FRAGMENTOS DE ELIPHAS LEVI

O homem que é escravo das suas paixões ou dos preconceitos deste mundo não poderia ser um iniciado; ele nunca se elevará, enquanto nao se reformar; não poderia, pois ser um adepto, porque a palavra adepto significa aquele que se elevou por sua vontade e por suas obras. O homem que ama suas idéias e que tem medo de as perder, aquele que teme as verdades e que não está disposto a duvidar de tudo, antes de admitir qualquer coisa ao acaso, esse deve encerrar tais estudos, que lhes serão inúteis e perigosos; ele o compreenderia mal e ficaria perturbado, mas ficá-lo-ia muito mais se por acaso o compreendesse bem. Se estais preso por alguma coisa ao mundo, mais que a razão, à verdade  e a justiça, se vossa vontade é incerta e vacilante, quer no bem, quer no mal; se a lógica vos espanta, se a verdade vos faz corar; se vos sentis ofendido , quando apontam vossos erros, condenai imediatamente este livro, e, não o lendo, fazei como se não existisse para vós. A razão suprema sendo o único princípio invariável e, por conseguinte, imperecível, pois que a mudança é o que chamamos a morte, a inteligência que adere fortemente e de algum modo se indentifica com este princípio, se torna, por isso mesmo, invariável, e , por conseguinte imortal. Compreende-se que para aderir invariavelmente a razão, é preciso ter-se tornado independente de todas as forças que produzem, pelo movimento fatal e necessário, as alternativas da vida e da morte. Saber sofrer, abster-se e morrer, tais são os primeiros segredos que nos põem acima da dor e do temor do nada. O homem que procura e acha uma gloriosa morte tem fé na imortalidade, e a humanidade inteira crê nela com ele e por ele, porque ela lhe eleva altares em sinal da vida imortal. O homem torna-se rei, dominando suas paixões, que são as forças instintivas da natureza. O mundo é um campo de batalha que a liberdade disputa à força da inércia, opondo-lhe força ativa. As liberdades físicas são mós de que sereis o grão, se não souberdes ser o moleiro. Aquele que aspira ser um sábio e a saber o grande enigma da natureza deve ser o herdeiro e o espoliador da esfinge; deve ter a sua cabeça humana para possuir a palavra, as asas de águia para conquistar as alturas, os flancos de touro para cavar as profundezas, e as garras de leão para preparar lugar para si à direita e à esquerda, adiante e atrás. Vós, pois quereis ser iniciado, sois tão sábio como Fausto? Sois impassível como Jó? Não, não é verdade? Mas vós o podeis ser, se o quiserdes. Vencestes os turbilhões dos pensamentos vagos? Sois sem indecisões e caprichos? Não aceitais o prazer quando quereis, e não o quereis só quando o deveis? Não, não é verdade? Não é sempre assim? Mas isso pode ser se o quiserdes. Aprender a vencer-se é, pois aprender a viver, e as austeridades do estoicismo não eram uma vã ostentação a liberdade! Ceder às forças da natureza é seguir a corrente da vida coletiva, é ser escravo das causas segundas. Resistir à natureza e dominá-la é fazer para si mesmo uma vida pessoal imperecível, é libertar-se das vicissitudes da vida e da morte. Todo homem que está pronto a morrer ao invés de abjurar a verdade e a justiça, é verdadeiramente vivente, porque é imortal em sua alma.


"A vida se prova pelo movimento, o movimento se opera e se conserva pelo equilíbrio, o equilíbrio no movimento é a partilha e a igualdade relativa nas impulsões alternadas e contrárias da força; há pois, partilha e direção contrária alternada na força; a substância é como vo-la o primeiro dia, a força é dupla como vo-la revela a segunda luz e esta força dupla nas suas impulsões recíprocas e alternadas, constitui o firmamento ou a consolidação universal de tudo o que se move conforme as leis do equilíbrio universal. Vêdes estas duas forças funcionarem em toda a Natureza. Elas repelem e atraem, agregam e dispersam. Vós as sentis em vós, porque experimentais a necessidade de atrair e irradiar, conservar e espalhar. Em vós, os instintos cegos são equilibrados pelas previsões da inteligência; não podeis negar que isto seja, ousai, pois afirmar que isto existe e dizei: - Quero que o equilíbrio se faça em mim e o equilíbrio se fará e eis que o vosso segundo dia é a revelação do binário. Distingui agora estes poderes, para melhor uní-los, a fim de que eles se fecundem reciprocamente; regai as terras áridas da ciência com  as águas vivas do amor; a terra é a ciência que se elabora e se mede, a fé é imensa como o mar. Oponde os diques às enchentes, porém não impedí-lhe de levantar suas nuvens e derramar a chuva na terra. A terra será então fecundada , a ciência árida verdejará e florescerá . Infelizes daqueles que temem a água do céu  e que quereriam encobrir a terra sob um véu de zinco. Deixai germinarem as esperanças eternas, deixai florescerem as crenças ingênuas, deixai crescerem as grandes árvores. Os símbolos crescem como os cedros, fortificam-se como os carvalhos e trazem em si mesmos a semente que os reproduz. O amor revelou-se na natureza pela harmonia, o triângulo sagrado faz brilhar a sua luz, o número tres completa a divindade, quer em teu ideal, quer no conhecimento transcendente de si mesmo. Tua inteligência tornou-se mãe, por que foi fecundada pelo gênio da fé. Levanta os olhos e contempla o céu.  Vê o esplendor e a regularidade dos astros. Toma o compasso e o telescópio e sobe de prodígio em prodígio, calcula a volta dos cometas e a distância dos sóis, tudo isto se move conforme as leis de uma hierarquia admirável. Toda esta imensidade cheia de mundos absorve e ultrapassa todos os esforços da inteligência humana. E os planetas e sóis em suas órbitas refletem o céu como uma máquina imensa que não pensa, mas que certamente revela e reproduz o pensamento. Os quatro pontos cardeais , os equinócios e solistícios, o oriente e o ocidente, estão no seu posto como sentinelas e nos propõem um enigma a adivinhar: as letras do nome de Jeová ou as quatro formas elementares e sombólicas da velha esfinge de Teba. Antes que aprendas a ler, ousa a crer e declarar que há um sentido oculto nessas escrituras do céu. A mosca que zune, volteja e pousa onde quer, a minhoca que se arrasta à vontade pelas margens úmidas, têm alguma coisa de mais surpreendente que os sóis, porque são autônomos e não se movem como as rodas de um mecanismo fatal. O peixe é livre e se regozija na onda. O pássatro atravessa os ares, dirigindo-se à vontade, procura a árvore ou a parede em que fará seu ninho, pousa num galho e canta, vai depois para a busca de folhagens e ervas e cuida do nascimento dos seus filhotes.  Será que ele pensa ou alguém que pensa por ele? Duvidarás da inteligência dos mundos, duvidarás da dos pássaros? Porém, o céu não é escravo, é submetido  a leis admiráveis que podes compreender e as quais os sóis obedecem sem ter necessidade de conhecê-las. Tendes a inteligência do céu e, com este título, és mais imenso que o próprio céu. És tu o Criador e o reguldor dos mundos? Não; este criador é sem dúvida, outro; porém és o seu confidente e, por assim dizer, coadjutor. Não negues a teu Senhor; pois seria negar a ti mesmo, filho de Copérnico e de Galileu. Podes criar com eles o céu da ciência; filho do criador desconhecido, olha estes milhares de universos que vivem na imensidão celeste e inclina-te diante da soberana inteligência do teu PAI.







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