecedentemente improváveis para que possamos deduzir que há desígnio operando, que as mudanças operadas estão sendo causalmente, não casualmente, produzidas. A predição de eventos é outra evidência de que eles estão sendo afetados pela vontade. Assim, qualquer homem pode por acaso executar dez lances consecutivos de bilhar, ou mesmo mais, sem errar, e sem nunca antes ter pegado num taco. Mas o acaso não pode explicar o sucesso análogo, mesmo mais moderado, se a coisa acontece assim, noite após noite. E a habilidade do jogador campeão de anunciar de antemão qual vai ser a sua jogada manifesta um conhecimento das relações de causa e efeito que confirma e testemunha a habilidade empírica dele, e prova que o sucesso dele não é nem chance nem coincidência.

[13] N.T.: Isto é uma alusão à magnífica parábola mágica de Balzac, La Peau de Chagrin, e não uma ameaça contra todos os tios ricos do mundo!...

[14] Esta cínica asserção é um absurdo de Magia Negra.

[15] As únicas gentes capazes de serem úteis ao Magista pertencem a Adeptos que estão jurados a se reencarnarem a curtos intervalos, e os melhores elementos de tais mentes são ligados ao “Ser Inconsciente” do Adepto; não são abandonados para vagarem pelo Plano Astral. Será assim mais lucrativo tentar entrar em contato com o “Instrutor Morto” no presente avatar dele. Além disto, Adeptos se esforçam por registrar seus ensinamentos em livros, monumentos ou pinturas, e designam guardiões espirituais para preservar tais legados através das gerações. Quando tais registros são destruídos, ou se perdem, o motivo usualmente é que o próprio Adepto julga que a utilidade deles terminou, e retirou as forças que o protegiam. O estudante é, portanto, aconselhado aqui a aquiescer; as fontes de informação ao seu dispor foram provavelmente selecionadas para ele pelos Guardiões da Humanidade, tendo em vista as verdadeiras necessidades deles. Devemos aprender a confiar em nosso Sagrado Anjo Guardião como capaz de arranjar as nossas circunstâncias com perícia. Se apenas nos absorvermos no ardor de nossa aspiração a Ele, bem cedo a Experiência nos convence de que Seus trabalhos e Seus caminhos são infinitamente aptos às nossas necessidades.

[16] Veja Dogme et Ritual de la Haute Magie; Dogme, Cap. XIII.

[17] Mesmo as primeiras Iniciações conferem proteção. Compare-se o medo que D.D. Home tinha de Eliphas Lévi (A Chave dos Grandes Mistérios.).

[18] Ocorre em certos casos raros que um grau pouco usual de pureza pessoal, combinada com integridade e força de caráter forneça mesmo o ignorante com certa defesa natural, e atrai à aura deles apenas entidades inteligentes e benéficas. Tais pessoas podem, talvez, praticar o espiritismo sem maus resultados óbvios, e até mesmo com bons resultados, dentro de certos limites. Mas tais exceções de forma alguma invalidam a regra geral, ou servem de argumento contra a teoria mágica delineada acima.

[19] Em Liber Aleph vel CXI o assunto é tratado com sabedoria profunda e abarcante.

[20] Algumas (poucas) formas de exercícios estão isentas destas restrições. O alpinismo, em particular, treina todos os músculos em infinita diversidade de formas. Além disto, compele o praticante a usar seu próprio julgamento, a confiar em si mesmo, a desenvolver resolução, e a depender de sua própria inventividade para enfrentar cada novo problema que se apresenta. Este princípio pode ser estendido a todos os departamentos da educação de crianças. Elas poderiam ser postas em contato com todos os tipos de fatos, e encorajadas a tirarem suas próprias conclusões quanto a esses, sem que a mínima tentativa de influenciar o julgamento delas seja feita. Discípulos mágicos deveriam ser tratados em linhas análogas. Eles devem trabalhar sozinhos desde o início, cobrir o currículo inteiro com imparcialidade, inventar seus próprios experimentos, e tirar suas próprias conclusões.

[21] Isto não entra em conflito com o plano de “vá como queira” apresentado na nota prévia. Um Adepto autocrático é, na verdade, uma benção para o discípulo; não porque ele seja capaz de “guiar bem” o discípulo no particular caminho que se adapta à personalidade deste, mas porque ele pode compelir o principiante a se dedicar a mais rotineira tarefa, e assim adquirir habilidade geral, em vez de se especializar e colher apenas os frutos que lhe agradam ao paladar, até que lhe deem indigestão ou ele enfraqueça por falta de outros elementos nutritivos no organismo.

[22] O Aspirante deveria se lembrar de que ele é um Microcosmo. Universus Sum et Nihil universi a me alienum puto deveria ser seu moto. Ele deveria praticar diariamente viagens no Plano Astral, tomando sucessivamente as seções mais sintéticas, as Sephiroth e os Caminhos. Estes estando bem compreendidos, e um Anjo em cada jurado a guardá-lo e guiá-lo como for necessário, ele deveria iniciar uma nova série de expedições para explorar as subordinadas de cada. Ele pode, então, praticar Subida nos Planos partindo dessas esferas, uma após a outra, sucessivamente. Quando ele estiver familiarizado com os vários métodos de enfrentar emergências inesperadas, ele pode passar a investigação das regiões dos Qliphoth e das Forças Demoníacas. Deveria ser seu fito obter um conhecimento abarcante do Plano Astral inteiro, com imparcial amor à verdade em si mesma; tal como uma criança aprende a geografia do planeta inteiro, se bem que possa nunca tencionar sair de sua terra natal.

[23] Reconsiderando estas afirmações a convite de um leal colega, ele é compelido a admitir que talvez não seja este o caso. É verdade que ele atingiu toda Consecução Mística que é teoricamente possível, enquanto seus poderes em Magia parecem enviesados e imperfeitos. A despeito disto, pode, no entanto, ser que ele compassou o possível. Pois Consecuções Místicas nunca são mutuamente exclusivas; por exemplo, o Trance de Dor não é incompatível com a Visão Beatífica, ou com a “Piada Universal”. Mas em Magia, qualquer Operação barra o operador da consecução de alguma outra. O motivo disto é que o Juramento de qualquer Obra obriga o Magista permanente, no que concerne aos princípios ali enunciados. Veja o Capítulo XVI, Parte I. Além disto, é obviamente possível alcançarmos a essência do que quer que seja sem interferirmos com outras coisas que se obstruem mutuamente. Mas cortar caminho através de terrenos cultivados ou bravios saindo da estrada principal é frequentemente difícil.


[24] Circunstâncias recentes O habilitaram a corrigir estas condições, de maneira que este Livro (qual agora finalmente revisado para publicação) pode ser considerado como praticamente livre de qualquer sério defeito neste ponto.


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